sábado, 26 de agosto de 2017

Reflexão sobre o cenário presidencial para 2018

Calma caro leitor, sei que estamos há mais de um ano para as eleições de 2018. Entretanto, articulações já são feitas, alianças estão sendo construídas nos bastidores e o marketing indireto já domina as redes sociais (de modo a não caracterizar propaganda eleitoral antecipada). Com isso temos para o ano que vem um momento amplamente aguardado e almejado por aqueles que objetivam a obtenção do poder. Sendo assim, parece correto afirmar que tal cenário configura um momento de inflexão para o país mesmo antes de se tornar realidade e, posteriormente, história. As cartas estão na mesa e para uma programação vitoriosa é necessário planejamento e atitude desde já. Restringirei esta reflexão para a análise focada no cenário presidencial, tendo em vista a importância deste para um sistema presidencialista situado na América Latina.

A instabilidade pela qual o Brasil atravessa tem como ponto decisivo as eleições de 2018, podendo significar a retomada do crescimento ou a derrocada nacional por mais 4 anos. Essa incerteza acirra ainda mais os ânimos dos extremos dentro do espectro ideológico. Problemática maior é a divisão polarizada da população, dificultando o diálogo e, consequentemente, propostas que unam posições tão distantes. Não é possível agradar gregos e troianos e, sendo assim, há o favorecimento do personalismo por meio de figuras famosas e "não-políticas" que serão utilizadas por partidos, sobretudo de quadros (cujas origens estão dentro do congresso). Do personalismo paternalista temos como consequência possível o populismo e o radicalismo nos debates. Não querendo ser pessimista, mas o cenário para a próxima eleição é de extrema tensão, com agressividade não só nas discussões, mas também nas plataformas digitais e nas ruas. 

Como possíveis candidatos, ainda não confirmados, que disputarão a cadeira presidencial temos (de momento): Alckmin, Bolsonaro, Doria, Lula; talvez Ciro e Marina. Obviamente que o imponderável deve ser levado em conta, ainda mais em momentos de Lava Jato e tantas outras operações oriundas do judiciário. Em tal disputa creio não haver boas perspectivas de mudanças, ainda que seja possível, por meio de programas e políticas públicas, realizar uma melhora, sobretudo na esfera econômica. Isso porque o mercado econômico é movido por especulações e perspectivas de cenários futuros e reagem de acordo com aquilo que acham que podem acontecer, utilizando tendências que nem sempre se concretizam. Não é a minha intenção aqui ser vidente, apenas analisar os fatos tais como são para esboçar um possível cenário futuro.

Então vamos lá. Bolsonaro é a aposta dos nacionalistas e da extrema direita, com discursos de ódio contra minorias defende os "bons costumes" e a ideologia militarista, mesmo que para atingir tal fim tenha que utilizar de meios violentos. Do outro lado dessa linha temos Lula, uma figura tão desgastada e controversa, envolvido em tantos escândalos de corrupção que pode ser condenado em segunda instância e, consequentemente, impedido de ser candidato a qualquer instante. Mesmo assim é um forte candidato ao segundo turno segundo pesquisas, o que aumentaria ainda mais a agitação popular. Apesar de não representar a real esquerda nacional é tido como principal opositor aos demais nomes apresentados em uma eterna luta do "ele contra a gente". Alckmin é a velha nova aposta de um PSDB rachado, conivente e submisso ao PMDB. Também envolvido em casos de corrupção no estado de São Paulo, Alckmin parece ser aquele político que quer a presidência a todo custo, repleto de "boas intenções" não se cansa de perder. Seguindo os passos de Lula, pretende atingir o seu objetivo pela persistência. De qualquer modo, apesar do cenário atual abrir espaço para o novo e desconhecido, imagino haver uma repetição das últimas eleições, com o debate e intenções de votos polarizados entre os três maiores partidos. 

Doria é a grande incógnita. Mal fora eleito prefeito e já quer ser presidente, buscando dar um passo maior do que a perna. Os sábios gregos já diziam sobre temperança, prudência e paciência, virtudes estas que o atual prefeito de São Paulo nunca ouviu. Como exemplo é possível citar o descompasso com as medidas adotadas nas marginais (aumentado o número de acidentes e óbitos), na Cracolândia (espalhando usuários e traficantes pelo centro da cidade) ou mesmo nos grafites dos muros (apagando-os de maneira unilateral). Fica difícil para alguém que como eu fui assaltado com arma de fogo em plena capital paulista neste ano achar que Doria é a grande figura que inovará e mudará (para melhor) o país. 

