segunda-feira, 28 de maio de 2018

Reflexão sobre as crises do capitalismo

Rodovias vazias, falta de combustível, filas nos postos, prateleiras vazias, pânico entre as pessoas, escassez de alimentos, ausência de medicamentos, estoques nos matadouros. Parece até a descrição de um período de guerra, mas acalme-se caro leitor, é só mais uma das várias crises inerentes ao sistema capitalista. Dessa vez trata-se da paralisação dos caminhoneiros em terras tupiniquins. Na ausência de alternativas de malhas ferroviárias e parques fluviais somos reféns do sistema rodoviário, dos pedágios, das ruas esburacadas, do preço da gasolina e das montadoras automobilísticas. 

Antes de tudo é preciso entender o que é o capitalismo. Segundo o site Significados, capitalismo é o sistema onde o principal objetivo é o lucro e o acúmulo de riquezas. Portanto, baseia-se no consumo e nos meios de produção, buscando o máximo de eficiência e produtividade pelo menor custo, incentivando o consumo de mercadorias diversas, mesmo que desnecessárias ou em excesso. Ou seja, impera a lei de mercado e o individualismo em detrimento ao social. Não à toa que as sociedades se encontram em constante ebulição. As pessoas sempre querem mais, nunca estão satisfeitas. A desigualdade só aumenta.

Greve dos caminhoneiros, Brasil
https://br.sputniknews.com/brasil/2018052511311294-greve-caminhoneiros-abastecimento-crise/

Mesmo com a predominância mundial do capitalismo é de sua natureza momentos de crise. Logo, a crise pela qual o Brasil passa é apenas mais uma dentre tantas outras que já passaram e que ainda virão. É normal do sistema capitalista possuir crises com certa frequência, variando a magnitude. Além da morte, a outra certeza que se pode ter na vida é que haverá constantes crises no capitalismo, seja por excesso de produção (estoque sem saída) ou por falta de abastecimento (demanda sem produtos). Eis a lei da demanda e oferta.

O fato é que independente das circunstâncias da crise haverá muitos perdendo e poucos ganhando. Essa é a lógica do sistema, não adianta inventar teorias mirabolantes e explicações superficiais, basta ver os fatos. O que esperar de um sistema cuja regra é o lucro a qualquer preço? Enquanto não houver alteração sistêmica as medidas tomadas serão paliativas, assim como um analgésico que tira a dor, mas não cura a doença. Todos os sistemas (político, econômico, jurídico, partidário, etc) estão interligados. A questão está na base, não apenas em um ponto específico. 

Fonte: http://capaiffer.wixsite.com/paiffernew/single-post/2014/10/30/Crise-de-1929-Grande-Depress%C3%A3o

É possível citar alguns exemplos para embasar tal argumentação, dentre as principais em meio a tantas outras: (a) Grande Depressão de 1929 - quebra da bolsa de Nova Iorque gerando um efeito em cadeia no mundo inteiro devido à explosão da bolha especulativa levando vários indivíduos ao suicídio; (b) Crises do Petróleo na década de 70 - países produtores de petróleo e membros da OPEP resolveram aumentar os preços do produto subitamente gerando um efeito dominó nas bolsas e bancos, instabilizando todos os países e gerando conflitos de interesses; (c) Grande Recessão de 2008 - quebra de um tradicional banco estadunidense de investimento gerando perdas imobiliárias e a falta de liquidez bancária, novamente atingindo todo o planeta globalizado.

E quando o capitalismo lucra? Ora, nas guerras. A crise de 1929 foi sanada com a Segunda Guerra Mundial entre 1939 e 1945 (tanto que sobrou dinheiro para os estadunidenses investirem na reconstrução da Europa). As crises do petróleo que se intensificaram na década de 70 foram sanadas com as guerras estadunidenses no Oriente Médio, em especial a Guerra do Golfo em 1991. Já a crise de 2008 está sendo tratada pelos EUA agora, após várias ações militares desde então, sobretudo no Oriente Médio, conseguindo enfim respirar aliviado novamente em meio a tantos misseis e mortes. É a famosa máquina de fazer dinheiro desse sistema tão maravilhoso que traz conforto e segurança para os lares mais afortunados. 

