terça-feira, 24 de março de 2020

Reflexão sobre a crise da crise da crise

Covid cava covas
Mas não é o único
Crise da crise da crise
Falta ar!
Quisera acreditar em mera fantasia
Sem rastros, sem vestígios
Velório interrompido
Faltam testes, faltam kits
Flexibilização trabalhista na calada da noite
A chama da fé continua acessa
Esperança por dias melhores
Quantos curados? Quantos feridos?
A cada manhã um novo número de óbitos
A realidade se impõe
Sem ilusões
Casos confirmados
Contradições
Fuga de debates, fuga de entrevistas
Silêncio...
Os médicos cubanos são mais do que bem-vindos
O mundo abre os braços para o desconhecido
Aceita a ajuda mesmo mantendo as restrições
A piada mora em Brasília
Mesmo sobrenome de família
Política do pão e circo
Panelas na hora da janta
Barulho ao invés de comida
Despreparo, desgoverno
Ânsia, enjoo
Sintomas de um caso sério de desrespeito
Contaminação, colapso
Aplausos para os profissionais de atividades essenciais
Doações fazem a diferença
Empatia
Dias de luta
O pulso ainda pulsa
O coração ainda bate
Respire fundo...
Juntos venceremos!

Covid cava covas
Mas não é o único
Preço de máscaras em alta
Pessoas doentes precisando de atenção urgente
Corrida aos mercados, fila furada
Corrupção só de políticos?
O egoísmo em detrimento do coletivo
Enquanto isso tem gente falecendo
Hospitais lutando para pagar os insumos
Um soco no estômago
Ganância que mata
Pedidos de privatização do país
Mas quando a crise chega todos correm para o Estado
Corrupção de engravatados em busca de lucro
Mesmo quando o assunto é a saúde pública
Sugando o povo até o último suspiro
Falta de ar, não é difícil sentir
E os trabalhadores?
Falta álcool em gel nas prateleiras por aqui
Vai passar...
O medo do capital fala mais alto do que o abrigo a quem precisa
Moradores de rua mesmo com moradias vazias
Tapa nas costas ao invés de mãos estendidas
Crise da crise da crise


Covid cava covas
Mas não é o único
Funcionários da saúde exaustos
O desafio está apenas começando
Líderes prudentes preocupados
Enquanto isso a milícia ocupa o assento principal
Qual será o novo decreto presidencial?
Discursos sem sentido
Poder Executivo novamente corrompido
Levando outro palhaço para dar entrevista no Planalto Central
Brincadeira de mal gosto
Há quem alegue mentira
Um falso messias
Fantasia? Comigo não
Infecção
Culpa da mídia, fake news?
Rodeado de testes positivos
O pior cego é aquele que não quer ver
Gripezinha e histeria?
Falta de ar que está mais para pneumonia
Pandemia que mata todos os dias
Crise da crise da crise
Pesquisadores e cientistas
Trabalho de formiguinha
União
Se o problema fosse só estocar vento...
Venceremos!

Comitê de Crise de Itapeva avisa que há 3 casos suspeitos de COVID-19 na cidade 1

Covid cava covas
Mas não é o único
Ora, ora, ora
Empresários neoliberais pedindo auxílio para o Estado
Neoliberais?
O capital e suas crises
Não há equilíbrio com o lucro
Falta o principal
Falta se importar com as pessoas
A lei de mercado não é suficiente
Nunca foi, nunca será
Pois é necessário que muitos percam para outrem ganhar
Não me venha falar em meritocracia sem igualdade de oportunidades
Um berço de ouro, um colo do papai
Eduardo Bananinha quer arrumar briguinha
Viagens constantes para os Estados Unidos
Quem paga a conta?
Alinhamento automático irracional
Submissão regional
Apontando o dedo sujo para os asiáticos pela pandemia
Mal se lembra do polo propagador do Zika Vírus
Procurando culpados, não soluções
Intolerância, ignorância
Falso herói nacional vestido de Tio Sam
Mais para patético do que patriótico
Mamata? Mito? Minto
Mugidos que ainda ecoam
Um grito uníssono que ganha força
Gado! Gado! Gado!
E assim o pasto vai se esvaziando
Lambendo a solo do sapato da burguesia
Enquanto o circo pega fogo
Crise da crise da crise
Venceremos!


Covid cava covas
Mas não é o único
A informalidade só aumenta
Uma eterna corrente capitalista
Que esgota os recursos e os espaços
Desfazendo laços
Depois se muda sem deixar saudades
Deixando um rastro de indiferença
Sempre pronto para ocupar o próximo território
Se o problema fosse só uma pessoa...
Nessas horas não há fronteira
Voto de protesto com um alto custo
Governando para poucos apoiadores acéfalos
Ainda não perceberam que estamos no mesmo barco
E o barco está furado, afundando
A água está no pescoço
Fuzil não combate vírus
Não adianta fazer arminha
Dinheiro não compra bom senso
É preciso assumir os próprios atos e suas consequências
Quem é o inimigo agora?
Covid cava covas
Mas não é o único...
Crise da crise da crise
Falta ar
Venceremos!