No fundo nada mudou, apesar de o mesmo se dizer um "não-político", mesmo sendo prefeito de uma cidade. Sua máquina de dinheiro e propaganda é grande e é exatamente nesse ponto que reside o perigo. Atacando a oposição com ferocidade corre o risco de abandonar o partido que o lançou, o governador que o apoiou e os eleitores que o escolheram. Ele precisa de mais tempo, mostrar mais trabalho, não apenas fazer pose e tirar foto com roupa de servidores atuando por cinco minutos diante das câmeras. A gestão pública é diferente da administração privada, pois o resultado final impacta uma população inteira cujo objetivo é o seu bem-estar. Nas instituições privadas o foco principal é o lucro e ele, como empresário, possui o poder moderador, coisa que não terá na esfera pública (a menos que crie uma nova ditadura). Ainda assim, caso candidate-se, é um nome forte para chegar ao segundo turno, seja pelo PSDB, PMDB, DEM ou outro partido que adote-o. 

Quanto à Marina e Ciro eu só me pergunto por onde eles andam. A eleição 2018 é aqui e agora, mas ambos são figuras que aparentemente só surgem no cenário nacional no período eleitoral. Uma candidatura de Temer é possível, mas a lama em que o mesmo está metido é tanta que seria uma verdadeira vergonha nacional. A força do PMDB é grande (herança dos tempos da ditadura militar), mas Temer é uma figura tão desgastada recentemente que sua fragilidade torna-se um ponto fraco para o próprio partido. Buscar uma nova candidatura para manter o foro privilegiado parece ser uma decisão racional, mas creio que a probabilidade maior de obtenção de sucesso no caso Temer é na disputa para deputado. 

Aos demais partidos que não se decidiram por plataformas de governo ou mesmo candidatos sugiro ação imediata, ou ficarão para trás. Obviamente que até lá outros nomes surgirão e outsiders podem vir a configurar no mainstream. Como dito no post anterior, o novo é desejado, mas nem sempre representa um real desenvolvimento. Apesar de torcer por uma renovação na política brasileira, temo que oportunistas surjam e obtenha o poder, assim como fora com Jânio e Collor. Os Tiriricas estão à espreita aguardando o seu voto de protesto para afundarem de vez o país. Isto serve não apenas para o cenário presidencial.

Sobre o debate, provavelmente girará em torno de questões econômicas e possíveis medidas para obter novamente o crescimento. Sendo assim, aspectos sobre o PIB, balança comercial, desemprego, áreas de investimentos, cortes públicos, tributação e grau de intervenção estatal são tópicos prováveis nas discussões de 2018, sobretudo devido à atual crise econômica no país. Note, caro leitor, que o foco será crescimento econômico e não desenvolvimento. Temas como segurança, educação e saúde também farão parte da esfera central de assuntos debatidos, o que se torna quase que um clichê tendo-se em vista a precariedade contínua desses três pilares sociais, presentes historicamente nos debates desde a redemocratização do Brasil. Por fim, não podemos nos esquecer das baixarias dos últimos debates, onde o teor político é esquecido, abrindo espaço para acusações e trocas de ofensas. Várias promessas serão feitas, mas fique atento porque poucas serão concretizadas. 

Também é necessário aguardar o resultado da chamada "reforma política" e suas consequências para o sistema eleitoral, sobretudo para a eleição de deputados. De qualquer modo haverá a continuidade da influência regionalista e do clientelismo na relação entre governadores e deputados. Há de ressaltar que a real mudança é sistêmica e não essa dependência de uma figura salvadora, com aspectos quase messiânicos. 

Sem pretender fazer previsões do tempo, imagino que o clima para 2018 estará quente. Creio que a divisão existente hoje, que vem crescendo desde 2013, encontrará o seu auge nas próximas eleições. Tal divisão me leva a acreditar que haverá segundo turno para a disputa presidencial, seguindo a dualidade existente nas eleições anteriores entre PT e PSDB (obviamente que as alianças serão fatores determinantes para uma análise mais precisa). Parece-me claro que, assim como outros momentos de ruptura na história do Brasil, se as elites não forem atendidas (militares, empresários e grandes proprietários de terra) a tensão persistirá, assim como fora no fim da monarquia, no golpe de Vargas, na ditadura militar e, mais recentemente, com o golpe do Temer (reflexo da alta divisão das ruas e das urnas). Como última afirmação deixo aqui uma dica: cuidado com os vices.


