quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Reflexão sobre educação e ensino

Em semana de Exame Nacional do Ensino Médio (vulgo ENEM) é válido refletir sobre educação e ensino. Apesar de aparentemente ambas possuírem o mesmo significado, as palavras educação e ensino possuem definições diferentes, possuindo valores muitas vezes esquecidos (ou invertidos) pela sociedade. Não que as mesmas divirjam totalmente entre si, mas é preciso elucidar o que cada uma representa para a partir daí formularmos um conceito amplo aceitável.

Inicialmente é preciso partir do ponto de que as duas palavras não são iguais. Tal constatação é bem simples, basta consultar a respectiva definição em algum dicionário. Como embasamento segue a explicação de Robson Profeta (amplamente recorrida para a diferenciação dos termos): "Ensino é a maneira pela qual o conhecimento é transmitido (...). Educação refere-se aos valores humanos e sociais". Posto isto fica claro que a construção do ser exige a elaboração de um quebra-cabeça formado por partes distintas cujo resultado final será o indivíduo como tal.

Frequentemente críticas são feitas aos professores e instituições de ensino, atribuindo-lhes a total responsabilidade pela má formação dos jovens brasileiros. Notadamente tais críticas são desmedidas tendo-se em vista que os acusados possuem apenas uma parcela do todo. Muitos pais esperam que o Estado cuide dos seus filhos, esperando um assistencialismo infinito de recursos materiais e imateriais. É fácil apontar o dedo para o outro e esquecer de fazer o papel de casa, muitas vezes contribuindo de forma negativa para a formação do filho. Ora, os principais responsáveis são aqueles que colocaram uma criança no mundo e não o Estado. Se não há planejamento no próprio lar então o começo já está falho.

Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2017/09/violencia-cresce-nas-escolas-estaduais-de-sp-e-compromete-ensino-e-aprendizagem

Há um aumento no índice de violência dentro das escolas envolvendo pais, alunos e funcionários. A principal vítima é a sociedade brasileira e, consequentemente, o futuro do país. Aqui vale destacar a importância da educação, fator este que deve partir de dentro de casa para fora. Se não houver diálogo e orientação na relação entre pais e filhos, não adianta esperar que as instituições façam milagres. O exemplo a ser seguido e a influência exercida por familiares é indiscutível no desenvolvimento do caráter humano desde os nossos antepassados. A estrutura familiar por si só já é uma instituição social de elevada importância. Afinal, colocar filho no mundo é prazeroso, mas cuidar deste com responsabilidade é algo sábio (virtude esta que parece ter se perdido atualmente em muitos lares).

De certa forma, os subsídios fornecidos ao indivíduos desde criança por meio da educação serão a base para o desenvolvimento do ensino. Do mesmo modo que há o descaso de alguns pais com relação aos filhos também é possível notar o oposto: crianças cada vez mais mimadas. Portanto, aspectos culturais, disciplina e respeito são fatores de extrema relevância para a estruturação de uma geração. Tal comportamento é perceptível desde a infância. Segundo matéria publicada pelo portal G1 em 22/08/2017 o Brasil é o número 1 no ranking da violência contra professores. Posição esta nada agradável. Muito fala-se da falta de planejamento estratégico em gestão pública que leva à corrupção. Mas será que não falta também uma boa dose de planejamento e bom senso familiar?

Obviamente que o Estado possuí o seu percentual de responsabilidade por meio do ensino. Não é difícil de encontrar escolas com falta de recursos materiais e de professores, creches sem vaga, progressão automática, falta de tecnologia e inovação nos métodos de ensino, entre tantos outros fatores que podem ser citados. Mesmo não sendo pedagogo ou especialista no assunto, parece-me fundamental oferecer uma base de qualidade para a formação intelectual do aluno e não investir somente no nível superior como constado por vezes. O ensino atualmente encontra-se preso por paradigmas políticos que preferem uma massa não pensante do que uma sociedade avançada e crítica. Sim caro leitor, novamente a política presente e esta pode ser utilizada tanto para o bem quanto para o mal social.

Brasil lder mundial em agresso a professores Profisso de risco sem direito a adicional de periculosidade
Fonte: https://lanyy.jusbrasil.com.br/artigos/186150850/brasil-lider-mundial-em-agressao-a-professores-profissao-de-risco-sem-direito-a-adicional-de-periculosidade


Matérias como noções de ciência política, economia familiar e direito deveriam constar na grade curricular, pois fazem parte da vida de um indivíduo do começo ao fim. Como viver em um Estado democrático de direito sem saber o que é direito, justiça, Constituição, majoritário, proporcional, democracia? Restringir o ensino é restringir o conhecimento. O leque precisa ser aberto, ampliado até para noções de trabalhos manuais residenciais, como trocar a resistência de um chuveiro ou mesmo a lâmpada de casa. Vale aqui ressaltar a importância do esporte para a aprendizagem do aluno. É preciso ter o ensino como prioridade número 1 e investir pesadamente em qualificação dos profissionais, aperfeiçoamento dos métodos de ensino e tecnologia. Chega a ser triste constatar alunos que terminam o ensino fundamental sem conseguir interpretar o que acabaram de ler. 

Outra questão a ser pontuada refere-se justamente à metodologia de ingresso à faculdade: por que depender apenas de vestibular e/ou ENEM, jogando fora todo o passado acadêmico do aluno? Restringir anos de estudo a poucos dias de provas parece-me um erro profundo que os governos insistem em executar. Existe a necessidade de discutir alternativas ao sistema que aí está. Como sugestão creio que o acesso ao nível superior deveria ser resultado da soma das médias de notas dos ensinos anteriores, frequência do aluno, disciplina (comportamento) do mesmo e, por fim, vestibular. Os pesos não precisam (nem devem) ser os mesmos, mas parece-me claro que a sistemática atual deve ser revista de modo que a obtenção de uma cadeira em uma faculdade deva ser o conjunto da obra. De um modo básico tal conceito proposto pode ser representado pela somatória das médias conforme a fórmula que elaborei abaixo:

ENSINO SUPERIOR = ∑ (NOTAS + COMPORTAMENTO + FREQUÊNCIA + VESTIBULAR)

Para finalizar, é possível concluir que todos os entes do contrato social (conforme o conceito genérico idealizado pelos autores contratualistas) são responsáveis pela construção da aliança entre sociedade (mais ligada à educação) e Estado (mais ligado ao ensino) - cada um com a sua respectiva parcela. Não adianta esperar que o Estado resolva todos os problemas do indivíduo, até mesmo porque este não é o seu motivo de ser. Planejamento é fundamental, desde a gestão até a formulação da grade curricular e métodos de avaliação. Provas nem sempre personificam completamente a realidade.

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