domingo, 28 de agosto de 2016

Reflexão sobre a anarquia

Desde o final do século XIX e início do século XX, a anarquia tornou-se popular pelas propagandas ligando-a ao caos e destruição. Patrocinada por instituições políticas e religiosas, essa visão errônea fez com que a ideologia anárquica fosse deixada às margens da sociedade, sendo tratada como uma forma de pensamento extremista e inadequado até os dias de hoje.

O que muita gente não sabe é do seu real significado cujo objetivo é atingir uma evolução social. Dentro dessa linha de pensamento existem diferentes segmentos com diferentes propostas. A falta de conhecimento leva a massa a um preconceito contra essa forma de reflexão, recriminando seus seguidores e deixando-se influenciar pela opinião pública que, obviamente, apresenta um ponto de vista que seja favorável à suas ações e relações. As classes dominantes não querem perder seu poder por posses territoriais, contas exorbitantes provenientes da exploração da classe operária como um todo.

O A da Anarquia não deve ser encarado como sinônimo de armas e, sim, como a igualdade entre todos os seres humanos, formando uma sociedade única, sem divisão territorial, sem bandeiras nacionalistas, sem hinos que exaltem guerras passadas e futuras e, sobretudo, sem o comando de um partido ou pessoa. As pessoas nascem para viver, nascem livres. Somos todos iguais e por isso, não precisamos de uma hierarquia regendo o sistema e dizendo o que fazer e como fazer. Quando o poder é dado para uma pessoa ou um grupo, automaticamente estaremos tratando a sociedade com diferenças. Privilégios isolados não representam o conjunto. O poder corrói e sobe à cabeça da humanidade, podendo formar ditadores tiranos e lideres excêntricos que visam a dominação ao invés da distribuição.

Em outras palavras, o capitalismo é a forma mais rápida de sustentarmos o egoísmo e a individualidade, agredindo o próximo e o meio em que vivemos. A população esquecida e injustiçada acaba pagando por atos corruptos daqueles que deveriam estar representando seus eleitores. Temos que quebrar o tabu de que política não se discute.

O medo de novos pensamentos em prol de um objetivo ainda maior é tudo que o sistema capitalista quer: soldados desinformados que abaixem a cabeça e digam sim para o Senhor Soberano. Por que não discutirmos sobre um sistema que visa a evolução do homem como um todo? A alienação do cidadão é o pior mal dentro da dinâmica mundial vivida na globalização.

O imperialismo dominante nos dias atuais pelos países que se dizem desenvolvidos é uma forma de exclusão do “restante” do planeta. É o domínio das pessoas, tratando-as como massas para a realização de interesses oligárquicos e/ou autocráticos. A democracia atual está envolta de demagogia em que é possível notar, em seu interior, traços de tirania espalhados pelo globo. A industrialização é a escravidão dos tempos modernos, oriunda do mercantilismo expansionista medieval até chegar à contemporaneidade. É esse tipo de sistema desigual que você pretende para seus descendentes? O que eles têm que os tornam tão especiais? Parto do princípio de que os homens são iguais perante a sociedade, respeitando suas particularidades e sua dignidade. O caráter foi trocado pela barganha de quem paga mais. Fantoches nas mãos de terceiros, um simples número, objeto substituível.

Condenação de manifestações pacíficas só porque as mesmas não concordam com determinada ideologia adotada pelo governo. O Estado tem agido violentamente contra a oposição em todos os continentes. No Brasil, especificamente, políticos corruptos chegam a se aliar a grupos criminosos para atingir seu objetivo de se tornar um falso representante da população. A representação democrática é apenas uma forma de aumentar a desigualdade, proporcionando poder para muitos que não estão aptos a conduzi-lo de forme ética. Creio que a democracia direta, realizada através de referendos e plebiscitos, seja muito mais compatível à vontade do cidadão.

O que dizer do voto obrigatório, do alistamento militar obrigatório, dos tributos abusivos, das viagens parlamentares particulares gastas com o dinheiro público? O moralismo exacerbado com base em uma política distorcida cria barreiras invisíveis cujo objetivo é favorecer quem está no poder. A ostentação da riqueza agride a cultura mundial com palavras de ordem ao consumo e banalização do bem mais precioso que temos: a vida.

Anarquia significa ausência de um poder central e por esse motivo creio que chegue muito mais próximo da democracia, tão citada na sociedade moderna, do que propriamente as repúblicas que hoje existente no cenário internacional. Uma forte fonte de inspiração são os ideias de Revolução Francesa de 1789, tendo em mente sempre os três princípios fundamentais para o bem social pensados por Jean-Jacques Rousseau: liberdade, igualdade e fraternidade.

Muito se fala da liberdade de hoje, sobretudo no ocidente, e essa é uma afirmação que não se pode negar. Porém, pergunto-me quanto à igualdade e fraternidade. Creio que estamos longe de alcançar a justiça e paz tão desejadas pela humanidade. Não busco com este material ser dono da verdade ou revolucionário sem causa. É apenas uma forma de pensar fora da caixa dogmática e paradigmática construída ao longo dos últimos séculos. O foco no consumo e no acúmulo de bens tirou a centralidade do ser humano. 

O capitalismo é uma realidade que não será alterada do dia para a noite. Porém, busco iniciar o debate, levar à reflexão e, desse modo, construir uma sociedade melhor com a participação de todos. Juntos, unidos não por uma ideologia qualquer, mas pelo bem social.

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