quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Reflexão sobre o final do ano

Mais um ano chega ao fim e com ele as incertezas tipicamente humanas. Diante de tantos acontecimentos em um curto período de tempo fica difícil compilar todos os eventos em um texto, mas uma retrospectiva não é a intenção deste post. Como tudo o que acaba deixa marcas, creio que o mais importante aqui é refletirmos sobre o ser humano e suas condições. É inegável que nessa época do ano as pessoas fazem um esforço para serem melhores do que foram ao longo do ano inteiro, então tentarei ser sereno sem doses excessivas de ilusão otimista.

Creio que muitos concordam de que não foi um bom ano nos aspectos políticos e econômicos. Em Brasília o mesmo teatro de sempre, mas agora o novo jogo é a dança das cadeiras graças a operações do judiciário, como a tão famosa Lava Jato (talvez eleita a musa do ano). O imponderável tomou conta do cenário político, mas os fins continuam justificando os meios. Em outras palavras, o fim é a posse do poder e os meios é o atropelo social para com a população brasileira. Ao longo deste mês assisti a várias entrevistas de representantes dos três maiores partidos políticos do país (PMDB, PSDB e PT) e em todas a temática principal são os interesses e alianças para a tomada do poder, independente do que tenha que ser feito (e muitas vezes tais atitudes vão contra princípios legais e morais). 

Não precisa ser um expert em política para saber qual a situação do país e do mundo, basta assistir a Game of Thrones e lá teremos um ótimo resumo: são vários grupos que representam diversos interesses cujo objetivo é tomar o trono e reinar. Assim é com o capitalismo, como foi com o império romano, com o nazismo, com o fascismo, com o comunismo e com outro qualquer regime que chegou ao trono. Há um abismo entre o campo ideológico e a prática conforme a doutrina eleita a ser seguida. Desse modo, a tão sonhada liberdade, igualdade e fraternidade são deixados de lado. Até mesmo a Revolução Francesa teve as suas marcas negativas, dando origem à burguesia que no regime atual dita o certo e o errado para seres humanos que são tratados como gados, vistos apenas como um número entre tantos. Tudo tem dois lados e a tecnologia também, transformando a política em um meio de domesticar o povo por meio da massificação, despejando conteúdos (algumas vezes mentirosos) sem que seja realizada a devida análise e debate. Somos o gado no pasto sem saber quando será o abate.

E assim sobrevivemos: matando o tempo na internet e na tv antes que o tempo nos mate. E assim se vai mais um ano, com a sensação de que ficou muito a se fazer. Ainda há muito o que lavar para limpar o solo desta pátria. Enquanto isso o trabalhador perde direitos e garantias iludido pelo conceito de economia. O que é a economia se não um sistema criado pelo homem que vai além da troca de mercadorias necessárias para uma qualidade de vida? Vai além, muito além do que se precisa e isso faz com que poucos detenham muito e que o restante (que representa quase todo mundo) fique sem nada. E assim somos obrigados a nos submeter ao trabalho que não dignifica um ser racional, com um salário de subsistência. O que é o dinheiro se não um pedaço de papel que inverteu os valores sociais, onde o ter significa muito mais do que ser? 

Mesmo para um sonhador como eu fica difícil ser otimista e a cada ano que passa tenho a impressão de que o brilho da esperança fica um tanto quanto ofuscado na minha visão. As guerras nunca acabam. A Síria é só um exemplo de tantos outros conflitos que existem em toda parte do mudo. Veja os países ditos desenvolvidos com a incerteza do próximo atentado terrorista. Veja os conflitos na África. Na violência não existe distinção entre ricos ou pobres. Em uma sociedade moldada para a vitória, somos todos perdedores. E o medo de sair de casa de noite aqui no Brasil, onde facções criminosas estão cada vez mais organizadas, infiltrando-se na polícia e na própria política. A violência é a guerra constante de todos contra todos e nesse ponto Thomas Hobbes estava errado ao dizer que o homem era violento no estado natural e que a solução viria com a formação e manutenção do Estado e da propriedade privada. Pois bem, territórios (ou propriedade privada se preferir) ainda são alvos de disputas, guerras e mortes. E há quanto tempo que isso acontece? Certas vezes o que há é o inverso: a naturalização da violência. 

