É consenso para todos os seres racionais que o diálogo é a melhor alternativa para a solução de problemas. Mesmo em tempos em que a violência e as armas estão em voga, uma boa conversa ainda é uma opção para o dia-a-dia. Não se trata de uma novidade: desde os tempos da Grécia Antiga é possível observar a relevância da dialética para um caminho pautado no esclarecimento construtivo.
Há cerca de quatro séculos antes do nascimento de Cristo, Sócrates já andava pelas ruas atenienses proliferando a afirmação de que tudo que sabia era que nada sabia e a partir deste ponto de abstração e modéstia confrontava os ditos intelectuais gregos da época com questionamentos sobre suas certezas que, geralmente, no final das contas, não se travam de verdades tão convictas assim. Com uma certa dose de ironia diante dos sofistas, o filósofo utilizava o método dialético para a reflexão como um verdadeiro parto que dava luz à novas ideais.
Mais importante do que respostas é saber fazer as perguntas certas. A proporção de tal relevância pautada na dúvida e no questionamento é sentida até os dias atuais no âmbito acadêmico. Muito além do que simplesmente ter uma suposta razão efêmera, a dialética trata-se de um grande diálogo construtivo em busca de novos caminhos. O objetivo é aperfeiçoar o entendimento sobre determinado assunto de modo profundo, ultrapassando as barreiras da superficialidade.
No século XVIII, mais de mil anos depois da dialética socrática e após várias interpretações de seus respectivos discípulos (Platão e Aristóteles) e demais seguidores, o método ganhou novos contornos por meio da visão hegeliana. Hegel apontava para a característica de movimento em que cada ideia parte de si para uma segunda, gerando assim, consequentemente, uma terceira formulação, fruto da construção das duas primeiras formulações.
Tal dinâmica pode ser representara pelo seguinte fluxo: tese - antítese - síntese. O método dialético baseia-se, segundo Hegel, na afirmação contraposta pela negação o que gera a negação da negação. A crítica inerente ao processo dialético rompe com o dualismo ao formar tríades. O resultado de cada método dialético origina uma terceira via, um novo paradigma pautado na relação mútua entre objeto e sujeito, sem priorizar um dos lados. Superação da lógica.
No século seguinte (XIX), Engels e Marx consolidaram o termo ao influenciar gerações e a ciência em seu âmbito mais formal por meio de dissertações, teses e teorias. Marx afirmava que a dialética é, simultaneamente, pensamento e realidade. Desse modo, o marxismo ressalta o aspecto da crítica, da historicidade e do materialismo no método dialético revisando Hegel. Este método consagrou-se nos trabalhos acadêmicos na contemporaneidade, sobretudo nas áreas de Humanas.
Partindo da racionalidade humana, o diálogo de pensamentos é utilizado mesmo na formulação de projetos físicos. Ora, se o processo dialético é pautado no movimento do saber do indivíduo, cada novo paradigma é resultado desse embate de ideias, alterando o que antes era certo e sólido, muitas vezes pautado em avanços tecnológicos. A comunicação é própria da dinâmica humana, não adianta fugir das próprias origens e dos debates.
Isso não quer dizer que o método hipotético-dedutivo (cujo foco é dado ao objeto de modo analítico) e o método fenomenológico-hermenêutico (cujo foco está na percepção do sujeito) estão descartados. Inclusive, é possível conciliar os métodos em diferentes fases de uma pesquisa (apesar de tal prática não ser muito recomendada por professores e orientadores na elaboração de um projeto científico). O grande diferencial da dialética é que o diálogo está em constante deslocamento, migrante, talvez até nômade, agregando conhecimentos, questionando, propondo novos caminhos sem nunca ficar estático. O próprio processo de criação de paradigmas é feito de ruptura e movimento.