Fonte: https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2017/08/crise-de-civilizacao-capitalista-por-eduardo-mancuso/

Resumindo: jogo de interesses e luta de classes por poder, tempo e espaço. E a história continua com sua saga de exploração no terceiro mundo e cegueira social.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Reflexão sobre a alienação

Ela acorda cedo com o despertador
Acorda sem querer acordar
Ainda está escuro lá fora
O relógio diz que são cinco da manhã
E está frio fora da coberta
Mas ela não pensa, apenas age
Seguindo os instintos sem questionar
Podia ser pior
É mais fácil entregar tudo nas mãos da fé
Na esperança de que um dia vai melhorar
E esquecer que mudanças não caem do céu
Ignorar os fatos é o caminho da felicidade
Sorrir para suportar

Ele levanta da cama subitamente e vai
Apenas corre direto para o chuveiro
Escova os dentes, perde a toalha
E simplesmente vai
Vai com sono mesmo
Só vai
Um café rápido para enfrentar o dia
Veste o uniforme assim como o soldado
Acorda cedo, banho gelado, torradas queimadas
Apenas fecha os olhos e vai
Sem nada de particular
Coletivizar para quê?
Cada um no seu quadrado
Imerso em um universo diverso
São tantas formas, disperso
Apenas quadrado
E vai

Fonte: http://amoestudarfilosofia.blogspot.com.br/2008/05/tema-alienao.html

Ela pega a mochila, se maquia no caminho
Transporte público lotado repleto de tarados
Soldados do crime ostentando o novo carro roubado
Sua arma não é de admirar
Trânsito a perder de vista
Não pode chegar atrasada
Veste o uniforme como quem vai para a batalha
Se a vida é uma guerra então um leão por dia
Vai almoçar, liga a tv
Depois posta alguma foto superficial dentro da realidade virtual
Propagandas de moda mostram o padrão de quem você deve ser
Ela não quer ser aquilo, mas queria algo melhor
Queria ser
Mas se contenta em ter, até mesmo aquilo que acha que tem
Se contenta com o que não tem
Porque um dia pode ter
Querer não é poder

E então ele vai lutando contra o relógio
Vai assim mesmo sem se arrumar
Roupa amassada, cabelo desgrenhado
Cinzas no aquário
Pega os filhos na escola, vê se não demora
Chefe ligando, filhos brigando
A casa está uma zona
Ele simplesmente segue e vai
Sem pensar no que é
É a realidade
Sem pensar como deveria ser
Com a cabeça no final do mês
E as contas que não param de chegar?
Vai
Amar é para os fracos
Construa, destrua
Queime até sufocar
A natureza vai se virar
O meio ambiente é o que eu quero ao meu redor
E você não está nos planos

Ela se esconde no banheiro
Pausa para respirar
Socializar com quem não se quer
Prende o cabelo e se olha no espelho
Quem eu sou mesmo?
Exatamente quem não queria ser
Mas a vida é assim
Feita para ser aceita e submetida
Não para ser quem se quer ser
Não para ser vivida
Para
O trabalho da faculdade que não fez
A prova que mal estudou
Algum tutorial gratuito na internet
Bom, bonito e barato igual ao do comercial
A tela é detentora da verdade
O descaso que condena
Ainda tem o segundo tempo

http://ewertondourado.blogspot.com.br/2011/05/alienacao-trabalhista-segundo-karl-marx.html

Só vai, deixa rolar
Futebol com os amigos
Hora extra em casa
Depois é só votar
Se existe machismo isso não é problema meu
Não precisa pensar, basta ligar a tv
Pessoas vão lhe dizer o que fazer
Uma cerveja no final de semana
Depois de mais trabalho em casa
Essa não vai ter como descontar
Mas tem tanta gente parada não é mesmo?
Tempo demais no trânsito e o sol que não para
Então vai sem pensar, apenas siga o mestre
O cachorro que só late
O bebê que só berra
A criança que só grita
O velho que só resmunga
Só vai

Ela bate o cartão para entrar
Bate o cartão para almoçar
Bate o cartão para sair
Bate o cartão para o busão (lotado)
Janta rápida na novela
Precisa fazer a unha
Precisa comprar pão
Ração para o gato
Um cigarro na janela
Já passou da meia-noite
Dá quase para tocar o silêncio da rua
Que horas são mesmo? Oração
A fumaça escorre com o tempo
Está chegando o dia da eleição
É só chutar e votar
Certo de suas certezas
O pecado está no outro

Um celular novo na promoção
Compra por comprar
Uma manifestação na rua
É só para atrapalhar
Será?
As obrigações não andam
Mas os direitos estão decorados
Uma defesa como arma, o inferno são os outros
Uma foto nova na rede social
Nada como a vida em sociedade
Não sei o nome do vizinho
Até porque ele é um saco
Mas domingo tem jogo
Hora de gastar um pouco
E então ele vai
Vai indo assim mesmo
Sem participar
Discorda por discordar
É sempre mais fácil criticar
Eu quero mudar
Quero alguém para mudar
Está tudo errado
Mas faz tudo exatamente igual
Zona de conforto amigável
Já sei onde encontrar a chave
Mesmo nessa bagunça
Lucrar, dividir, subtrair

