Acorda cedo, sem hora para terminar
Prepara o café, arruma a casa
Chama as crianças para a escola
Prepara o fôlego para mais um dia
Insistência, persistência, resistência
Pasta no braço, currículo na mão
Carteira de trabalho sem registro
São as contas que não param de chegar
As bocas para alimentar
Pego ônibus lotado
Sem lugar para sentar
Vai de empresa em empresa
Fila em cada rh
Sonha
Não pensa para não desanimar
Apenas sonha e segue
Vai meio sem rumo
Até quando a perna aguentar
Na tv o ministro diz que vai melhorar
O jornal fala de melhora na economia
Mas já faz um ano que segue na rotina do desemprego
Demissões
Diário de um desempregado
Acorda cedo para enviar currículo
Liga o computador e fica até a noite chegar
Busca marcada pela esperança pela contratação
Limpa a casa, liga o rádio para tentar relaxar
Força, foco, fé
Mas a angústia continua
Melancolia, tristeza, depressão
Não se pode deixar abater
O presidente diz que vai melhorar
Mas o índice de desemprego não para de aumentar
Sobra cobrança, falta oportunidade
Então sonha sem pensar e segue
Refém dos bancos, refém do mercado
Um sistema de exclusão e gentrificação
Que afasta do centro para as margens
Falta espaço, falta tempo, falta dinheiro
É o chocolate que não vai poder dar
O presente para o filho que não consegue comprar
Clivagem social, seja por gênero ou idade
Mesmo assim segue
Sabe que não pode parar
Mãos calejadas
Dor no joelho
Falta dinheiro até para a passagem
Várias reformas aprovadas
Mas a vida continua a mesma há meia década
Talvez até pior
Tanto se fala em previdência
Mas falta o básico
Falta ensino, segurança e saúde de qualidade
Falta emprego
Falta o sentimento de reconhecimento e dignidade
Olha para o lado e respira um pouco
Foram tantos currículos que até perdeu a conta
É o atraso que sufoca
A falta de perspectiva que afoga
Vida dura, suada e seca
Contradições e perguntas sem respostas
Informalidade quase indigente
E ainda querem mais
Bem diferente dos engravatados em seus discursos
A realidade se impõe
Por vezes machuca
Ferida social aberta não cicatrizada
O preço é muito alto
Mas parar não está entre as opções
E assim segue com sua sombra
Com medo e esperança
Sabe que amanhã será um novo dia
As luzes se apagam
O silêncio externo contrasta com a agitação interna
E o ciclo se repete de novo e de novo.
sexta-feira, 26 de abril de 2019
sábado, 13 de abril de 2019
Reflexão sobre o Brexit
As relações internacionais, que tendiam à abertura mundial por meio da
globalização após o período de bipolarização presente na Guerra Fria, agora
encontram obstáculos até mesmo de nações tidas como liberais e que agora
apresentam um individualismo imediatista. Como exemplo é possível citar as duas
principais nações anglo-saxãs: os Estados Unidos de Trump e a Inglaterra de Theresa May. Esta última com o diferencial de busca pelo reconhecimento na contemporaneidade pela hegemonia de outrora.
O processo de separação do Reino Unido com a União Europeia ficou
conhecido como Brexit que em inglês significa saída (exit) dos britânicos (br)
do bloco ao qual pertencem desde 1973. É bem verdade que a geografia de ilha da
Grã-Bretanha afastada do continente pelo Canal da Mancha e a utilização da
libra como moeda oficial mesmo após a adesão do Euro como moeda do bloco
europeu conferem algumas peculiaridades. A onda protecionista e nacionalista influenciada, sobretudo,
por questões econômicas e pelos fluxos migratórios tornam-se um solo fértil
para análise da conjuntura atual. Assim é Babel, conforme descrito por Zygmunt
Bauman: entre a incerteza e a esperança. O tradicional conservadorismo insular
se faz presente no século XXI.
Em 2016 o então primeiro-ministro
do Reino Unido David Cameron fracassou politicamente ao colocar em votação um
referendo sobre a saída do país do bloco europeu.
Após a vitória daqueles que eram favoráveis ao divórcio por uma pequena margem
de diferença (51,9% a favor da saída contra 48,1% favoráveis à permanência) o
mesmo se viu obrigado a deixar o cargo e renunciou depois do congresso de
outubro do seu partido.
Cameron foi sucedido
por Theresa May que prometeu atender aos anseios britânicos por meio de um
processo de separação que não traria grandes consequências aos envolvidos e
levaria a cabo a histórica decisão dos mais de 30 milhões de eleitores (71,8%
do total) que compareceram às urnas para expressar o seu desejo, fato que não
foi comprovado com o passar dos anos.
Desde então o que se
vê são sucessivas discussões no parlamento britânico sem a costura de um acordo
político viável. O dilema até o momento se baseia
em duas opções: (1) um acordo com o parlamento europeu de mútuo entendimento
entre as partes; (2) saída abrupta e sem acordo com a União Europeia, o que
acarretará em várias perdas e um grande impacto na economia da ilha.
A busca pela retomada
dos holofotes por parte dos britânicos assim como fora nos séculos pertencentes
à modernidade mostra-se como uma típica nostalgia da hegemonia passada. Em
especial, a predominância inglesa no século XVIII por meio da Primeira
Revolução Industrial e consolidação após a vitória nas Guerras Napoleônicas
durante o século XIX, interferindo em assuntos como independência, escravidão,
monarquia e dívida pública do Brasil no período.
A peculiar monarquia
democrática parlamentarista britânica se encontra perdida entre realizar uma nova consulta pública, validar o resultado do
referendo e atuar para a separação ou ignorar o voto dos cidadãos em prol da
continuidade do relacionamento ao não romper com a integração europeia. De
qualquer modo, as consequências da eventual ruptura já são sentidas no Reino Unido
com a saída de algumas empresas para o continente europeu sendo que parte da
própria população local pede um novo referendo alegando que foram iludidos por
promessas não cumpridas dos defensores do Brexit.
O estrago já é
sentido e aumenta conforme o prazo chega sem uma solução viável no horizonte
que agrade as duas partes envolvidas. O caminho do meio tal como citado por
Aristóteles no livro “Ética a Nicômaco” ainda não foi encontrado pelo sistema
parlamentarista insular diante da suposta democracia monárquica. Mais uma vez as contradições do capitalismo se acentuam por meio de um suposto neoliberalismo globalizado.
Assinar:
Postagens (Atom)