terça-feira, 17 de março de 2020

Reflexão sobre a pandemia

Um surto em Hubei
De repente a capital Wuhan encontrou-se em quarentena
Cidade fantasma, sem vida
Um espaço transformado em paisagem em poucos dias
As divisas geográficas podem ser físicas ou imaginárias
De qualquer modo não contêm a propagação do vírus
E o que estava localizado e aparentemente restrito
Se espalhou por todo um país
O surto virou epidemia, atacou o povo da China
Propagação pelo leste asiático
A urgência não espera
Redes conectadas, globalização contemporânea
Trânsito de carros, trânsito de pessoas
A lotação é a fonte do contagio
Um avião da classe média alta rumo ao velho continente
A burguesia é o verdadeiro parasita
Logo a Europa entrou em apuros
Restrições, medo, agitação, ansiedade, desespero
Adjetivos nem sempre são positivos
Alívio ao receber o teste negativo
Acúmulo de mercadorias (nada de novo)
Estoque de validades vencidas
Todos têm um prazo
A vaidade do primeiro mundo diminuída a um vírus
Fronteiras fechadas (nada de novo)
Muito além da xenofobia
Itália, Espanha, Hungria
Mas agora as portas estão fechadas para todos
A epidemia viralizou, transformou-se em pandemia
Em todos os continentes do mundo
Relações líquidas
Tem gente pensando só na economia
E a vida?
Lojas fechando, indústrias falindo
E a vida?
A culpa é do outro
Mais uma crise cíclica
As redes estão paralisadas
Os jogos estão paralisados
Os beijos, os abraços...
Devoção ao trabalho
E a vida?
Capital parasita
O café que esfria na xícara
Os idosos isolados, esquecidos, afastados
A idade não espera
Sem visitas
E as vidas?
E as dívidas?
Ônibus lotado, ruas vazias
Os corpos contaminados se acumulam
Chegou no Brasil, era só uma questão de tempo
Um país sem presidente
Incentivando a irresponsabilidade social
A sociedade é feita de pessoas, mas também de gado
Rotina alterada, escolas fechadas
Elevação nos preços, elevação no dólar
Eles só pensam em números
E a vida?
Doença quase invisível, mas tem nome
Covid-19
Talvez pudesse se chamar desemprego ou fome
Trancado em poucos metros quadrados
Até quando a sanidade suporta?
Os casos se multiplicam
Efeito dominó da exaustão
Já estávamos doentes antes do vírus chegar
Máscaras na vitrine, desfile de cadáveres
Casos reais, mas tem gente achando que é brincadeira
Corona! Corona! Corona!
Falta de ar
Um último suspiro
Só assim para abrir os olhos
Qual será a desculpa da vez?
Vacina é tecnologia, mas há teto para a saúde e educação
A velha teoria da conspiração
Quem estenderá as mãos quando o resultado der positivo?
Queda de peças, todos estão no tabuleiro
Filas nos mercados, tensão nos hospitais
Enquanto isso prisioneiros fogem das cadeias
Os verdadeiros assassinos estão soltos
O trabalhador permanece preso
Mudanças de hábitos e de comportamento
E de repente a ficha caiu
Do que vale tanta correria todos os dias
Se no final de cada filme os protagonistas morrerão?



domingo, 1 de março de 2020

Reflexão sobre a construção da negação

Não!
Tão curto quanto sim
Mais complexo
Pois a aceitação passiva é o que eles querem
Quem? Você sabe a resposta
Abaixar a cabeça e sempre dizer sim
Não!
Nem sempre é fácil continuar
Seguir em frente
Nadar contra a corrente
Correntes que prendem sem maré
Verdadeiros grilhões de gente
Uma vivência sem ser vivida
Sufocada
É preciso aprender
Não!
É preciso dizer não
Pois nem só de amor se constrói uma nação
A submissão é o x da questão
Não!
Um ser humano não se forma apenas com sim
Preocupação com desprezo? Aceitação?
Não!
Palavra carregada de estigmas, curta sem ser simples
Não sem ser vulgar
Expressão de uma opinião
Uma reflexão diante da multidão
Não!
Às vezes tão difícil de dizer
Cai no esquecimento
É mais fácil aceitar
Deixar como está
Sim, sim, sim, sim...
Não senhor! Não senhora!
Não!
Palavra temida, mistificada
Desde criança programada a dizer sim
Sim na escola, na casa, no trabalho, na igreja
Mas a negação também constrói
Quando aprender a dizer não?
Qual a melhor hora, o melhor lugar antes que seja tarde?
Não se trata de uma balança de valores, mas de realidade
Pois se o amor e o sim deixam sementes, a negação também
O não também constrói
O não ao que nos faz mal
Não aos privilégios
Não às injustiças
Não à voz autoritária da violência
Não ao não atendimento
Sim, a negação também edifica
Dá coragem, cria asas
Liberdade, igualdade e fraternidade
Livre-arbítrio
Temos mesmo escolhas livres e oportunidades iguais?
Uma democracia que permite escravidão
Não!
Assim como o amor, o ódio também pode construir
Ódio aos que brincam com a vida alheia
Ódio aos que maltratam animais
Ódio aos que usam e abusam dos outros
A repulsa como formação de caráter
Não é preciso agredir ninguém
Não é preciso sangrar para sorrir
Só não podemos nos esquecer
Não podemos deixar de cobrar e nos indignar
Um remédio à indiferença, às desigualdades
Uma forma de extravasar para não implodir
De dentro para fora, de fora para dentro
Não, como vontade própria
Uma revolta? Uma revolução?
Ou então seguir com a massa
Quantas cabeças de gado?
Não!
Sem concordância com justificativa
A negação também constrói
Longe da perfeição divina
Apenas humanos na dura realidade do dia-a-dia
Sem romantismo
Como crianças no berçário ou anjos enjaulados
Sem narrativas ou pós-verdade
Apenas as coisas como são
Não!
Pois a construção cidadã passa por essa via
Para não aceitar qualquer porcaria
A negação é construtiva
É preciso aprender a dizer não!
Não!