Tenho a sensação, nesses últimos meses, de estar em queda livre junto com o país. Quantos amigos mandados embora nessa semana e quantos mais serão? A cada dia o caos chega mais perto da porta de casa e sinto uma agitação na sociedade como se fosse uma bomba prestes a explodir. Enquanto isso, Brasília continua com as mesmas falas, discursos ensaiados antes mesmo de chegar ao poder, como o caso do presidente interino. Os erros da administração pública se repetem e quando penso estar no fundo do poço, repentinamente o governo do Rio de Janeiro decreta estado de calamidade pública. Talvez o apocalipse seja o colapso mundial presente nos quatro cantos do mundo na atualidade. E o que mudou de fato? Afinal, o dinheiro continua falando mais alto e a verba que volta aos cofres públicos não é nem metade daquela que foi desviada. Como sempre, o lucro pessoal em primeiro lugar.
Novas eleições se aproximam, mas é impossível não se sentir sujo em meio à lama. Votar em qual plataforma se a própria constituição nos condena à sujeira do capitalismo? O desprezo para com o comunismo deve ser o mesmo aos capitalistas. O projeto de terceirização é de assustar qualquer trabalhador. A força do trabalho perde valor e a mais valia se acumula nos bolsos dos grandes empresários. É a exploração moderna, é a escravidão que não cessa. O sistema vigente é aquele que interessa aos que detêm o poder e se política é a busca pelo poder, então a democracia está morta. Se o voto é obrigatório, então por que limitar a candidatura à filiação partidária? Se o voto é de todos então por que não há a disciplina de ciência política nas escolas? Pelo simples fato de não interessar à elite nacional. Toda essa discussão sobre democracia, seja de esquerda ou seja de direita, é irrelevante, pois ambas as partes não estão interessadas no poder na mão do povo. Eles querem apenas a opinião pública do lado para arrecadar mais votos em outubro.
E no meio do combate à corrupção surge uma aliança dos caciques dos principais partidos políticos para barrar a Lava Jato. É como diz o ditado das guerras: o inimigo do meu inimigo é meu amigo. A pergunta que me faço é quando entraremos de fato nessa guerra? Paralisar vias públicas traz mais dor de cabeça à sociedade do que ao Estado. Quando iremos bater na porta das Câmaras Municipais, Assembleias Estaduais e do próprio Congresso Nacional? O Estado de Direito não existe quando o mesmo não é comandado pelo Judiciário. E entre os candidatos à presidência, vices, presidente da Câmara e do Senado, eu prefiro os ministros do Supremo Tribunal Federal.
Estamos na pior devido ao pensamento individualista oriundo do sistema capitalista. E isso envolve todos os países e todas as classes. É o cidadão que quer furar a fila em benefício próprio, é o legislador que cria leis pensando em cartéis industriais ao invés de legislar para o povo. Um bom exemplo disso é a indústria bélica internacional, que dita as novas guerras. Afinal, de acordo com o raciocínio "lógico" do capitalismo, a guerra é um mal necessário que traz lucro e avanços tecnológicos. Então diga isso aos familiares dos inúmeros mortos em batalha. O sistema leva ao extremismo, seja religioso, racial ou mesmo nacionalista. E assim trabalhamos para satisfazer os senhores feudais contemporâneos, trocando o tempo de nossas vidas por espelhos. O que você vê de frente para o espelho?
A importância da nação e do indivíduo é feita pelo o que ele tem. Não importa quem você é, nem o que você faz. Tendo dinheiro tudo é passivo de ser esquecido. Enquanto isso os tributos não param de chegar e os direitos diminuem na mesma proporção que os deveres aumentam. Ninguém perguntou a minha opinião; sendo assim, não faço parte desse contrato social. O desemprego não para de aumentar e as pessoas estão ficando cada vez menos pacientes e mais agitadas. Quando essa agitação vai estourar? E quando isso acontecer não quero estar por perto. Apenas devemos deixar bem claro que isso não é anarquia e sim o capitalismo e suas consequências.
A sociedade capitalista globalizada é a política por meio do dinheiro. O dinheiro é a base do lucro. O lucro é o poder a qualquer preço. O preço é a submissão de toda uma sociedade. Sociedade é o conjunto de pessoas com características culturais semelhantes dentro de um determinado território. Território é a conquista do espaço por meio da força. Força é o poder coercitivo que leva à guerra. Guerra é a continuação da política capitalista por outros meios. Não adianta tapar o sol com a peneira, basta abrir os olhos. Cada vez nossa liberdade diminui com o aumento da violência. Trancados na própria casa, refém dos que não cumprem as leis. Muitos entendem capitalismo como liberdade, então me pergunto onde ela está. E quanto à igualdade e fraternidade? O sistema faz com que o poder seja corrompido e com que valores éticos sejam esquecidos. Do que vale o seu intelecto se a servidão a terceiros pode ser mais rentável e lucrativa? E assim o ser humano aceita a sua escravidão, pois terá um salário suficiente para sobreviver com o seu carro ou sua televisão nova. Que se faça a alienação.
Vivemos em uma sociedade de aparências em que vemos o mundo com os olhos alheios. Nosso ser passa a ser secundário, objetivando o status que só o capital pode nos dar no sistema atual. Desse modo concluo, refletindo que vivemos em um teatro de ilusões. Em uma alusão à Alegoria da Caverna de Platão, enxergamos apenas a falsa realidade trazida pela sombra externa.