terça-feira, 15 de agosto de 2017

Reflexão sobre o neomercantilismo

Em tempos de protecionismo torna-se evidente a sensação de dois passos para trás após um passo para frente. Os acontecimentos recentes mundo afora mostram um movimento antiglobalização. Algo parecido com o início do século passado, com pessoas cada vez mais impacientes e raivosas encontrando o inimigo no diferente. Ameaças e tensão militar. Talvez a maior utopia política seja a paz, já que para alguns teóricos a guerra é a extensão da política por outros meios. Tal reflexo gera radicalismo dentro e fora do país, como uma doença que afeta a população em escala global, dividindo as pessoas. Querem fúria, querem vantagens, querem lucro e querem sangue.

O "novo" cada vez está mais presente na atualidade para se referir à volta de termos antigos, tais como neoliberalismo, neonazismo e por que não dizer neomercantilismo? Como comprovação não precisamos nos debruçar em detalhes, basta analisar a saída dos Estados Unidos do acordo de Paris, a implosão da chamada social-democracia, a estagnação dos blocos econômicos (tão difundidos nos anos 90) ou mesmo o Brexit (processo de desligamento do Reino Unido da União Europeia impulsionado pela Inglaterra). 

A pauta é a preservação de recursos, protecionismo econômico e muro contra imigrantes. Jogo de cálculos e misseis cuja fórmula errada pode deflagrar a próxima guerra. De repente nos vemos na velha nova guerra fria com casos de espionagem e interferência russa nas eleições estadunidenses, favorecendo uma figura que dá legitimidade ao radicalismo. De repente nos deparamos com golpes de Estado (como no caso Temer), ditaduras gerando guerra civil (como na Venezuela) ou mesmo a ascensão do populismo de massas. A idolatria por Hitler e Mussolini ganha cada vez mais adeptos na Alemanha, Estados Unidos e aqui no Brasil. Cuidado, o autoritarismo vai muito além de simpatia.

A globalização traz consigo a quebra de fronteiras e com isso uma certa unidade entre os povos. Críticos acusam este processo como sendo danoso para a identidade nacional e para a economia local. É evidente que a globalização possui lados positivos e negativos (assim como tudo na vida). O problema não é a discussão sobre os limites da mesma, mas sim o extremismo que tem acompanhado tal debate. A questão não se restringe ao aspecto econômico, como balança favorável, mas atinge a esfera militar, polarizando os cidadãos e incentivando a violência. A complexidade nacionalista transforma-se em supremacia branca (como em Charlottesville), muros em fronteiras (como na divisa entre Estados Unidos e México), luta contra diferentes ideologias políticas ou mesmo conflito religioso (como no Oriente Médio). 

Não há nada de novo no termo "neo". No fundo são os mesmo conflitos e dilemas de um século atrás. Temo continuar nesse processo de regressão até chegar ao "neofeudalismo", só que dessa vez ao invés de espadas serão utilizadas armas nucleares. O jogo de interesses continua e as consequências do colonialismo ainda estão presentes, basta notar a exclusão do continente africano nas tomadas de decisões globais, sendo praticamente um continente esquecido. A agenda internacional ainda é ditada por um grupo seleto de atores que não chegam a dez. O pior é ver que o Brasil continua perdido em suas relações externas, sem independência e autonomia, uma eterna nação submissa.

Há uma retração global para dentro das próprias divisas e desconfiança mútua. Talvez seja um bom momento para o Brasil levar a sério o projeto desenvolvimentista interno. A extrema-direita cresce nos quatro cantos e a melhor forma de combater tal fato é por meio do planejamento estratégico nacional, sem deixar se afetar pela admiração fascista das elites que buscam unicamente manter o poder. O que realmente mudou do último século para cá além do avanço tecnológico? Quais conquistas políticas e sociais podemos nos orgulhar ao longo desse tempo? O feudo agora é Brasília, com seus extensos muros distanciando os senhores feudais da realidade brasileira. Quanto a nós, somos os vassalos em busca de um pedaço de terra para a moradia e trabalho de subsistência, entregando a mais-valia para os senhores da política.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Reflexão sobre o golpe

Dois pesos iguais cujas medidas (e consequências) são diferentes. Prazer, essa é a política nacional, revogando o resultado das urnas para criar uma sistemática congressista própria. Basta voltar ao primeiro post deste blog para entender: se for para tirar uma então tem que tirar todos, fazer a regra valer sem exceções. Porém, não funcionou para o sucessor (que nesse momento deve estar rindo da população). Se improbidade administrativa dá impeachment, corrupção passiva e formação de quadrilha deveriam dar cadeia. Se ceder ao sistema econômico dá impeachment, abrir o cofre para comprar o voto de parlamentares para se manter no poder também deveria dar impeachment. Mas não.

