sábado, 24 de setembro de 2016

Reflexão sobre a luta de classes

O atual governo Temer vem disparando propostas para vários setores com o intuito de tirar o foco do processo de impeachment que ainda o desgasta (tendo em vista a segunda votação no senado que manteve os direitos políticos de Dilma, rompendo de vez com a democracia). Assim está sendo com a questão trabalhista, reforma da previdência e, recentemente, com a reforma educacional proposta para o ensino médio. Diante de tantas medidas desesperadas me veio à cabeça a força que o poder político representou em todas as sociedades e que ainda o faz, transmitindo uma ideologia representativa da classe dominante (a que se encontra no poder) e acima dessa ideologia há uma outra ainda maior que mantém o status quo.

Durante paralisação de um ato sindical em Sorocaba nessa semana, um dos líderes do movimentou me chamou a atenção ao falar sobre a luta de classes, citando exemplos para exemplificá-la aos trabalhadores que ali estavam. Foi possível verificar nesse discurso em específico uma atenção maior dos presentes, que em meio a tantos discursos sindicais clichês finalmente se viam representados na fala de alguém que dizia sobre a união de todos os sindicados e, consequentemente, da classe trabalhadora para manter os direitos conquistados contra o patrão que visa expandir sua influência e poder em momentos de crise como a que enfrentamos atualmente no Brasil. Afinal, tempos de crise realmente são bons momentos de oportunidades (para os que possuem capital).

Karl Marx há muito tempo divide opiniões, sendo alvo de fortes críticas e de longos elogios. Mas o enfoque que este intelectual deu ao modo de produção e às suas consequências sociais foi inovador e continua atual, mesmo que alguns discordem (muitas vezes sem conhecer a fundo a sua obra). Criticar é fácil, difícil é formular uma ótica singular e diferenciada sobre a realidade invisível, mas que se faz presente no cotidiano. Como entrar no chão de fábrica hoje e não se lembrar das cenas do filme Tempos Modernos, do gênio Charles Chaplin? Afinal, o modo de vida se modificou após a Revolução Industrial do século XIX, introduzindo novos conceitos e mantendo velhos costumes, como a luta de classes. Primeiro a sociedade era dividida entre senhores e escravos, na Idade Média foram os senhores e os servos no feudalismo e hoje temos a burguesia e o proletariado em uma sociedade capitalista que trata a tudo e a todos como mercadorias em prol do bem maior (que no caso é o lucro). 

A sociedade contemporânea baseia-se nas relações trabalhistas onde o patrão possui os meios de trabalho e o trabalhador possui a força da sua mão de obra. Este molde, que perdura há séculos, fez com que os artesãos (mestres especialistas em determinada profissão) perdessem domínio, espaço e independência sobre o seu trabalho (fragmentado nas indústrias), mudando o ambiente de trabalho radicalmente das casas para as indústrias, tendo que bater cartão e que cumprir longas jornadas de trabalho. E o que as pessoas pensam sobre isso hoje em dia? Algo normal, que sempre existiu, quase que obra da natureza. Essa falta de percepção da própria condição em que o indivíduo não enxerga a  exploração da mais-valia é a chamada alienação. 

Com o fim da monarquia absolutista na Revolução Francesa, a burguesia quebrou o paradigma existente (em que reis governam para atender os próprios interesses e aos anseios da nobreza) para criar o seu próprio. Não basta ter apenas os meios financeiros, pois a dominação se faz por meios políticos, criando leis que os favoreçam, tornando o que antes era impróprio em legal e legitimo (basta ver o caso do atual presidente que abandoou o cargo de vice e também a ética). Portanto, é possível concluir que o Estado configura a ideologia da classe que está no poder. Daí vêm as iniciativas de Temer de tentar estabelecer os seus desejos, ainda que por medida provisória, passando por cima da própria população. Não consigo entender o fato de não gerar uma discussão sobre os temas e, posteriormente, colocá-los em votação por meio de plebiscitos.

Além da organização social gerada em torno do trabalho, o capitalismo traz a concepção materialista, gerando um verdadeiro fetichismo sobre produtos e mercadorias. Faz com que o ser humano seja apenas mais um produto e cria em seu interior o desejo de consumo, almejando aquilo que não tem ou mesmo o que não precisa. O trabalhador de hoje encontra-se na defensiva, perdendo o seu perfil revolucionário. O maior exemplo disso é a luta pela defesa de direitos já conquistados. E é de surpreender até ao mais pessimista quando a câmara dos deputados tenta passar, na calada da noite, um projeto de lei que criminaliza o caixa dois de forma não retroativa, livrando assim muitos dos amigos envolvidos na Lava Jato. De um lado (poder executivo) existem propostas de aumento da jornada de trabalho e no tempo de contribuição para a aposentadoria, do outro (poder legislativo) tenta-se passar uma lei para livrar a cara de políticos corruptos punidos pela Lava Jato. E quem ouve o povo? Quem cria leis pelo povo e para o povo? Aí me vem o Temer na reunião da ONU e diz que o Brasil se encontra em um momento de estabilidade. A República Democrática Brasileira está perdida.

A posição no modo de produção se reflete na posição social. Como é visto um médico e um professor perante a sociedade? Como se veste um advogado e um operador de produção? A luta de classes é algo presente há muito tempo e a ideologia da classe dominante sempre se fará até que venha outra classe e a derrube de modo revolucionário, gerando assim um novo paradigma com as concepções da nova classe dominante. O mal do capitalismo é invisível e se encontra na aceitação diária daqueles que se submetem ao sistema. A única forma de se obter a igualdade é através da extinção das classes e do Estado.

Viva a Anarquia Social!




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