segunda-feira, 16 de abril de 2018

Reflexão sobre a superpopulação, conurbação urbana e gentrificação

Do campo para as cidades, dos feudos para as megalópoles, regiões extremamente densas e povoadas. Da terra para o concreto com uma diminuição intensa das áreas rurais. O verde passa a ser cinza e as pessoas se acumulam umas sobre as outras. A explosão e proliferação da Revolução Industrial continua a ter consequências na sociedade, agora digital. Como sintomas tem-se a constante movimentação populacional, o aumento da propriedade privada, demandas maiores com recursos cada vez mais escassos. Filas, trânsito, brigas, cansaço, depressão, poluição: tudo está interligado.

A mudança nos indivíduos reflete sobre a sociedade. O inverso também ocorre. Assim sendo, a humanidade sofre grandes alterações na forma de ser, pensar e agir desde o século XVIII. Diversas revoluções e inovações tecnológicas moldam a rotina das pessoas. Desse modo, é preciso refletir sobre a situação atual e as respectivas projeções. A responsabilidade recai sobre cada indivíduo, mesmo que diante da massificação tal reflexão torne-se complexa.

http://www.matematicaefacil.com.br/2014/04/breve-historia-da-matematica_12.html
Fonte: https://www.matematicaefacil.com.br/2016/02/matematica-crescimento-populacional.html

O recorte temporal pode ser feito da migração dos camponeses analfabetos para os centros urbanos no século XIX, instalando-se em cortiços, alta jornada de trabalho, moradias precárias, sem saneamento básico, água encanada ou mesmo o mínimo de qualidade de vida. Realmente não se trata de uma realidade fácil. Doenças e acidentes de trabalho. Será que mudou muita coisa de lá para cá? Analisando o contexto e comparando com os dias atuais é visível a melhora no padrão de vida. Mesmo assim, facilmente é possível constatar perda de direitos, esgotamento (físico e/ou psicológico) dos trabalhadores e situações análogas à escravidão, seja nos becos obscuros de São Paulo ou mesmo nas grandes fazendas Brasil adentro.

Em um sistema capitalista globalizado a busca incessante por lucro e privilégios individuais é a regra. Assim sendo, questões como solidariedade, fraternidade e coletividade são deixados para trás, pensando a humanidade como apenas um (individual). Isso quando o ser humano não é tratado como simples objeto. A concentração de riqueza é mantida pela burguesia e a manutenção do poder concentra-se nas oligarquias políticas. Até aqui sem grandes novidades. A problemática do século XXI está na continuação desse status quo adicionado ao aumento do desemprego e avanços tecnológicos cada vez mais rápidos. A questão é como tirar proveito social diante desse cenário desorganizado de cada um por si.

The occupation of MTST, the homeless workers’ movement of São Paulo
Fonte: https://www.theguardian.com/cities/live/2017/nov/27/guardian-cities-live-sao-paulo

Como o próprio nome já induz o entendimento, a superpopulação nada mais é do que o superpovoamento, o que significa uma concentração exacerbada de pessoas em uma determinada área. O fato é que o número populacional vem aumentando gradativamente em áreas cada vez mais reduzidas. Tal constatação é melhor observada em países subdesenvolvidos (economicamente falando), mas mesmo nos grandes centros urbanos do chamado primeiro mundo há uma aglutinação imensa de pessoas vivendo em espaços menores. Londres, Nova Deli, Tóquio, Nova Iorque: mar de gente, selva de pedras.

Dos casarões e fazendas de antigamente tem-se hoje apartamentos e kitnets com área total inferior a 40m². Casas projetas para acolher uma família de quatro pessoas passam a abrigar dez indivíduos. Sensação de sufocamento diante das construções que se sobrepõem. Divisas que se perdem. Diversas casas viram uma só. Os bairros se aglutinam, as cidades se misturam e a geografia natural se perde. Portanto, há um desiquilíbrio social e um crescimento desordenado da espécie. Assim surge a conurbação urbana. Sem espaço para crescer na horizontal, tem-se a verticalização das cidades. O céu é o limite.


Fonte: http://www.canalkids.com.br/cultura/geografia/super.htm

Áreas de riscos são habitadas, zonas nobres dos municípios são valorizadas. Cria-se um fluxo: as comunidades de baixa renda são marginalizadas (vão às margens periféricas das cidades) e a especulação imobiliária faz aumentar o valor do m². Aos poucos, os viadutos são ocupados, não por arte, mas sim por pedintes. As ruas são ocupadas, não de vida, mas pelo crime. Alterações na dinâmica e nas características das construções, criando divisões, barreiras, verdadeiras fronteiras dentro de um mesmo Estado. Os ricos mais ricos, os pobres mais pobres. Essa é a lógica urbana vigente. Tem-se a gentrificação.

Cabe às pessoas estruturarem suas vidas, planejarem a constituição familiar, construir relações duradouras e sinceras. É preciso sentimento e racionalidade para não cair na armadilha de ter vários filhos para fornecer um exército para os senhores do capitalismo. É preciso trabalhar, ser produtivo, mas fazer o que realmente gosta para não jogar uma vida inteira fora. É preciso ser independente e autônomo para não necessitar do assistencialismo populista de um Estado decadente. É preciso protestar, agir, revolucionar um sistema que só favorece a uma minoria. Gradualmente o cidadão médio possui menos tempo e espaço. Um número ínfimo dentro de tantos outros números, sem prazo para respirar. É preciso uma pausa para olhar o céu.

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