As pessoas se dizem mais propensas à fraternidade nessa época do ano, mas por que só agora? É hipocrisia querer ser alguém que não é. Passam o ano inteiro brigando para ter algumas semanas de paz. E o pior, essa paz vem banhada de álcool, consumo e imprudência. Será que a humanidade se vendeu? Apenas mais um objeto nas mãos de pessoas mais preocupada em pagar a dívida para os banqueiros do que em cuidar da sociedade que os elegeu. E refletindo temo que 2016 se prolongue, como uma prorrogação interminável de futebol, pelos próximos dez anos ou mais, muito graças a uma equipe econômica que trata a população com comprimidos de placebo. O erro não está apenas nas PECs, mas na aceitação do sistema como um todo. Enquanto houver capitalismo haverá FMI (Fundo Monetário Internacional) e haverá dívida externa por uma colonização de exploração. Haverá banqueiros e empresários faturando com a desgraça dos outros, sedentos por mais e mais, até criarem uma nova guerra. Quanto custa uma vida? Pelo visto, a cada ano que passa a alma perde seu valor,

Sabe qual a melhor parte do final do ano? É ter a esperança que ano que vem as coisas vão melhorar e que tudo pode mudar, mesmo depois de tudo o que aconteceu. É olhar para a cidade da janela de casa e sentir o vento da noite e o silêncio. Ver o céu e as estrelas e sentir a tranquilidade da vitória por vencer mais um ano. Sim, somos lutadores e vencedores por suportar mais um ano de pancadas. E com as mudanças desse ano eu tenho a impressão de que no fundo nada mudou: tudo faz parte de um ciclo de corrupção e injustiça que vem e vai. E assim é o universo: horas conspira a nosso favor, horas conspira contra, sem ao menos nos dar o mínimo de respostas e explicações. O bom de dezembro é reencontrar amigos e rever parentes, mesmo com a dor daqueles que não estão mais entre nós. E final de ano é sempre assim, é hora de voltar a sonhar e pedir para que as coisas melhorem. Desejos de saúde e paz, será que é pedir demais? É tempo de nos tornamos humanos e talvez voltarmos à consciência, mesmo que por poucos dias. 

Sendo assim, gostaria de agradecer a todos os amigos e parentes que estiveram comigo ao longo de 2016. Agradeço também a todos os que visitam o blog e que refletem comigo. E que se faça a justiça e o amor, que se faça a revolução da consciência do ser humano e do seu estado de aprisionamento. E que encontremos no final do arco-íris o nosso pote de felicidade. Espero que nossas vidas melhorem e com ela o meio em que vivemos. Que o trenó da esperança nos visite mais vezes. Feliz natal e ano novo!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Reflexão sobre a distribuição de renda

Muitas propostas de emendas à constituição (as chamadas PECs) estão em debate nesse final de ano. São utilizadas como forma de defesa pessoal dos envolvidos contra as denúncias de desvio de recursos e corrupção ativa que assolam a classe política. Renan Calheiros, do alto de seu trono no senado, adota os mesmos passos de Eduardo Cunha enquanto presidente da câmara, utilizando as votações como forma de revide ao judiciário (no caso de Cunha fora uma retaliação à ex-presidente Dilma). O governo Temer e sua articulação continuam entre a cruz e a espada: de um lado a pressão social pela melhora econômica prometida que não veio e a insatisfação com os escândalos envolvendo a cúpula do PMDB; do outro lado está a dependência do executivo para com o legislativo que os faz ficar de joelhos para obter capital político com o intuito de aprovar as suas respectivas propostas. Refletirei que a base de todas esses conflitos está na má distribuição de renda.

O fato é que com o término do mandato de Renan Calheiros como presidente do senado faz com que o mesmo adote uma celeridade nas votações de temas ainda em discussão e pouco deliberados entre o Estado e a sociedade civil. Desse modo, assuntos delicados são tratados como meros objetos de barganha cujo objetivo é a própria salvação ao invés do bem estar social. Podemos começar pela aprovação da PEC 241 (também conhecida como PEC 55). Esta estabelece um teto para os gastos públicos para os próximos 20 anos. Mas como um governo que usurpou o poder pode saber o que é melhor para o país nos próximos anos sendo que os mesmos não sabem o que acontecerá no dia seguinte? O correto seria o governo dar o exemplo com cortes substanciais na própria carne, reduzindo a estadania que hoje impera no país. 

