sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Reflexão sobre a lama nacional

"Mudaram as estações e nada mudou". Faltou fiscalização, faltou priorizar vidas (humanos, animais, vegetais), faltou zelar pela comunidade. Uma tragédia anunciada, um crime contra os trabalhadores que a cada dia perdem empregos e direitos. Extrativismo mineral brutal. Descaso ou falha nas análises de risco da Vale? Não adianta falar de lucros, ações, estatísticas. Números sempre são frios. Mais uma vez a terra sangrou, mais uma vez a natureza foi violentada pela exploração humana. O único plano de ação foi a lágrima dos familiares e mais de 300 corpos inocentes espalhados embaixo da terra. Instituições cooptadas por montantes de dinheiro, a falta de foco para com o meio ambiente.

"Da lama ao caos, do caos à lama". O bolso sempre fala mais alto, a economia sempre está no centro das discussões. E assim perdemos aquilo que nos mantêm vivos. Atos de voluntários reforçam os laços estremecidos pela ganância. Subitamente todos estão preocupados com as barragens. Qual a novidade? De repente o meio ambiente tornou-se pauta, mas por pouco tempo porque logo as lentes estarão apontadas novamente para Brasília. Tanto se fala em combater ideologias, mas pouco se faz para combater a fome, a falta de moradia, o crime organizado, os crimes ambientais. Nessa briga de empurra, os verdadeiros heróis se arrastam sobre a lama. Nessa busca repentina por culpados, as vítimas são esquecidas. Como se chama mesmo?

Rompimento de barragem em Brumadinho (MG)
Fonte: https://veja.abril.com.br/brasil/veja-antes-e-depois-de-brumadinho-e-imagens-aereas-de-lama-na-cidade/

"Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades". De Mariana (2015) para Brumadinho (2019) em Minas Gerais. De Rodrigo Maia (2017) para Rodrigo Maia (2019) na presidência da Câmara dos Deputados. Do ex-deputado Michel Temer (2016) para o outro deputado federal de carreira Jair Bolsonaro (2019). Aécio Neves, Gleisi Hoffmann e Renan Calheiros novamente eleitos. Os brasileiros clamam por renovação e mudança, tanto nas ruas quanto na internet. Entretanto, os fatos demonstram justamente o contrário: não há nada de novo na suposta casa do povo. Segundo o curto discurso do atual presidente em Davos, o Brasil é um exemplo no trato para com o meio ambiente, um verdadeiro paraíso. É preciso lembrar para não esquecer, por mais óbvio que tal afirmação pareça. 

"Em vez de luz tem tiroteio no fim do túnel, sempre mais do mesmo, não era isso que você queria ouvir?". O cheiro da decomposição do poder já é sentido há milênios pelas mais diversas sociedades. Afinal, para que alguém se dê bem e tenha privilégios é necessário que outros tantos agonizem por aí. Não que isso toque os corações das grandes lideranças nacionais, pois os mesmos estão sentados confortavelmente em seus palacetes remando conforme a correnteza até que o mandato termine para, posteriormente, tentar se reeleger. O quanto já foi debatido, dito, escrito sobre o assunto?

Fonte: https://veja.abril.com.br/brasil/rompimento-de-barragem-da-vale-em-brumadinho-deixa-200-desaparecidos/

"Quem guarda os portões da fábrica? O céu já foi azul, mas agora é cinza e o que era verde aqui já não existe mais". É como diz o ditado, o pior cego é o que não quer ver. E assim tocam suas vidas na luta diária pela sobrevivência, fechando os olhos para os moradores de rua, para os animais desabrigados, fechando o nariz para a podridão da poluição, fechando a mente para tudo o que seja diferente. Julgam o político (por vezes com razão), mas esquecem de quem o elegeu. Esquecem de quem realmente lutou pela pátria, de quem apanhou nos porões obscuros das cidades, de quem deu a vida pelo trabalho no campo. Esquecem até em quem votaram nas últimas eleições. A culpa é de quem mesmo?

"Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação. Que país é esse? Na morte eu descanso, mas o sangue anda solto manchando os papéis, documentos fiéis, ao descanso do patrão. Que país é esse?". Sábios fragmentos de letras entre aspas oriundos, em sua maioria, da década de 80. Se a vida realmente é um ciclo, então a história novamente se repete. É preciso aprender com os erros para romper os paradigmas estabelecidos há séculos pelas oligarquias nacionais. Até lá, continuaremos a viver sob lama.

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