O Oriente Médio é palco de conflitos entre povos desde a Antiguidade, possuindo relatos em diversos textos de diferentes nações, inclusive na própria bíblia. Os séculos passaram, mas o local permanece em constante atrito. Dentre os conflitos ali presentes gostaria de chamar a atenção para a guerra na Síria, pois não trata-se apenas de um confronto entre dois lados antagônicos que disputam o poder. Existe muito mais em jogo.
Até então as guerras caracterizavam-se, de um modo geral, por somatórias de forças em disputa no campo de batalha, como se fossem dois grandes vetores opostos em rota de colisão a fim de medir sua influência bélica para atingir determinado objetivo. Desse modo, os envolvidos no confronto formavam alianças até restar apenas dois lados dos quais resultaria em um lado vencedor e em outro derrotado. Daí tira-se a alusão da eterna luta entre o bem e o mal, na qual o perdedor se submete à superioridade do seu inimigo. A geopolítica é um grande jogo de interesses em que cada nação move as suas peças como em um jogo de xadrez com o intuito de atender às suas próprias vontades, separando os demais em dois grupos: amigos/aliados e adversários/inimigos. Essa distinção pode ser feita em diferentes cenários, seja político, militar ou mesmo econômico. Afinal, é natural que o ser humano aja de acordo com os seus desejos.
Entretanto, o que se nota na guerra da Síria é a disputa de três interesses distintos, formando um triângulo bélico cujas extremidades se confrontam mutuamente: em um dos lados do triângulos temos o exército do governo sírio Bashar al-Assad, apoiado pelo exército russo de Vladimir Putin; no outro lado do triângulo temos os rebeldes sírios inspirados pela Primavera Árabe e apoiados por grande parte dos países ocidentais europeus e, sobretudo, pelos norte-americanos de Barack Obama; por fim temos os terroristas que se auto intitulam de Estado Islâmico, que pretendem criar um califado na região, movidos por seu fanatismo religioso. Além disso temos a Turquia que hora tende aos russos, hora tende aos norte-americanos, hora combate os terroristas e hora combate as etnias minoritárias divergentes nas fronteiras do país, contando com um presidente que vem agindo de modo totalitário desde a tentativa de golpe em julho deste ano.
Além dos três lados do triângulo, existem os meios internos e externos. No meio interno de todo esse conflito triangular está a população síria que a cada dia que passa aumenta as estatísticas de refugiados, mortos e feridos. São inocentes civis cansados da guerra que já dura mais de cinco anos e que vem destruindo cidades, famílias, vidas e a esperança daqueles que sobrevivem ao massacre diário de metralhadoras e bombas. No meio externo está o restante do mundo que assiste a tudo de modo parcial ou imparcial. São pessoas, nações e organizações que não estão envolvidos diretamente no conflito (mas que podem tomar parte de um dos lados de forma inerte).
Desse modo, a guerra na Síria inova em termos globais com um jeito diferente de fazer guerra e esse não é um motivo de orgulho. Não posso afirmar que seja a primeira vez que um conflito nesses moldes se desenhe, mas não me recordo de algo parecido em nível internacional e com a magnitude em que acontece, reaquecendo a chamada Guerra Fria que, para muitos, havia sido extinta com o fim da União Soviética em 1991.
A única certeza que tenho é que dessa guerra de múltiplos lados e diferentes faces, ninguém sairá como vencedor, mesmo que assim se proclame. Afinal, nos livros de história aparecem muitas vitórias bélicas de países, mas na verdade o que fica para as pessoas (independente do lado) é recolher os cacos para tentar a reconstrução, não importando qual bandeira seja hasteada por último.