As relações internacionais, que tendiam à abertura mundial por meio da
globalização após o período de bipolarização presente na Guerra Fria, agora
encontram obstáculos até mesmo de nações tidas como liberais e que agora
apresentam um individualismo imediatista. Como exemplo é possível citar as duas
principais nações anglo-saxãs: os Estados Unidos de Trump e a Inglaterra de Theresa May. Esta última com o diferencial de busca pelo reconhecimento na contemporaneidade pela hegemonia de outrora.
O processo de separação do Reino Unido com a União Europeia ficou
conhecido como Brexit que em inglês significa saída (exit) dos britânicos (br)
do bloco ao qual pertencem desde 1973. É bem verdade que a geografia de ilha da
Grã-Bretanha afastada do continente pelo Canal da Mancha e a utilização da
libra como moeda oficial mesmo após a adesão do Euro como moeda do bloco
europeu conferem algumas peculiaridades. A onda protecionista e nacionalista influenciada, sobretudo,
por questões econômicas e pelos fluxos migratórios tornam-se um solo fértil
para análise da conjuntura atual. Assim é Babel, conforme descrito por Zygmunt
Bauman: entre a incerteza e a esperança. O tradicional conservadorismo insular
se faz presente no século XXI.
Em 2016 o então primeiro-ministro
do Reino Unido David Cameron fracassou politicamente ao colocar em votação um
referendo sobre a saída do país do bloco europeu.
Após a vitória daqueles que eram favoráveis ao divórcio por uma pequena margem
de diferença (51,9% a favor da saída contra 48,1% favoráveis à permanência) o
mesmo se viu obrigado a deixar o cargo e renunciou depois do congresso de
outubro do seu partido.
Cameron foi sucedido
por Theresa May que prometeu atender aos anseios britânicos por meio de um
processo de separação que não traria grandes consequências aos envolvidos e
levaria a cabo a histórica decisão dos mais de 30 milhões de eleitores (71,8%
do total) que compareceram às urnas para expressar o seu desejo, fato que não
foi comprovado com o passar dos anos.
Desde então o que se
vê são sucessivas discussões no parlamento britânico sem a costura de um acordo
político viável. O dilema até o momento se baseia
em duas opções: (1) um acordo com o parlamento europeu de mútuo entendimento
entre as partes; (2) saída abrupta e sem acordo com a União Europeia, o que
acarretará em várias perdas e um grande impacto na economia da ilha.
A busca pela retomada
dos holofotes por parte dos britânicos assim como fora nos séculos pertencentes
à modernidade mostra-se como uma típica nostalgia da hegemonia passada. Em
especial, a predominância inglesa no século XVIII por meio da Primeira
Revolução Industrial e consolidação após a vitória nas Guerras Napoleônicas
durante o século XIX, interferindo em assuntos como independência, escravidão,
monarquia e dívida pública do Brasil no período.
A peculiar monarquia
democrática parlamentarista britânica se encontra perdida entre realizar uma nova consulta pública, validar o resultado do
referendo e atuar para a separação ou ignorar o voto dos cidadãos em prol da
continuidade do relacionamento ao não romper com a integração europeia. De
qualquer modo, as consequências da eventual ruptura já são sentidas no Reino Unido
com a saída de algumas empresas para o continente europeu sendo que parte da
própria população local pede um novo referendo alegando que foram iludidos por
promessas não cumpridas dos defensores do Brexit.
O estrago já é
sentido e aumenta conforme o prazo chega sem uma solução viável no horizonte
que agrade as duas partes envolvidas. O caminho do meio tal como citado por
Aristóteles no livro “Ética a Nicômaco” ainda não foi encontrado pelo sistema
parlamentarista insular diante da suposta democracia monárquica. Mais uma vez as contradições do capitalismo se acentuam por meio de um suposto neoliberalismo globalizado.
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