sábado, 18 de junho de 2016

Reflexão sobre a sociedade capitalista globalizada

Tenho a sensação, nesses últimos meses, de estar em queda livre junto com o país. Quantos amigos mandados embora nessa semana e quantos mais serão? A cada dia o caos chega mais perto da porta de casa e sinto uma agitação na sociedade como se fosse uma bomba prestes a explodir. Enquanto isso, Brasília continua com as mesmas falas, discursos ensaiados antes mesmo de chegar ao poder, como o caso do presidente interino. Os erros da administração pública se repetem e quando penso estar no fundo do poço, repentinamente o governo do Rio de Janeiro decreta estado de calamidade pública. Talvez o apocalipse seja o colapso mundial presente nos quatro cantos do mundo na atualidade. E o que mudou de fato? Afinal, o dinheiro continua falando mais alto e a verba que volta aos cofres públicos não é nem metade daquela que foi desviada. Como sempre, o lucro pessoal em primeiro lugar.

Novas eleições se aproximam, mas é impossível não se sentir sujo em meio à lama. Votar em qual plataforma se a própria constituição nos condena à sujeira do capitalismo? O desprezo para com o comunismo deve ser o mesmo aos capitalistas. O projeto de terceirização é de assustar qualquer trabalhador. A força do trabalho perde valor e a mais valia se acumula nos bolsos dos grandes empresários. É a exploração moderna, é a escravidão que não cessa. O sistema vigente é aquele que interessa aos que detêm o poder e se política é a busca pelo poder, então a democracia está morta. Se o voto é obrigatório, então por que limitar a candidatura à filiação partidária? Se o voto é de todos então por que não há a disciplina de ciência política nas escolas? Pelo simples fato de não interessar à elite nacional. Toda essa discussão sobre democracia, seja de esquerda ou seja de direita, é irrelevante, pois ambas as partes não estão interessadas no poder na mão do povo. Eles querem apenas a opinião pública do lado para arrecadar mais votos em outubro.

E no meio do combate à corrupção surge uma aliança dos caciques dos principais partidos políticos para barrar a Lava Jato. É como diz o ditado das guerras: o inimigo do meu inimigo é meu amigo. A pergunta que me faço é quando entraremos de fato nessa guerra? Paralisar vias públicas traz mais dor de cabeça à sociedade do que ao Estado. Quando iremos bater na porta das Câmaras Municipais, Assembleias Estaduais e do próprio Congresso Nacional? O Estado de Direito não existe quando o mesmo não é comandado pelo Judiciário. E entre os candidatos à presidência, vices, presidente da Câmara e do Senado, eu prefiro os ministros do Supremo Tribunal Federal.

Estamos na pior devido ao pensamento individualista oriundo do sistema capitalista. E isso envolve todos os países e todas as classes. É o cidadão que quer furar a fila em benefício próprio, é o legislador que cria leis pensando em cartéis industriais ao invés de legislar para o povo. Um bom exemplo disso é a indústria bélica internacional, que dita as novas guerras. Afinal, de acordo com o raciocínio "lógico" do capitalismo, a guerra é um mal necessário que traz lucro e avanços tecnológicos. Então diga isso aos familiares dos inúmeros mortos em batalha. O sistema leva ao extremismo, seja religioso, racial ou mesmo nacionalista. E assim trabalhamos para satisfazer os senhores feudais contemporâneos, trocando o tempo de nossas vidas por espelhos. O que você vê de frente para o espelho?

A importância da nação e do indivíduo é feita pelo o que ele tem. Não importa quem você é, nem o que você faz. Tendo dinheiro tudo é passivo de ser esquecido. Enquanto isso os tributos não param de chegar e os direitos diminuem na mesma proporção que os deveres aumentam. Ninguém perguntou a minha opinião; sendo assim, não faço parte desse contrato social. O desemprego não para de aumentar e as pessoas estão ficando cada vez menos pacientes e mais agitadas. Quando essa agitação vai estourar? E quando isso acontecer não quero estar por perto. Apenas devemos deixar bem claro que isso não é anarquia e sim o capitalismo e suas consequências.

A sociedade capitalista globalizada é a política por meio do dinheiro. O dinheiro é a base do lucro. O lucro é o poder a qualquer preço. O preço é a submissão de toda uma sociedade. Sociedade é o conjunto de pessoas com características culturais semelhantes dentro de um determinado território. Território é a conquista do espaço por meio da força. Força é o poder coercitivo que leva à guerra. Guerra é a continuação da política capitalista por outros meios. Não adianta tapar o sol com a peneira, basta abrir os olhos. Cada vez nossa liberdade diminui com o aumento da violência. Trancados na própria casa, refém dos que não cumprem as leis. Muitos entendem capitalismo como liberdade, então me pergunto onde ela está. E quanto à igualdade e fraternidade? O sistema faz com que o poder seja corrompido e com que valores éticos sejam esquecidos. Do que vale o seu intelecto se a servidão a terceiros pode ser mais rentável e lucrativa? E assim o ser humano aceita a sua escravidão, pois terá um salário suficiente para sobreviver com o seu carro ou sua televisão nova. Que se faça a alienação.