Fonte: https://alanelealteste.files.wordpress.com/2012/08/alienacao.jpg

E então fecha os olhos
O mercado é meu pastor e nada me faltará
Perfume de marca
E quando o sono parece embalar...
O despertador teima em tocar
É só terça-feira, ainda há uma semana inteira pela frente
Um meme novo no grupo do trabalho
Uma gozação nova com o estagiário
Mas esse telefone não para de tocar
Você tem que fazer isso
Tem que fazer aquilo
Tem que fazer
Fazer
Pode, deve
Por favor, palavra difícil de dizer
Desculpa por errar, tem que se adequar
Ser perfeito, ser tipo máquina top
Sem pensar, mas desempenhar como o esperado
Ir além
Desempenhar como as metas e as projeções
Já estou esgotado só de pensar
E é um ciclo em que tudo se repete
A vida é assim
Escolhas delimitadas
Determinismo de nascença
O que é liberdade?
O iluminismo totalitário
Igualdade é coisa de comunista mimado
Para que fraternidade se hoje em dia tudo já vem pronto?
Embalado para consumo
Orgasmo rápido e impreciso
Útil para o organismo
E demais futilidades
Três minutos, três acordes

E então os olhos se abrem (apenas parcialmente)
Os ratos que roem os lixos
As baratas que invadem as casas
Mas espera aí: esse é o meu lar!
Uma cerveja nova para relaxar junto aos novos medicamentos
Resíduos que se acumulam em algum canto escondido da cidade
Já está pronto, está tudo programado
Ninguém faz nada mesmo
São todos corruptos, mas eu sou santo graças a deus
O filho legítimo, o herdeiro, o sol de todos os dias
A ascensão da decadência em trajes promocionais da crise
Ah a crise
Tem sempre uma nova
Já está envelhecida
Fascistas e "soluções" fáceis para a complexidade
É só matar, é só prender, é tudo bandido

Uma hora acaba
Já é tarde demais
É preciso gastar
É preciso comer
É preciso vestir
É preciso consumir
Antes que o próximo dia se acabe
Produzir, acumular, restringir
Feche os braços, apague os traços
Se até deus duvida
Dúvida
Divida a vida
Dívida

E tudo se repete
E gira
E volta
E se repete
E se revolta?
Está tudo em movimento
E o universo se expande, mas o nosso espaço se retrai
E então ela vai
E então ele vai
Cai no esquecimento
Todos querem ser lembrados
Mas o que é nosso está guardado
Sete palmos do chão
Submundo, subcultura, subsolo
Ele quer o auge
Ela quer o auge
Alguns bilhões também
Vão assim mesmo
Sem pensar
Vão por ir
Sem lugar
Vai.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Reflexão sobre as revoluções industriais

Você é o reflexo do meio em que vive. Comida, bebida, roupas, gírias e tantos outros aspectos são influenciados pelo contexto em que estamos inseridos. Em uma sociedade cada vez mais dinâmica e competitiva os indivíduos precisam se adaptar às mudanças em uma velocidade maior. Com os avanços tecnológicos tem-se alteração constante de hábitos, o que não significa necessariamente uma evolução da humanidade. Descompasso significa ficar para trás, como se todos tivessem o mesmo time. A padronização atinge o ser, o mesmo ritmo de vida imposto a diversas pessoas diferentes. 

Afinal, o que é a Quarta Revolução Industrial e como o Brasil está se portando?
Fonte: http://diplomaciacivil.org.br/afinal-o-que-e-a-quarta-revolucao-industrial-e-como-o-brasil-esta-se-portando/

Sociedade líquida, vida líquida que escorre pelos dedos, assim como a água que escapa e foge pelo ralo. Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, a sociedade pós-moderna está condicionada aos seus membros que mudam em um tempo mais curto do que o necessário para consolidação dos hábitos, rotinas, formas de agir. Assim, o amadurecimento dessa sociedade está comprometido. Por outro lado, progredir é necessário e não há avanço sem revolução. Revolução significa alteração abrupta, mudança profunda, transformação do status quo, seja na política, seja social. Difícil é convergir os temas.

Tratando especificamente das revoluções industriais é possível citar e analisar quatro momentos históricos. A Primeira ocorreu na metade do século XVIII na Inglaterra e talvez seja a mais conhecida, ocorrendo devido ao uso de máquinas na indústria, potencializada com a invenção da máquina a vapor. A Revolução Industrial originária alterou completamente a estrutura do trabalho e as relações sociais, impactando desde a mobilidade por meio dos trens até mesmo na geografia das cidades, iniciando um processo que só se intensificou nos séculos seguintes ao redor do mundo. Caracterizou-se da produção manual para a mecanização e divisão do trabalho.

