quarta-feira, 10 de julho de 2019

Reflexão sobre o ponto cego

O que é o ponto cego? Em homenagem ao dia internacional do rock (13/7) este post será diferente: toda a estrutura textual será com trechos das letras presentes no álbum Ponto Cego da banda Dead Fish. Diante dos fatos como a manipulação do judiciário, a sede por verbas do legislativo e a eleição de um governo incompetente para o executivo, a banda expressou de forma brilhante toda a sua contestação furiosa sobre os processos que se dão no laranjal Brasilis. É uma obra de arte tão atual e coerente que chega a dar esperança em meio a tanta desilusão. O que é ponto cego mesmo? Obrigado!

Só existe o que vê e o que vê é só o que há. A todo o resto é permitido suprimir e eliminar, mas as sombras da caverna permanecerão lá. O medo e a ambição buscam um aliado para manter tudo igual. Enfrenta fantasmas com munição, quem julga nunca sangrar? Passa o muro, passa a grade, passa a porta, passe a chave. Certezas sem questionamentos, a voz que não se faz ouvir. Qual valor em ser o melhor em um? Destruir para dominar, agredir e avançar. Quem é mais irracional? Nada vai sobrar. Trancado de nove às seis, neurose alimentada, a violência vai vencer. É o preço que se paga.

Capa de "Ponto Cego" (Dead Fish)

Sim, sim, sim! Sim, foi golpe orquestrado por sorrisos velhos e apertos de mão rumo ao passado. A esperança das ruas de 2013 catalisou aquele grande acordo nacional com o Supremo e com tudo para estancar uma sangria em nome da família e de um torturador. Uma jovem democracia acorrentada nos porões para que velhos ratos possam voltar a reinar. Comprando a justiça não há corrupção entre brancos e ricos, pois ninguém é julgado e a vida segue. É o preço que se paga.

Elevadores são feitos para subir, as minorias não vão poder usar. Escadas e entrada de serviços, ponha-se em seu lugar. Motivo de vergonha, indignação. A cumplicidade das panelas. O lado certo da história não tem sangue nas mãos. Quando o passado volta à moda em nome de um torturador, o sonho médio é vestir a carapuça do opressor e achar que tem poder. Buscando um inimigo, fomenta a paranoia e faz para confundir. Crianças ficarão longe do senso crítico, quem fraquejar será imediatamente punido. Aponta a arma para si e é assim que começa. É o preço que se paga.

Pelas passarelas de concreto, um idiota, um cidadão de bem desfila com seus cachorros de marca, acessórios do status quo. Fetiche do autoritário, a rédea curta em suas mãos, subordinado adotado para aliviar a tensão. Aperta o passo, aperta o laço mostrando quem é de quem. Correção educativa não se aprende sem sofrer. Liberdade limitada, vigilância para o bem. Pobres cachorros. Os muros serão altos, conter e vigiar. Traços subversivos, punir e delatar. É o preço que se paga.

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A distopia que era mito, fundamentada por debates mudos e evasivas, foi endossada, foi eleita. A voz daqueles que só pensam em si para defender o status quo que foi imposto e governar pelo dinheiro. Presos em seu umbigo-mundo, tudo ao redor é ponto cego, puro vitimismo. Cortar direitos, sem empatia, privatizar a qualquer preço é progredir. E não termina assim, é só o começo. Quem paga o preço por um cento enriquecer e prosperar? Visto de cima não parece tão ruim. Distribuída ordem na vertical. O conservadorismo hipócrita do pregador elege seus bolsos. A justiça tira a venda e escolhe o vilão. É o preço que se paga.

Na guerra não convencional, na doutrina do choque, o predador neoliberal faz a festa interferindo no processo eleitoral. Comprando a justiça não há corrupção. Do deus mercado e capital desregularizado se alimentam oligarcas. Reserva de petróleo que não lhes cabe parte necessita intervenção. Novo sistema laboral, fábrica de escravos prioriza oligarcas devorando tudo até não sobrar nada, capitalismo do desastre. Destruir para lucrar com a reconstrução, trocar de dono. No ponto cego está toda a população, meros inquilinos empreendendo, pagando a conta para o bem-estar de poucos. É o preço que se paga.

Desigualdade aumenta, a repressão também, uma guerra de classes beneficia a quem? Fez-se o tumulto e a desinformação, daí surgiu a oportunidade. Instala-se o medo e a insensatez que não aflige quem tem muro e grade. No ponto cego é fácil disfarçar o cheiro podre de todo andar. Congele o investimento em saúde e educação, reduza a idade de trancá-los na prisão. Busque um emprego com a terceirização, pode negociar direto com o patrão. Aceite a migalha e nem pense em reclamar, pois sempre terá outro querendo o seu lugar. É o preço que se paga.


Preste atenção ao demagogo há trinta anos nesse jogo. Sem diálogo, nem projetos, dando graças ao ódio e ao medo. Se a democracia estiver entre o rei e o que ele quer é a caneta ou a espada que prevalecerá. Em meio à crise, autoritário opressor vem para contagiar. Sacramentada pós-verdade, rebanho pronto para aceitar, criados para matar. Não vai adiantar tentar esconder. No ponto cego neutro e seguro que encontrou dentro de um vazio que não cicatrizou. Água empoçada, rigidez, torpor, discurso de casta, modelo importado. Baixa tolerância, alta infração, seguindo a hierarquia e vivendo em negação. É o preço que se paga.

A epidemia se espalhou por todos os lados. A mentira viralizou, tornou-se real. A narrativa vinda do colonizador tingiu de branco nossa história e sem escrúpulo omitiu e apagou o outro lado da moeda. O passado frágil corre para se proteger, tranca a porta e fecha as cortinas. Do ponto cego da história brotam vozes de resistência e de luta. O velho se põe a gritar, espernear, tentar abafar a inevitável mudança. Mas cada dia mais janelas vão se abrir e a diversidade vai brilhar ao sol.

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