O pior cego é aquele que não quer ver. Envolto na neblina dos grandes meios de comunicação, verdadeiros oligopólios, negócios de família que transmitem uma visão de mundo de acordo com os próprios interesses. Não existe imparcialidade. Alienados no sofá diante da tela. Correntes voluntárias de indivíduos de massa, forjada pela ignorância planejada detalhadamente pelo não incentivo ao ensino e educação.
Sem cidade, sem cidadania, ilusão demagoga sobre democracia para manter os privilégios de poucos. Nada mais do que governar para a própria família. Mais vale um gado do que um cidadão para manter os dogmas e paradigmas presentes nas sombras da caverna. Política do confronto e do medo, jogo de falácias, pão e circo. Discursos para aliviar a dor do gado na contínua fuga de debates. Mais uma novela da vida real entre o bem e o mal na busca por heróis e vilões em meio à imperfeição humana. As sombras da caverna permanecem.
O mito da caverna foi uma alegoria escrita por Platão no livro A República para representar os riscos do senso comum diante da falta de pensamento e de diálogo. A parábola trata de um grupo de pessoas presas em uma caverna por correntes e forçados a enxergarem apenas a parede que ficava no fundo da caverna. Atrás dessas pessoas havia um muro, uma fogueira no alto e, entre ambos, uma passagem na qual outros indivíduos transitavam e cujas sombras dos objetos que carregavam eram projetadas na parede da caverna em que os prisioneiros eram obrigados a observar.
Em um determinado dia atípico, uma das pessoas consegue se desvencilhar das correntes e se liberta da caverna saindo para o mundo exterior. O choque do indivíduo é imenso ao reparar que a realidade ia muito além do que as simples imagens refletidas na parede da caverna. Assustado com a novidade repleta de formas, cores, luz e objetos, o ex-prisioneiro deseja retornar para a caverna. Entretanto, aos poucos, o mesmo assimila os fatos à sua volta e passa a admirar a paisagem e sua diversidade.
Tomado pelas novas informações e sensações, o fugitivo retorna para a caverna para compartilhar as novidades e dividir a experiência com os prisioneiros. Mas, para a nossa surpresa, as pessoas da caverna não acreditam em suas palavras. Para evitar que suas ideais atraísse mais pessoas e que "tamanha insanidade" se espalhasse dentro da caverna, os prisioneiros matam o fugitivo. "Só existe o que vê e o que vê é só o que há". Homo sem sapiens (homem sem sabedoria).
Os pensadores da chamada Escola de Frankfurt alertam para o perigo da manipulação da mídia, imposição da ditadura por meio de uma suposta verdade absoluta e controle da informação. Afinal, para quem está no poder não é interessante uma ruptura. Quanto mais poder concentrado melhor e para atingir tal fim o meio mais fácil é a desinformação levando à apatia e ao enfrentamento com aqueles que pensam diferente. Desigualdade por meio de cortes e o monopólio do uso da força. Apenas um rebanho para dizer amém. Como exemplo é possível citar a ascensão do totalitarismo no início do século passado. Refém da própria estupidez.
É preciso pensar, ter senso crítico para sair do comum. É preciso entender, ler além da notícia, transformar informação em conhecimento. É preciso encontrar a luz para se libertar das correntes da caverna. É preciso ter opinião própria para não se deixar levar pela onda de segundas intenções. Ser diferente, resistir, nadar contra a corrente baseado em fatos, sem a ilusão e pretensão de supostos seres míticos. "Permanecer de pé, de pé até o fim". Quando uma nação se torna refém de mitos e há banalização do bom senso é sinal de que a humanidade perdeu sua essência, tornando-se mais selvagem e irracional do que a mais bruta pedra.
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