Do avô para o pai, do pai para o filho, do filho para o neto. Certos vícios são cíclicos, correntes nem sempre são fáceis de quebrar. Desde os tempos de Cabral até o Congresso Nacional, a história política do Brasil é composta por ilustres famílias, sobrenomes de peso que favorecem a própria linhagem na manutenção do poder. O sucessor, o filho, príncipe, primeiro, legítimo herdeiro. Dom João VI, Dom Pedro I, Dom Pedro II, Princesa Isabel. Muitos dons, pouca renovação.
Nepotismo é o favorecimento de parentes nas relações trabalhistas. Às vezes é aquela indicação discreta e legal no interior de uma indústria privada. Por vezes é por meio da tentativa de imposição de um cargo público (como Roberto Jefferson tentou fazer com sua filha Cristiane Brasil para representar o PTB na composição do governo para o Ministério do Trabalho). Trabalho livre e democrático preso por amarras familiares destronando a chamada meritocracia. Tal fato não se restringe à política, basta verificar as famílias tradicionais do seu município: aquele grupinho que comanda o comércio nos principais pontos da cidade, o escritório de advocacia do século passado, os principais proprietários de terra que controlam a especulação imobiliária. Não precisa de muito esforço, é só olhar ao redor.
Fonte: http://www.excelenciaeducacao.com.br/2018/01/
Além do corporativismo existente dentro do seio familiar, tal questão torna-se problemática na esfera da administração pública e seus respectivos cargos. Segundo a CGU (Controladoria Geral da União) em seu site, o nepotismo ocorre quando um agente público usa de sua posição de poder para nomear, contratar ou favorecer um ou mais parentes sendo vedado pela Constituição Federal, pois fere os princípios da impessoalidade, moralidade e igualdade. Portanto, estamos falando de um crime e não de um mero acaso preenchido pelo destino no berço.
É natural que as pessoas tenham afinidades por seus semelhantes e que isso faça com que haja um verdadeiro círculo restrito de favorecimento para crescimento mútuo, seja envolto por laços parentescos ou mesmo por identificação como amizade ou profissional. As pessoas se agrupam de acordo com os respectivos interesses como uma forma de sobrevivência, tendendo a se fechar como, por exemplo, a maçonaria.
A questão é quando os laços familiares adentram a esfera pública, contrariando a lógica posta pelo Estado democrático de direito. É como dizem os especialistas em negócios: network é tudo! Desse modo, competência, igualdade de oportunidade, qualificação, experiência e até conceitos éticos são deixados de lado, mesmo que não contrariem necessariamente a legalidade. Ao final tem-se a mesma fórmula: concentração de muito nas mãos de poucos. Uma verdadeira elite familiar.
Fonte: https://leiparapobre.blogspot.com/2017/01/prefeito-que-nomeia-irmao-em-cargo-de.html
Como exemplo de monopólio político é possível citar alguns nomes que fizeram ou que ainda fazem parte do mainstream de players políticos do Brasil: (a) Tancredo Neves (avô) e Aécio Neves (neto); (b) José Sarney (pai) e Roseana Sarney (filha); (c) Renan Calheiros (pai) e Renan Filho (filho); (d) Jorge Picciani (pai) e Leonardo Picciani (filho); (e) Jair Bolsonaro (pai) e Eduardo Bolsonaro (filho); (f) Antônio Carlos Magalhães (avô) e ACM Neto (neto); (g) Cesar Maia (pai) e Rodrigo Maia (filho).
No nepotismo político, as brechas se fazem por cargos de confiança, indicações, troca de favores, cooptação da máquina pública para a realização de interesses escusos e totalmente privados (sempre visando levar a melhor). Compromete não só o sistema presente, mas também o seu futuro, impedindo uma renovação factível com a entrada de novos atores que realmente representem os anseios da população. Assim o ciclo se fecha em si mesmo, da tia para a sobrinha, do pai para o filho, um fim em si mesmo para benefício exclusivo dos parentes envolvidos.
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