Ilustração da paisagem inglesa durante a Revolução Industrial. As grandes chaminés expelindo fumaça representava desenvolvimento.
Fonte: https://www.infoescola.com/historia/revolucao-industrial/

O campo foi se esvaziando, zonas urbanas se proliferaram, os burgueses prosperam, os empresários lucraram. Homem primata, capitalismo selvagem. Longas jornadas de trabalho, cidades insalubres, altos níveis de poluição do meio ambiente. Tais aspectos sociais permanecem, não mudamos tanto assim não é mesmo? As consequências são sentidas na atualidade, agregando-se no acúmulo de resíduos no ar e nos rios. Eram necessários mais recursos naturais para a manufatura dos países desenvolvidos, justificativa mais do que suficiente para a exploração dos subdesenvolvidos. Revolução, corte direto, nem sempre preciso. É bem verdade que houveram avanços tecnológicos fundamentais na indústria e transportes oferecendo mais qualidade de vida (para a minoria que assim podia desfrutar).

A Segunda Revolução Industrial ocorreu em meados do século XIX, o avanço nunca para, não pode parar, progresso em primeiro lugar! Movida sobretudo pela eletricidade fez-se luz aonde antes era escuridão. Tal mudança fora gradual (sobretudo no Brasil), mas possibilitou inovações importantes como telefone, rádio, televisão, automóvel e avião. Difícil ficar sem tais elementos hoje em dia. Nas indústrias o destaque foi no setor metalúrgico, época de ouro das grandes montadoras. Sem dúvida foi uma grande mudança. Introduziu-se os conceitos de organização industrial, otimização dos processos produtivos e padronização fabril. O conceito de massas predominava. Expoentes como Taylor e Ford são frequentemente lembrados. Os sindicatos ganharam força, lentamente o trabalhador ganhou voz, mas este último não será um processo contínuo.

Vem aí a quarta revolução industrial
Fonte: http://www.moreno.ind.br/en/news/vem-ai-a-quarta-revolucao-industrial

Cada vez mais rápido e melhor! A Terceira Revolução Industrial inicia-se após a Segunda Guerra Mundial, na metade do século XX. Trata-se do avanço no setor de telecomunicações, informática e no campo digital. Nasce aí a tão celebrada Era Digital. As fronteiras simplesmente são derrubadas pela computação e então tem-se o mundo na palma da mão. Tecnologia de ponta invade as casas e a relevância central das indústrias de outrora passa a dividir espaço com o setor de serviços. A globalização se faz presente, o capitalismo impera pelos quatro cantos do globo, tudo no seu tempo, "tudo ao mesmo tempo agora" como diriam os Titãs. 

A Quarta Revolução Industrial não é um consenso (ainda), mas certamente eliminará todas as dúvidas sendo o grande fenômeno tecnológico do século XXI. Na verdade, já está acontecendo: a internet das coisas (tv, geladeira, fogão), drones, impressora 3D, nanotecnologia, neurotecnologia, automatização total, inteligência artificial, biotecnologia. Há dúvidas? O grande expoente comercial dos tempos atuais são os bancos e o sistema financeiro. Não há crise que derrube o superávit dos bancários, literalmente o monopólio do dinheiro. Os avanços tecnológicos são inquestionáveis e só fazem a qualidade de vida progredir. Mas, assim como na Primeira Revolução Industrial, nem todos podem desfrutar de tais benefícios. Obviamente que o problema não se iniciou ali, mas o sistema o fez aumentar como uma verdadeira doença social. Olhe em volta. Olhe nos centros e periferias.

Fonte: http://lumeear.blogspot.com.br/2018/02/convergencia-quarta-revolucao-industrial.html

Muito discute-se sobre as consequências da revolução vigente. Economistas engravatados cansam de dar entrevista nos jornais da GloboNews dizendo que tal processo não impactará na redução de empregos. Cuidado! Não acredite em tudo o que dizem. O desemprego é uma realidade mundial, agravada sobretudo nos países do Terceiro Mundo. A população nacional tende a crescer e as vagas diminuirão. As empresas filtram cada vez mais os seus funcionários. Portanto, haverá menos postos de trabalhos, sendo que os cargos disponíveis exigirão um alto nível de conhecimento dos candidatos (e cada vez mais). Não se trata da substituição imediata de trabalhadores por máquinas, mas de uma integração entre ambos que exigirá muito em um mercado cada vez mais restrito. Lembre-se da lei que impera nas relações de consumo: demanda e oferta.