Com essa proposta o PMDB paralisou os investimentos sem ao menos saber quais serão as demandas oriundas para os próximos governos. É como se um péssimo gestor dissesse para os outros que virão como proceder. Vale lembrar que essa má gestão do executivo e legislativo (tanto federal quanto estadual) vem levando o Brasil ao colapso do tripé primordial para a manutenção de um Estado saudável: saúde, ensino e segurança. Um primeiro passo a ser dado antes da aprovação dessa PEC seria a eliminação de vários benefícios dos políticos, tais como o auxílio paletó. Se boa parte da população vive com um salário mínimo, por que os políticos podem ganhar muito mais do que dez vezes desse valor?

Outra questão é o projeto de lei que visa combater o abuso de autoridade. Obviamente que o abuso de autoridade deve ser combatido, mas no corpo dessa proposta está a intenção de intimidar as instituições do judiciário, como o Ministério Público. Dessa forma, Renan Calheiros objetiva ter uma carta na manga caso as acusações contra a sua pessoa prossigam, tornando-o réu da justiça. A celeridade dessa votação espantou os próprios aliados de Renan, muito pelo fato dele estar acuado pelo fim do seu mandato como presidente da casa, perdendo assim parte do seu poder. O poder, sempre o poder no jogo político.

Por fim, citarei aqui a reforma da previdência, tão defendida pelo governo Temer. Parece claro para todos de que uma reforma na previdência se faz necessário. Entretanto, esta é uma proposta que desfavorece os trabalhadores e as classes mais baixas, tendo em vista que o trabalho de um cortador de cana é muito diferenciado de um administrador de empresas. Foi amplamente divulgado pela Globo News em seus telejornais a opção de uma previdência privada. O problema é que vários trabalhadores mal possuem renda para o sustento da família, muito menos teriam condições de pagar uma previdência privada (que por sinal agrada muito aos bancos). Inclusive, a jornalista Mara Luquet afirmou que os protestos da população tratavam-se de uma verdadeira falta de informação dos manifestantes que, segundo ela, agiam sem conhecer os fatos.

Pois bem, volto aqui a defender as ferramentas democráticas de participação e deliberação, referendos e plebiscitos. Novamente o governo toma atitudes unilaterais sem ouvir a opinião pública. A raiz de todas essas questões está na má distribuição de renda. Como admitir que desembargadores federais recebam mais do que 150 mil reais de remuneração, sendo que o salário mínimo vigente não passa dos mil reais? Como admitir exceções nas regras, como as concedidas a políticos e militares? Os super salários estão muito acima do necessário para se viver bem, enquanto que o salário mínimo está muito abaixo para que se tenha uma qualidade de vida. As pessoas não precisam ganhar igual, mas a distribuição de renda equilibrada é fundamental para debater questões como ensino, aposentadoria, gastos, entre outros. Sou contrário ao assistencialismo patriarcal e desnecessário, mas não podemos fechar os olhos para a desigualdade.

A sede em ter cada vez mais cria o fetichismo e o consumismo que vai muito além do necessário para uma boa vida, transformando-se em objeto de usura, assim como dito por Aristóteles em sua obra "Política". O ser há muito tempo foi substituído pelo ter e o ter é cada vez mais objeto de disputa e ostentação. Enquanto não houver um equilíbrio justo na distribuição de renda e um tratamento igualitário entre os cidadãos, a economia sempre estará em débito.  




sábado, 10 de dezembro de 2016

Reflexão sobre o endividamento dos estados brasileiros

Muitos dizem que o estado de anarquia seria o caos social completo, sem ao menos conhecer o real significado da palavra. Sendo assim, como classificar o momento atual do país (tendo-se em vista que vivemos em uma república democrática federativa)? No começo deste ano cansei de ouvir pessoas dizendo que o impeachment da Dilma seria o início de uma guinada política e econômica. Pois bem, já estamos em dezembro e ao que parece o buraco só aumenta. Basta olhar para o Rio de Janeiro que fica fácil constatar que o problema não se restringe a uma pessoa ou partido. Alguns cidadãos estão tão preocupados com políticas externas sem enxergar que o momento é de arrumar a bagunça que está dentro de casa.

Traficantes dominando morros "pacificados", o sistema de saúde na UTI, escolas sem professores dominadas por drogas, a polícia recebendo propina do crime enquanto políticos recebem dinheiro ilegal de empresas privadas para as campanhas dos respectivos partidos. Funcionários públicos e prestadores de serviços sem receber enquanto joias e viagens são pagos com o dinheiro público. Não é só o Rio de Janeiro que está nessa situação, mas é o exemplo que melhor personifica os danos da má administração que mente durante a campanha eleitoral, adotando políticas públicas que não condizem com os anseios da população. O cenário atual só reforça a minha convicção na extinção dos estados, que só geram um custo desnecessário. Desse modo, os municípios e a união seriam responsáveis pela gestação pública até que o conceito de nação fosse extinto.