Lembro-me das alegações dos ilustres deputados e senadores na ocasião da aceitação do pedido de impeachment da Dilma alegando falta de governabilidade, já que a então chefe do executivo possuía apenas 10% de aprovação, segundo pesquisas. Ora, segundo pesquisas, o senhor vampiro Michel Temer possui 5% de aprovação. Pois bem caro leitor, não precisa ser matemático para notar que o mesmo possui metade do índice apresentado pela gestora anterior. Vou além, de acordo com o artigo Presidencialismo de Coalizão e Governabilidade: Avaliação e Desempenho Político-Institucional dos Governos Dilma Rousseff e Michel Temer na Imposição de suas Agendas Prioritárias no Período 2011-2017, os autores Audren Azolin, Diogo Tavares de Miranda e Luiz Fernando Nunes Moraes constataram uma taxa de sucesso do poder executivo de 81,43% durante o governo Dilma 2 contra 77,43% de Temer. Como diria meu amigo engenheiro: contra dados e fatos não há argumentos.

Obviamente que em um sistema político personificado pelo presidencialismo, a figura deste torna-se a de um patriarca perante a sociedade e para formar a coalização é necessário angariar aliados. Portanto, o cerne do problema está na sistematização vigente. O fato de todos os grandes roubarem corrobora para tal análise. Reformas eleitorais pontuais que só favorecem os próprios políticos profissionais não é sinônimo de reforma política. Se o Estado é democrático de direito, então não seria necessário uma judicialização, tampouco se preocupar com a usurpação do poder. Foi golpe, é golpe e se as coisas não mudarem drasticamente até as próximas eleições corremos o risco de ter um golpe explícito por tempo indeterminado.

A problemática não restringe-se à (falta) de punição. Vai muito além, passando pela passividade da população diante de tantos escândalos de corrupção, defendendo uma bandeira que contraria as suas origens. Muitos falam não esquecer suas raízes. Será? Quais os resultados do terceiro mundo? Ruas vazias, redes sociais polarizadas e a mídia quieta. Cadê os patriotas contra a corrupção com a camisa da seleção? Enquanto isso muitos estão aí, sendo alguém que não são, desempregados e submissos. É hora de acordar não acha?

E se você ainda sente-se relevante sozinho, lembre-se que o apoio de apenas 5% foi suficiente para Temer permanecer no governo. A nós resta permanecer de pé, com a cabeça erguida e lutando. No fundo a questão não é quantitativa, basta ter o apoio da classe dominante. Para entender tal conceito é só recorrer ao estudo das elites e como elas se sentem ameaçadas na alteração do status quo. Se você não faz parte dessa elite seleta de militares, empresários e políticos profissionais, cuidado! Pense bem nas condições em que sua prole estará sujeita caso esteja pensando em ter um filho. 

É possível concluir, por meio de dados, fatos e argumentos que foi e continua sendo golpe. Para comprovar tal análise basta ler um pouco, sair do mainstream que controla a opinião pública e busca impor o seu ponto de vista sobre as massas. Melhor falar sobre a transferência do Neymar não é mesmo?! Se bem que nem o futebol nacional está livre de corrupção. E antes de terminar vale lembrar: existem ditaduras no mundo com viés capitalista e apoio das mesmas elites que governam aqui. O trauma anarquista/socialista que faz parte do imaginário brasileiro deve-se ao alinhamento do país ao longo dos anos. Importamos esse medo com o intuito de relações econômicas favoráveis. A história é clara: quem apoiou o fim da monarquia, a ditadura Vargas e o golpe militar? Os mesmos que aí estão, ainda oligarquizando o poder em seu seleto grupinho. Lembre-se: a ditadura não restringe-se a um país tirano rotulado de esquerda, basta olhar para as ditaduras contemporâneas do Oriente Médio e da África. Não importa quantos morram, desde que no final toque o hino nacional das elites. 

Só para reiterar: é golpe, basta abrir os olhos, é golpe! Deixo aqui o meu recado: FORA TEMER!