terça-feira, 15 de agosto de 2017

Reflexão sobre o neomercantilismo

Em tempos de protecionismo torna-se evidente a sensação de dois passos para trás após um passo para frente. Os acontecimentos recentes mundo afora mostram um movimento antiglobalização. Algo parecido com o início do século passado, com pessoas cada vez mais impacientes e raivosas encontrando o inimigo no diferente. Ameaças e tensão militar. Talvez a maior utopia política seja a paz, já que para alguns teóricos a guerra é a extensão da política por outros meios. Tal reflexo gera radicalismo dentro e fora do país, como uma doença que afeta a população em escala global, dividindo as pessoas. Querem fúria, querem vantagens, querem lucro e querem sangue.

O "novo" cada vez está mais presente na atualidade para se referir à volta de termos antigos, tais como neoliberalismo, neonazismo e por que não dizer neomercantilismo? Como comprovação não precisamos nos debruçar em detalhes, basta analisar a saída dos Estados Unidos do acordo de Paris, a implosão da chamada social-democracia, a estagnação dos blocos econômicos (tão difundidos nos anos 90) ou mesmo o Brexit (processo de desligamento do Reino Unido da União Europeia impulsionado pela Inglaterra). 

A pauta é a preservação de recursos, protecionismo econômico e muro contra imigrantes. Jogo de cálculos e misseis cuja fórmula errada pode deflagrar a próxima guerra. De repente nos vemos na velha nova guerra fria com casos de espionagem e interferência russa nas eleições estadunidenses, favorecendo uma figura que dá legitimidade ao radicalismo. De repente nos deparamos com golpes de Estado (como no caso Temer), ditaduras gerando guerra civil (como na Venezuela) ou mesmo a ascensão do populismo de massas. A idolatria por Hitler e Mussolini ganha cada vez mais adeptos na Alemanha, Estados Unidos e aqui no Brasil. Cuidado, o autoritarismo vai muito além de simpatia.

A globalização traz consigo a quebra de fronteiras e com isso uma certa unidade entre os povos. Críticos acusam este processo como sendo danoso para a identidade nacional e para a economia local. É evidente que a globalização possui lados positivos e negativos (assim como tudo na vida). O problema não é a discussão sobre os limites da mesma, mas sim o extremismo que tem acompanhado tal debate. A questão não se restringe ao aspecto econômico, como balança favorável, mas atinge a esfera militar, polarizando os cidadãos e incentivando a violência. A complexidade nacionalista transforma-se em supremacia branca (como em Charlottesville), muros em fronteiras (como na divisa entre Estados Unidos e México), luta contra diferentes ideologias políticas ou mesmo conflito religioso (como no Oriente Médio). 

Não há nada de novo no termo "neo". No fundo são os mesmo conflitos e dilemas de um século atrás. Temo continuar nesse processo de regressão até chegar ao "neofeudalismo", só que dessa vez ao invés de espadas serão utilizadas armas nucleares. O jogo de interesses continua e as consequências do colonialismo ainda estão presentes, basta notar a exclusão do continente africano nas tomadas de decisões globais, sendo praticamente um continente esquecido. A agenda internacional ainda é ditada por um grupo seleto de atores que não chegam a dez. O pior é ver que o Brasil continua perdido em suas relações externas, sem independência e autonomia, uma eterna nação submissa.

Há uma retração global para dentro das próprias divisas e desconfiança mútua. Talvez seja um bom momento para o Brasil levar a sério o projeto desenvolvimentista interno. A extrema-direita cresce nos quatro cantos e a melhor forma de combater tal fato é por meio do planejamento estratégico nacional, sem deixar se afetar pela admiração fascista das elites que buscam unicamente manter o poder. O que realmente mudou do último século para cá além do avanço tecnológico? Quais conquistas políticas e sociais podemos nos orgulhar ao longo desse tempo? O feudo agora é Brasília, com seus extensos muros distanciando os senhores feudais da realidade brasileira. Quanto a nós, somos os vassalos em busca de um pedaço de terra para a moradia e trabalho de subsistência, entregando a mais-valia para os senhores da política.

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