Outros tópicos defendidos em minha Anarquia Social também ganham força, além da eliminação dos estados: a extinção do sistema representativo e do político profissional cuja função seria representar os demais nos assuntos públicos. A democracia atual é só uma forma dos eleitores escolherem qual elite os dominará, impondo a sua ideologia ao modo de vida dos demais, como se os servos escolhessem o seu senhor. O assistencialismo deve ser trocado por investimentos pesados em saúde, educação e segurança. Afinal, do que adianta dar o dinheiro se não ensinar a pescar? Estamos criando pessoas eternamente dependentes do Estado e a maior prova desse patriarcalismo é notado nas urnas. É preciso ter coragem para realizar os cortes necessários para ser coerente com as reformas propostas. A filosofia de fazer de tudo para agradar as massas com o objetivo único de se manter no poder deve ser evitada, pois em muitos casos contraria a prudência e a racionalidade.

As últimas delações da Lava Jato tornam mais evidente a tese que levantei no primeiro post, dizendo que o impeachment deveria ser para todos, pois um partido só não teria ocasionado toda essa crise. As pessoas se esqueceram do que é o jogo político e suas alianças, gritando nas ruas apenas "fora Dilma" ou "fora PT". Pois aí está, acusações sérias contra Temer, José Serra, Geraldo Alckmin, Romero Jucá, Renan Calheiros, Rodrigo Maia, Eduardo Cunha, Agripino, entre tantos outros. Notem que temos o presidente do país, o presidente do senado e o presidente da câmara envolvidos em um esquema antigo de corrupção. E agora? Mas o Brasil não iria melhorar já no final do ano (tipo agora)? Espero que todos os que foram às ruas com a camisa da seleção brasileira no começo do ano voltem às ruas, mas dessa vez com um discurso mais coerente e com gritos de "fora" mais abrangente, contendo também PSDB e PMDB. Os três grandes partidos do Brasil há tempos não refletem o interesse do povo e mesmo assim continuam no poder. Brasil, quando será a hora de mudar verdadeiramente? 

Permanecer do jeito que está é persistir em um sistema falido. O capitalismo já apresenta sinais de cansaço. Cansaço na cara do trabalhador que acorda às cinco horas da manhã e agora não vê sinal de aposentadoria no horizonte. Cansado ao ver o dinheiro público desviado em cuecas de grife e maletas importadas ao invés de reverter em bens para a sociedade, como mobilidade e transporte público. Cansado ao ver direitos serem perdidos por pessoas de terno e gravata que nunca souberam o que é realmente trabalhar e ser assalariado. Não sou a favor de revoluções abruptas, armadas e não planejadas, mas Marx estava certo ao apontar como caminho a revolução ou a eterna submissão. E por enquanto ainda somos os servos enriquecendo uma minoria cada vez mais rica. Políticos que nunca foram proletariados representam um povo repleto de marcas e calos. Onde estão os calos nas mãos desses que falam por nós?

Para onde foi o dinheiro dos nossos impostos, os investimentos da copa, as promessas das olimpíadas? Vamos refletir, faz bem para a mente. Não podemos nos esquecer que aqueles que estão hoje no poder e que criticam a política dos últimos anos são os mesmos que estavam com o Lula desde 2002. Tomaram o poder e agora os escândalos atingem todos os presidentes do mais alto escalão do executivo e do legislativo. O que antes eram renúncias de ministros envolvidos em casos de corrupção agora já afetam o atual governo, como um câncer que afeta todo o sistema imunológico. Espero que não seja tarde demais para que a cura seja diagnosticada. Não é possível admitir que esse governo que aí está chegue até o fim de um mandato que eticamente não lhe pertence, pois eles fizeram parte do governo do PT todos esses anos. 

Lembro-me do trecho de uma das músicas dos Titãs quando penso no governo Temer e no PMDB de um modo geral: "Não é que eu vou fazer igual, eu vou fazer pior!". As punições devem atingir todos os culpados, independente da sigla do seu partido ou da cor da bandeira que o representa. A mudança real está na educação e, posteriormente, na Anarquia Social.