No período eleitoral é comum a coleta de dados sobre a opinião de eleitores com relação a candidatos, partidos e temas presentes na agenda pública para o debate e elaboração de propostas de políticas que atendam o anseio dos cidadãos. Junto às pesquisas que se multiplicam em tal período há também um certo descrédito que vem aumentando com relação ao desenho estatístico e aos resultados finais que por vezes são diferentes do projetado. É necessário abordar conceitos e metodologias científicas introdutórias para elucidar o mistério da temática.
Dois grandes exemplos internacionais sobre a divergência entre pesquisas e resultados foram o Brexit e a última eleição presidencial estadunidense que culminou na vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton. Em ambos os casos as pesquisas que antecederam as votações erraram, resultando no oposto do que foi apontado. No Brasil, a surpresa recente ficou a cargo da vitória de Dória em primeiro turno para a prefeitura de São Paulo quando as pesquisas apontavam segundo turno. Especialmente na política nota-se que há um uso excessivo de métodos quantitativos isolados que, mesmo pautando-se em critérios para a consolidação do trabalho, carecem da complementação de dados qualitativos.
Fonte: http://marketingcomcafe.com.br/as-pesquisas-eleitorais-resistirao-frente-nova-realidade-digital/
A atividade científica é coletiva e estuda medidas. Entretanto, fatores interpretativos e tendências cognitivas devem ser levados em consideração no estudo social. Afinal, dados são aproximações da realidade, não verdades absolutas. Assim sendo, um estudo sobre intenção de voto e percepção do indivíduo vai além de simplesmente números. A complexidade do caso é infinita de modo que a utilização complementar dos métodos é a melhor forma de mitigar as discrepâncias, pois permitem produções de estimativas coerentes, um recorte representativo da sociedade por meio de uma amostra válida. Portanto, trata-se de fenômenos aleatórios e desorganizados, prováveis, mas incertos.
O conhecimento é cumulativo e consolida paradigmas por meio de resultados que apontam convergência sobre determinado tema. Nesse sentido, a pesquisa deve ser elaborada com tempo e seguindo critérios metodológicos padronizados, buscando realmente ouvir as pessoas e entender o que foi dito, interpretando, além das palavras, os valores ali presentes (explícitos e implícitos). O tempo é fundamental na produção de uma pesquisa, tanto de quem é entrevistado quanto de quem entrevista e analisa os dados. Os elementos para a análise são: hipóteses, conceitos, variáveis, indicadores, resultados e referências.
A pesquisa quantitativa pauta-se pela obtenção de informações que serão apresentadas como dados estatísticos, uma população que compartilha uma característica. Entretanto, tal procedimento tem sido realizado de forma superficial. Uma das hipóteses para isso é a competitividade e velocidade nas quais a sociedade está inserida. Cada vez espera-se informações mais rápidas e assertivas pelo público, levando os meios de comunicação em uma disputa organizacional para trazer a matéria de capa atualizada em primeira mão. Todos querem ser atraentes para os leitores/telespectadores (consumidores) e com isso atropelam passos de pesquisas para levarem resultados que algumas vezes são tendenciosos e não retratam um recorte coerente da realidade. A escolha por métodos exclusivamente quantitativos é um exemplo.
Fonte: https://xn--eleies2018-r6a2o.com/pesquisa-eleitoral-2018/
A pesquisa qualitativa enfatiza a preocupação em estudar o assunto em profundidade. Tem como vantagem acessar o mapa cognitivo da população participante da pesquisa. Trabalha com interpretação e análise causal. Caracteriza-se pela subjetividade e desenvolvimento de teoria, partindo do todo para as partes. Baseia-se no raciocínio dialético e indutivo por meio da comunicação e observação. A pesquisa quantitativa mede a intenção de voto em determinado momento. Trabalha com descrições formais e superficiais aonde o valor considerado é a quantidade. Quanto maior a amostra, menor será a margem de erro. Portanto, caracteriza-se pela objetividade, foco conciso e limitado, indo das partes para o todo. Análise estatística, lógica e dedutiva, estabelecendo relações e causas.
Diante dos desafios e da complexidade que a engenharia social se depara é necessário cautela e um estudo abrangente dos fatores envolvidos na pesquisa. Desse modo, é possível concluir que a união entre métodos qualitativos e quantitativos é essencial para a apresentação de resultados que expressem determinado momento da sociedade, levando em consideração não só a intenção (palavra) do entrevistado, mas o contexto cognitivo, o grau de interferência externa e a formação interna do indivíduo, verificando antecedentes e tendências culturais na formação de um modo de vida e pensamento.
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