Característica marcante da sociedade pós-moderna são os riscos embutidos em cada elemento do cotidiano. Seja no estilo de vida fragmentado (oriundo da divisão moderna industrial) ou na revolução tecnológica, a cada dia há novas formas de expressão e transformação que alteram hábitos, tempo e espaço. A ameaça mundial contida na bipolarização que marcou o século XX continua acrescida da ameaça do consumismo globalizado e consequente enfraquecimento do Estado-nação.
O medo sempre foi um sentimento presente, o diferencial da atualidade são os riscos inerentes de cada ato. Sociedade de risco foi o termo utilizado pelo sociólogo Ulrich Beck para descrever um sistema repleto de perigos e inseguranças induzidos pelo próprio processo de modernização tendo a sua consequência na contemporaneidade. Uma sociedade estruturada em reações, pois as ações podem ser graves e desastrosas. Como exemplos é possível citar a nuclearização, robotização (inteligência artificial), aquecimento global (degradação do meio ambiente), manipulação genética, controle de instituições (vigilância e monitoramento), agrotóxicos, descarte de resíduos, entre outros.
O aparente negativismo no pensamento do autor se traduz por meio da realidade nua e crua. A produção descontrolada da riqueza é acompanhada pela produção social de riscos como um efeito colateral. A cadeia alimentar social é simples: se não produz não vende; se não vende não contrata; sem emprego não há recursos; sem recursos Estado e sociedade ficam estagnados; estagnados há uma perda na qualidade de produtos e serviços; sem qualidade há um retrocesso de vida e queda no desenvolvimento humano; sem motivos para viver e melhorar tem-se a indiferença e anomia. O processo converte-se a si mesmo, um ciclo como uma bola de neve.
O risco está na dependência do Estado para com o sistema. O risco está na dependência da sociedade para com o Estado. O risco está na desconfiança entre as pessoas. O risco está na dependência da tecnologia e na demanda por uma alta produtividade sendo que os recursos primários (matéria-prima básica) são limitados (escassos) e em alguns casos já estão se esgotando. O melhor não é mais sinônimo de qualidade, mas sim aquilo que pode evitar algo pior.
Se antes, segundo Beck, havia a solidariedade da carência e esperança no futuro mesmo diante das dificuldades enfrentadas, o que se nota hoje é a solidariedade pelo medo, uma burocratização típica dos tempos de Weber e uma apatia que condiz com a falta de reconhecimento descrita por Honneth e demais pensadores da Escola de Frankfurt.
A democracia que não é democrática flerta perigosamente com a oligarquia no âmbito político e oligopólios no âmbito econômico. Poucas estruturas de mobilização factíveis remetendo a um sistema de castas tal como na Índia. A demagogia parece se encaixar melhor no contexto cibernético vigente em que todos querem falar sem ter o que ser dito. Todos falam (muitas vezes sem pensar), todos querem ter razão (especialistas de nada), mas poucos ainda sabem ouvir e respeitar.
O básico representado pela tríade de educação, segurança e saúde é deixado de lado. O passado é esquecido, a história é acusada de traição ideológica. Todos são inimigos e culpados pelo simples fato de discordar. A igualdade passa a ser a autopreservação em detrimento da sociabilidade. Perto tecnologicamente (online na rede), mas longe um do outro quando estão fisicamente lado-a-lado. Mais uma contradição inerente ao neoliberalismo desenfreado e selvagem. Afinal, ganha quem tiver o saldo maior, ganha quem tiver a conta mais recheada de cifrões, seja euro, dólar ou real. Ao final, todos perdem.