Inúmeros adjetivos negativos foram atribuídos sobre a decisão do TSE em absolver
a chapa Dilma-Temer, coligação esta vencedora da última eleição presidencial
brasileira ocorrida no ano de 2014. Vergonha, escândalo, inconformismo...chame
como preferir, pois ainda assim será difícil encontrar palavras para a falta de
justiça que ocorrera em tal julgamento. Incrível como a falta de memória e
cidadania nacional aliada ao dinamismo da política tem ofuscado esse passado
presente. Tal acontecimento não pode cair no esquecimento de modo que a análise
aqui contida busca ir além dos fatos, tentando entender a origem da influência
da elite política peemedebista.
Gilmar Mendes e companhia limitada inovaram publicamente no direito ao
absolver uma campanha repleta de sujeira e envolvimentos diretos em corrupção
desde o início. Foi a primeira vez de modo tão explícito que os culpados foram
absolvidos por excesso de prova, de modo que os excelentíssimos ministros do
TSE chegaram até a desconsiderar fatos consumados, tamanho o montante de
denúncias e afronta à lei. Tudo em nome da governabilidade. O que é de causar
estranheza é que o Poder Judiciário não teve tal jurisprudência no caso
do impeachment da ex-presidente Dilma. Como explicar
racionalmente esse tabuleiro político caro eleitor? Simples: deve-se à força e
influência política do PMDB nas três esferas do poder, algo similar à Companhia
do seriado Prison Break.
Para comprovar tal hipótese darei mais exemplos: (a) o processo de
impedimento foi aberto pelo peemedebista Eduardo Cunha e levado a cabo pelo
Congresso Nacional, resultando na condenação dos petistas. Há de se ressaltar
que mesmo nesse cenário, o peemedebista Renan Calheiros, juntamente ao ministro
Ricardo Lewandowski, rasgaram a Constituição Federal ao manter a então
presidente elegível durante votação surpresa no Senado; (b) Temer manobrou
aliados nos ministérios para dar foro privilegiado a acusados envolvidos em
casos de corrupção e ninguém se opôs, mas quando Dilma tentou fazer o mesmo com
o Lula rapidamente houve uma resposta contrária; (c) Dilma foi acusado de ter
inúmeros ministérios, o que lhe causou uma forte pressão na época. Temer fez o
mesmo, aumentando o número de ministérios para realizar barganha política, em
prol das votações das reformas (neste último caso praticamente sem reação
social); (d) o tucano Aécio Neves abriu processo para cassação da chapa Dilma-Temer,
mas os peemedebistas conseguiram manobrar obtendo a absolvição da chapa. Quanto
ao senador Aécio ocorreu o contrário, transformando-se em um dos principais
investigados da operação Lava Jato, inclusive tendo similaridades de corrupção
em sua candidatura nas mesmas eleições de 2014, assim como houve na chapa
vencedora. Será que o PSDB vai abrir um pedido de investigação contra si mesmo?
Fica claro, caro leitor, a força do PMDB na política nacional, deixando
PT e PSDB como meros coadjuvantes nas relações entre os poderes e na própria
organização e estruturação do partido. Vale lembrar que a queda do PT deu-se
por meio da ruptura com o PMDB, caso contrário muito provavelmente os mesmos
ainda estariam no poder. Assim foi desde as eleições de 2002, reinando de um
modo tranquilo ao lado dos peemedebistas, inclusive arquivando o Mensalão,
transformando tsunamis em marolinhas. O PSDB, por sua vez, cria agora uma
aliança, submetendo-se aos desvios dos peemedebistas para que desse modo possam
chegar ao poder em breve. Na verdade, o PSDB nunca configurou-se uma verdadeira
oposição para o governo enquanto o PMDB estava com o PT e sabendo dessa sua
incapacidade em bater de frente com os peemedebistas, os tucanos resolveram
então se aliar aos inimigos, juntando-se aos petistas em termo de irrelevância
política perante ao PMDB.
A elite política do PMDB tem braços nos três poderes e na sociedade
civil, mudando regras, absolvendo culpados, enterrando provas e interferindo
diretamente em movimentos sociais, no legislativo, executivo e judiciário. Tal
prestígio deve-se à herança do MDB que dividia a oligarquia política nacional
ao lado da ARENA nos tempos da ditadura militar. Com isso, os peemedebistas são
capazes de causar rachas nacionais para obterem seus interesses, causando um
ativismo desenfreado onde as pessoas trabalham e brigam demais, sem tempo para
pensar. A democratização abstrata da sociedade leva à crise ética. Tal poder se
faz por duas vias: (1) nas tomadas de decisões, construindo leis que legitimem
o seu interesse, formalizando suas políticas e conceitos sociais, ideológicos e
econômicos; (2) por meio de não decisões, impedindo que se decida sobre um
determinado tema que vá contra os seus ideais. Desse modo mantém-se as
características existentes da constituinte de 1988 sem alterar o status quo.
Portanto, é possível concluir que a elite peemedebista é a responsável
desde a "redemocratização brasileira" pelos rumos que o país vem
traçando. O conceito de independência dos três poderes novamente se faz
ilusório diante de uma classe dominante que constrói o seu próprio ordenamento
com base na influência política de seus membros e simpatizantes, passando por
cima de leis e até mesmo da Constituição vigente com a máscara benevolente da
governabilidade. Seria o mesmo que dizer: “somos ladrões, desviamos bilhões de
reais públicos para nos satisfazer, mas tudo bem, a população sabe e aceita
isso em prol da melhora econômica do país. O Supremo também sabe, mas concordam
com as nossas práticas; afinal: roubaram mas mantêm a ilusão de que podem
salvar o país fazendo em um ano o que não fizeram em décadas”.
A promessa de que meia dúzia de reformas vão melhorar completamente o
Brasil é a mais pura mentira na qual uma população desesperada está se
apegando, apagando valores éticos e morais em prol do reequilíbrio financeiro
para comprar prazer e vender a alma. O maior exemplo nacional disso é o Rio de
Janeiro: anos sob o império peemedebista e agora não conseguem nem manter o
mínimo necessário para o ordenamento público, perdendo cada vez mais espaço
para organizações criminosas. O Temer fala muito abusando de sua oratória, mas
a sua única ação é para se manter no poder e atacar (mesmo que às escondidas) a
operação Lava Jato. Desse modo, a real manutenção do governo baseia-se em sua
equipe econômica. Esta é a única plataforma de um governo que carece de
políticas públicas e transborda denúncias de corrupção e dinheiro ilícito vindo
dos cofres públicos.