sábado, 13 de abril de 2019

Reflexão sobre o Brexit

As relações internacionais, que tendiam à abertura mundial por meio da globalização após o período de bipolarização presente na Guerra Fria, agora encontram obstáculos até mesmo de nações tidas como liberais e que agora apresentam um individualismo imediatista. Como exemplo é possível citar as duas principais nações anglo-saxãs: os Estados Unidos de Trump e a Inglaterra de Theresa May. Esta última com o diferencial de busca pelo reconhecimento na contemporaneidade pela hegemonia de outrora. 

O processo de separação do Reino Unido com a União Europeia ficou conhecido como Brexit que em inglês significa saída (exit) dos britânicos (br) do bloco ao qual pertencem desde 1973. É bem verdade que a geografia de ilha da Grã-Bretanha afastada do continente pelo Canal da Mancha e a utilização da libra como moeda oficial mesmo após a adesão do Euro como moeda do bloco europeu conferem algumas peculiaridades. A onda protecionista e nacionalista influenciada, sobretudo, por questões econômicas e pelos fluxos migratórios tornam-se um solo fértil para análise da conjuntura atual. Assim é Babel, conforme descrito por Zygmunt Bauman: entre a incerteza e a esperança. O tradicional conservadorismo insular se faz presente no século XXI.

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Em 2016 o então primeiro-ministro do Reino Unido David Cameron fracassou politicamente ao colocar em votação um referendo sobre a saída do país do bloco europeu. Após a vitória daqueles que eram favoráveis ao divórcio por uma pequena margem de diferença (51,9% a favor da saída contra 48,1% favoráveis à permanência) o mesmo se viu obrigado a deixar o cargo e renunciou depois do congresso de outubro do seu partido.

Cameron foi sucedido por Theresa May que prometeu atender aos anseios britânicos por meio de um processo de separação que não traria grandes consequências aos envolvidos e levaria a cabo a histórica decisão dos mais de 30 milhões de eleitores (71,8% do total) que compareceram às urnas para expressar o seu desejo, fato que não foi comprovado com o passar dos anos.

Brexit and access to UK financial markets by EU27 firms

Desde então o que se vê são sucessivas discussões no parlamento britânico sem a costura de um acordo político viável. O dilema até o momento se baseia em duas opções: (1) um acordo com o parlamento europeu de mútuo entendimento entre as partes; (2) saída abrupta e sem acordo com a União Europeia, o que acarretará em várias perdas e um grande impacto na economia da ilha.

A busca pela retomada dos holofotes por parte dos britânicos assim como fora nos séculos pertencentes à modernidade mostra-se como uma típica nostalgia da hegemonia passada. Em especial, a predominância inglesa no século XVIII por meio da Primeira Revolução Industrial e consolidação após a vitória nas Guerras Napoleônicas durante o século XIX, interferindo em assuntos como independência, escravidão, monarquia e dívida pública do Brasil no período.

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A peculiar monarquia democrática parlamentarista britânica se encontra perdida entre realizar uma nova consulta pública, validar o resultado do referendo e atuar para a separação ou ignorar o voto dos cidadãos em prol da continuidade do relacionamento ao não romper com a integração europeia. De qualquer modo, as consequências da eventual ruptura já são sentidas no Reino Unido com a saída de algumas empresas para o continente europeu sendo que parte da própria população local pede um novo referendo alegando que foram iludidos por promessas não cumpridas dos defensores do Brexit.

O estrago já é sentido e aumenta conforme o prazo chega sem uma solução viável no horizonte que agrade as duas partes envolvidas. O caminho do meio tal como citado por Aristóteles no livro “Ética a Nicômaco” ainda não foi encontrado pelo sistema parlamentarista insular diante da suposta democracia monárquica. Mais uma vez as contradições do capitalismo se acentuam por meio de um suposto neoliberalismo globalizado.

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