sexta-feira, 16 de junho de 2017

Reflexão sobre a interferência peemedebista na política nacional

Inúmeros adjetivos negativos foram atribuídos sobre a decisão do TSE em absolver a chapa Dilma-Temer, coligação esta vencedora da última eleição presidencial brasileira ocorrida no ano de 2014. Vergonha, escândalo, inconformismo...chame como preferir, pois ainda assim será difícil encontrar palavras para a falta de justiça que ocorrera em tal julgamento. Incrível como a falta de memória e cidadania nacional aliada ao dinamismo da política tem ofuscado esse passado presente. Tal acontecimento não pode cair no esquecimento de modo que a análise aqui contida busca ir além dos fatos, tentando entender a origem da influência da elite política peemedebista.

Gilmar Mendes e companhia limitada inovaram publicamente no direito ao absolver uma campanha repleta de sujeira e envolvimentos diretos em corrupção desde o início. Foi a primeira vez de modo tão explícito que os culpados foram absolvidos por excesso de prova, de modo que os excelentíssimos ministros do TSE chegaram até a desconsiderar fatos consumados, tamanho o montante de denúncias e afronta à lei. Tudo em nome da governabilidade. O que é de causar estranheza é que o Poder Judiciário não teve tal jurisprudência no caso do impeachment da ex-presidente Dilma. Como explicar racionalmente esse tabuleiro político caro eleitor? Simples: deve-se à força e influência política do PMDB nas três esferas do poder, algo similar à Companhia do seriado Prison Break.

Para comprovar tal hipótese darei mais exemplos: (a) o processo de impedimento foi aberto pelo peemedebista Eduardo Cunha e levado a cabo pelo Congresso Nacional, resultando na condenação dos petistas. Há de se ressaltar que mesmo nesse cenário, o peemedebista Renan Calheiros, juntamente ao ministro Ricardo Lewandowski, rasgaram a Constituição Federal ao manter a então presidente elegível durante votação surpresa no Senado; (b) Temer manobrou aliados nos ministérios para dar foro privilegiado a acusados envolvidos em casos de corrupção e ninguém se opôs, mas quando Dilma tentou fazer o mesmo com o Lula rapidamente houve uma resposta contrária; (c) Dilma foi acusado de ter inúmeros ministérios, o que lhe causou uma forte pressão na época. Temer fez o mesmo, aumentando o número de ministérios para realizar barganha política, em prol das votações das reformas (neste último caso praticamente sem reação social); (d) o tucano Aécio Neves abriu processo para cassação da chapa Dilma-Temer, mas os peemedebistas conseguiram manobrar obtendo a absolvição da chapa. Quanto ao senador Aécio ocorreu o contrário, transformando-se em um dos principais investigados da operação Lava Jato, inclusive tendo similaridades de corrupção em sua candidatura nas mesmas eleições de 2014, assim como houve na chapa vencedora. Será que o PSDB vai abrir um pedido de investigação contra si mesmo?

Fica claro, caro leitor, a força do PMDB na política nacional, deixando PT e PSDB como meros coadjuvantes nas relações entre os poderes e na própria organização e estruturação do partido. Vale lembrar que a queda do PT deu-se por meio da ruptura com o PMDB, caso contrário muito provavelmente os mesmos ainda estariam no poder. Assim foi desde as eleições de 2002, reinando de um modo tranquilo ao lado dos peemedebistas, inclusive arquivando o Mensalão, transformando tsunamis em marolinhas. O PSDB, por sua vez, cria agora uma aliança, submetendo-se aos desvios dos peemedebistas para que desse modo possam chegar ao poder em breve. Na verdade, o PSDB nunca configurou-se uma verdadeira oposição para o governo enquanto o PMDB estava com o PT e sabendo dessa sua incapacidade em bater de frente com os peemedebistas, os tucanos resolveram então se aliar aos inimigos, juntando-se aos petistas em termo de irrelevância política perante ao PMDB.

A elite política do PMDB tem braços nos três poderes e na sociedade civil, mudando regras, absolvendo culpados, enterrando provas e interferindo diretamente em movimentos sociais, no legislativo, executivo e judiciário. Tal prestígio deve-se à herança do MDB que dividia a oligarquia política nacional ao lado da ARENA nos tempos da ditadura militar. Com isso, os peemedebistas são capazes de causar rachas nacionais para obterem seus interesses, causando um ativismo desenfreado onde as pessoas trabalham e brigam demais, sem tempo para pensar. A democratização abstrata da sociedade leva à crise ética. Tal poder se faz por duas vias: (1) nas tomadas de decisões, construindo leis que legitimem o seu interesse, formalizando suas políticas e conceitos sociais, ideológicos e econômicos; (2) por meio de não decisões, impedindo que se decida sobre um determinado tema que vá contra os seus ideais. Desse modo mantém-se as características existentes da constituinte de 1988 sem alterar o status quo.

Portanto, é possível concluir que a elite peemedebista é a responsável desde a "redemocratização brasileira" pelos rumos que o país vem traçando. O conceito de independência dos três poderes novamente se faz ilusório diante de uma classe dominante que constrói o seu próprio ordenamento com base na influência política de seus membros e simpatizantes, passando por cima de leis e até mesmo da Constituição vigente com a máscara benevolente da governabilidade. Seria o mesmo que dizer: “somos ladrões, desviamos bilhões de reais públicos para nos satisfazer, mas tudo bem, a população sabe e aceita isso em prol da melhora econômica do país. O Supremo também sabe, mas concordam com as nossas práticas; afinal: roubaram mas mantêm a ilusão de que podem salvar o país fazendo em um ano o que não fizeram em décadas”. 

A promessa de que meia dúzia de reformas vão melhorar completamente o Brasil é a mais pura mentira na qual uma população desesperada está se apegando, apagando valores éticos e morais em prol do reequilíbrio financeiro para comprar prazer e vender a alma. O maior exemplo nacional disso é o Rio de Janeiro: anos sob o império peemedebista e agora não conseguem nem manter o mínimo necessário para o ordenamento público, perdendo cada vez mais espaço para organizações criminosas. O Temer fala muito abusando de sua oratória, mas a sua única ação é para se manter no poder e atacar (mesmo que às escondidas) a operação Lava Jato. Desse modo, a real manutenção do governo baseia-se em sua equipe econômica. Esta é a única plataforma de um governo que carece de políticas públicas e transborda denúncias de corrupção e dinheiro ilícito vindo dos cofres públicos.

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