Desde o final do século XIX e início do século
XX, a anarquia tornou-se popular pelas propagandas ligando-a ao caos e
destruição. Patrocinada por instituições políticas e religiosas, essa visão
errônea fez com que a ideologia anárquica fosse deixada às margens da
sociedade, sendo tratada como uma forma de pensamento extremista e inadequado
até os dias de hoje.
O que muita gente não sabe é do seu real
significado cujo objetivo é atingir uma evolução social. Dentro dessa linha de
pensamento existem diferentes segmentos com diferentes propostas. A falta de
conhecimento leva a massa a um preconceito contra essa forma de reflexão,
recriminando seus seguidores e deixando-se influenciar pela opinião pública
que, obviamente, apresenta um ponto de vista que seja favorável à suas ações e
relações. As classes dominantes não querem perder seu poder por posses
territoriais, contas exorbitantes provenientes da exploração da classe operária
como um todo.
O A da Anarquia não deve ser encarado como
sinônimo de armas e, sim, como a igualdade entre todos os seres humanos,
formando uma sociedade única, sem divisão territorial, sem bandeiras
nacionalistas, sem hinos que exaltem guerras passadas e futuras e, sobretudo,
sem o comando de um partido ou pessoa. As pessoas nascem para viver, nascem livres.
Somos todos iguais e por isso, não precisamos de uma hierarquia regendo o
sistema e dizendo o que fazer e como fazer. Quando o poder é dado para uma
pessoa ou um grupo, automaticamente estaremos tratando a sociedade com
diferenças. Privilégios isolados não representam o conjunto. O poder corrói e
sobe à cabeça da humanidade, podendo formar ditadores tiranos e lideres
excêntricos que visam a dominação ao invés da distribuição.
Em outras palavras, o capitalismo é a forma
mais rápida de sustentarmos o egoísmo e a individualidade, agredindo o próximo
e o meio em que vivemos. A população esquecida e injustiçada acaba pagando por
atos corruptos daqueles que deveriam estar representando seus eleitores. Temos que quebrar o tabu de que política não se discute.
O medo de novos pensamentos em prol de um
objetivo ainda maior é tudo que o sistema capitalista quer: soldados
desinformados que abaixem a cabeça e digam sim para o Senhor Soberano. Por que
não discutirmos sobre um sistema que visa a evolução do homem como um todo? A alienação do cidadão é o pior mal dentro da dinâmica mundial
vivida na globalização.
O imperialismo dominante nos dias atuais pelos
países que se dizem desenvolvidos é uma forma de exclusão do “restante” do
planeta. É o domínio das pessoas, tratando-as como massas para a realização de
interesses oligárquicos e/ou autocráticos. A democracia atual está envolta de
demagogia em que é possível notar, em seu interior, traços de tirania
espalhados pelo globo. A industrialização é a escravidão dos tempos
modernos, oriunda do mercantilismo expansionista medieval até chegar à
contemporaneidade. É esse tipo de sistema desigual que você pretende para seus
descendentes? O que eles têm que os tornam tão especiais? Parto do princípio de
que os homens são iguais perante a sociedade, respeitando suas particularidades
e sua dignidade. O caráter foi trocado pela barganha de quem paga mais.
Fantoches nas mãos de terceiros, um simples número, objeto substituível.
Condenação de manifestações pacíficas só porque
as mesmas não concordam com determinada ideologia adotada pelo governo. O
Estado tem agido violentamente contra a oposição em todos os continentes. No
Brasil, especificamente, políticos corruptos chegam a se aliar a grupos
criminosos para atingir seu objetivo de se tornar um falso representante da
população. A representação democrática é apenas uma forma de aumentar a
desigualdade, proporcionando poder para muitos que não estão aptos a conduzi-lo
de forme ética. Creio que a democracia direta, realizada através de referendos
e plebiscitos, seja muito mais compatível à vontade do cidadão.
O que dizer do voto obrigatório, do alistamento
militar obrigatório, dos tributos abusivos, das viagens parlamentares
particulares gastas com o dinheiro público? O moralismo exacerbado com base em uma política
distorcida cria barreiras invisíveis cujo objetivo é favorecer quem está no
poder. A ostentação da riqueza agride a cultura mundial com palavras de ordem
ao consumo e banalização do bem mais precioso que temos: a vida.
Anarquia significa ausência de um poder central
e por esse motivo creio que chegue muito mais próximo da democracia, tão citada
na sociedade moderna, do que propriamente as repúblicas que hoje existente no
cenário internacional. Uma forte fonte de inspiração são os ideias de
Revolução Francesa de 1789, tendo em mente sempre os três princípios
fundamentais para o bem social pensados por Jean-Jacques Rousseau: liberdade,
igualdade e fraternidade.
Muito se fala da liberdade de hoje, sobretudo
no ocidente, e essa é uma afirmação que não se pode negar. Porém, pergunto-me
quanto à igualdade e fraternidade. Creio que estamos longe de alcançar a
justiça e paz tão desejadas pela humanidade. Não busco com este material ser dono da verdade
ou revolucionário sem causa. É apenas uma forma de pensar fora da caixa
dogmática e paradigmática construída ao longo dos últimos séculos. O foco no
consumo e no acúmulo de bens tirou a centralidade do ser humano.
O capitalismo é uma realidade que não será
alterada do dia para a noite. Porém, busco iniciar o debate, levar à reflexão
e, desse modo, construir uma sociedade melhor com a participação de todos.
Juntos, unidos não por uma ideologia qualquer, mas pelo bem social.