Vivemos em uma sociedade de aparências em que vemos o mundo com os olhos alheios. Nosso ser passa a ser secundário, objetivando o status que só o capital pode nos dar no sistema atual. Desse modo concluo, refletindo que vivemos em um teatro de ilusões. Em uma alusão à Alegoria da Caverna de Platão, enxergamos apenas a falsa realidade trazida pela sombra externa. 


domingo, 5 de junho de 2016

Reflexão sobre a estadania

É de esgotar qualquer cidadão as notícias sobre corrupção na política. Esse poço parece não ter fim. Se por um lado o poder judiciário ganha destaque como nunca antes visto em nosso país, fazendo valer a Constituição através da Lava Jato e outras operações, por outro temos a real dimensão da sujeira instaurada nos poderes legislativo e executivo. Políticos de todos os partidos são citados como beneficiários em atividades suspeitas. No caso do legislativo, ao invés de criar leis para o bem público foram criadas propinas com o dinheiro público. No caso do Executivo, ao invés de executar a lei visando o bem estar social, eram executadas demandas para o interesse próprio e privado. Mesmo assim, caciques como Eduardo Cunha, Renan Calheiros e tantos outros continuam no poder. Em um momento conturbado como este, em que tanto se fala em democracia e cidadania, me questiono se não seria o caso de classificar como estadania.

Primeiro vamos conceituar cidadania, que é a soma dos direitos civis (liberdade de expressão), políticos (participação pública) e sociais (serviços sociais dignos e justos). Com isso, temos um contexto em que o cidadão é o dono do poder e governa, através dos seus representantes eleitos. Então nos perguntamos, por meio de comparação, o motivo pelo qual essa cidadania democrática não funciona no Brasil. Temos que ter em mente que a forma histórica de como a nação foi construída é diferente de países com os quais pretendemos comparar, como França e Estados Unidos. Há ausência de uma cultura enraizada na sociedade brasileira, onde sempre houve e continua existindo uma excessiva concentração de força no Estado. Daí o termo estadania.

Os princípios fundamentais de igualdade são postos à prova quando favorece políticos com foro privilegiado. Desse modo, nem a justiça é tão justa assim. Em uma democracia, as leis deveriam favores a maioria. Porém, aqui parece haver uma inversão de valores onde a democracia privilegia uma elite oligárquica que há muito está no poder. No sistema presidencialista em que vivemos, o presidente é visto como uma figura paterna onde o poder executivo parece estar acima dos demais. Um bom exemplo está na "reforma" prometida pelo então presidente interino Michel Temer, onde em plena crise econômica o mesmo cria 14000 novos cargos. Na crise o primeiro corte é o famoso cafezinho, mas será que ninguém vê a gravidade em que estamos metidos?

O Estado, com toda a sua soberba, continua a pagar altos salários, prevendo aumentos exorbitantes para secretários, deputados, vereadores, senadores e tantos outros. Enquanto isso, a máxima de sempre prevalece: aumento de impostos para o trabalhador sem nenhuma melhoria. Muito pelo contrário, o sistema público encontra-se em colapso. Basta ver o caos na segurança nacional e no sistema de saúde. Nesse ponto tomo como exemplo o Estado do Rio de Janeiro. O maior legado para os eventos internacionais como a Copa do Mundo e as Olimpíadas está no bolso dos organizadores. E quanto ao povo? Bem, o povo continua sem atendimento nos postos de saúde, continua morrendo por balas perdidas, continua sendo escravo do trabalho (pois trabalha para tentar sobreviver ao invés de trabalhar para atingir seus sonhos) e continua sofrendo abusos, como o caso do estupro coletivo.

O Estado parece alheio a tudo isso, não cumprindo com a sua missão de servir ao cidadão. O Estado é a perda parcial da liberdade dos seus cidadãos para garantir uma vida digna e com qualidade. A estadania encontra-se no nepotismo, no dólar escondido na mala, na propina por vantagens, na submissão do povo ao Estado, esse último detentor do direito da violência. A estadania está na política pelo interesse próprio, na votação do próprio aumento enquanto a população luta para ter o mínimo. A estadania está no foro privilegiado do político corrupto que continua recebendo benefícios públicos por um trabalho que ele não prestou. Qual o crime maior do que aquele em que o representante eleito pelo povo desvia a merenda escolar para obter lucro e status? Qual o crime maior do que aquele que constrói estádios e aeroportos desnecessários ao invés de investir em transporte de qualidade? Qual o crime maior do que aquele que tira da educação e da saúde para colocar em paraísos fiscais  ocultos?

Nesse sentido, espero que o leitor reflita sobre o papel do cidadão e sobre se a democracia x estadania. O Brasil tem suas particularidades de modo que não basta fazer uma cópia de um modelo internacional. Se a própria Constituição diz que é reservado aos Estados do Brasil tudo o que não é reservado à União e aos municípios, o que sobra é pouco. Então, por que não cortar a esfera estatal, deixando apenas as esferas municipais e federais? Os Estados são gastos que, no meu ponto de vista, poderiam ser cortados. Desse modo, seriam cargos a menos para serem sustentados e corruptos a menos para desviar verba pública. Questiono-me qual o motivo de não poder haver candidato avulso, prendendo o cidadão aos partidos políticos. Questiono-me o motivo pelo qual o plebiscito, o referendo e demais formas de participação pública são pouco usados. Se a democracia é do povo, a maioria do povo deveria decidir sobre os assuntos coletivos. A democracia cidadã não deve estar restrita a um pequeno grupo.

Muitos dos nossos direitos foram concedidos, mas devemos conquistá-los e fazer valer a força da união.