Seis meses após o início do mandato já é possível realizar uma análise prévia do governo federal após o encerramento desse primeiro semestre de 2019. Trata-se de uma reflexão que condiz com o que foi construído até o momento; portanto, reflete a conjuntura até o ponto atual. Cientistas políticos defendem que os primeiros meses de mandato de um novo governo são essenciais, pois o mesmo chega apoiado pela legitimidade do voto.
Entre os diversos fatos e sem fake news, é possível começar pelo fim do horário de verão, uma das primeiras medidas do governo Bolsonaro. Ou então a proposta de acabar com a tomada de três pinos. Ainda é possível citar o fim da multa para os motoristas que circularem com criança fora da cadeirinha. Ou quem sabe ainda a mudança na CNH (Carteira Nacional de Habilitação) por meio de um PL (Projeto de Lei) que visa aumentar de 20 para 40 o número de pontos na carteira e a validade ampliada de 5 para 10 anos para o condutor brasileiro. O guru Olavo versus a ala militar. A decadência de Onyx na articulação política. E o desejo de mudar a embaixada do Brasil em Israel? Quanta relevância para o Brasil não é mesmo?
As bizarrices não acabam por aí. Quem não se lembra da polêmica do golden shower no carnaval? Teve também a declaração contrária ao turismo LGBT no país, o que contraria o próprio momento econômico do país. Especulação sobre o fim das urnas eletrônicas e saída do acordo ortográfico também não faltaram. Ou mesmo em transformar uma unidade de conservação ambiental entre Paraty e Angra dos Reis na Cancún brasileira, repleta de comércio e resorts de luxo para as oligarquias regionais. A pressão autoritária, desnecessária e pública do Levy que culminou na renúncia do mesmo. A proposta de ampliar o enquadramento de arquivos secretos, restringindo assim o acesso público, barrado em fevereiro pelo Congresso. Teve ainda a declaração feudal ao explicitar o desejo de um juiz evangélico para o STF (Supremo Tribunal Federal). Quando o executivo é fraco, o judiciário e o legislativo são levados a governar.
E o caso da Wal (servidora fantasma que vendia açaí em Angra)? E o caso Queiroz e Flávio, suspeitos de lavagem de dinheiro e organização criminosa? E as candidatas laranjas do PSL (Partido Social Liberal) em Minas Gerais? Bebbiano, Marcelo Álvaro (ministro do Turismo)? E a base militar dos EUA no Brasil? Quem aqui se lembra das pérolas da ministra Damares? Realmente esse governo possui um elenco de primeira em questão de comédia e tragédia. A derrota no caso Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) indo da Justiça para a Economia. A permissão de menores em clubes de tiro com a autorização dos pais. A polêmica indefinida do porte e posse de armas. Um verdadeiro desastre institucional do poder executivo federal. Criticar era fácil, difícil é fazer.
Balbúrdia são R$5,8 bilhões contingenciados do ensino, 3474 bolsas cortadas, 2 péssimos ministros da Educação, as diversas demissões e trocas de técnicos em menos de 6 meses. Ex-ministros da Educação, Justiça, Meio Ambiente e Ciência de diferentes partidos já lançaram manifestos contra o atual governo. Até mesmo o Tiririca, ícone do voto de protesto, disse recentemente em entrevista que se o Bolsonaro não sair do pedestal será o pior presidente da história do Brasil. O próprio ministro Sérgio Moro chamou os integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre) de tontos. Enfim palavras sábias em meio a tanta balbúrdia governamental.
A agenda desses primeiros meses é tão extensa que mal dá para respirar não é mesmo caro leitor? Afinal, o Brasil vive um momento magnífico. Um exemplo foram os 39 kg de cocaína na comitiva presidencial rumo ao G20. Jogada de mito focar no comércio internacional de drogas para fortalecer a economia nacional. Houve também os 117 fuzis M-16 encontrados com milicianos acusados de envolvimento na morte da vereadora Marielle e Anderson. Realmente muitas coisas estranhas rondam o presidente, a família do mesmo, integrantes do governo e a vizinhança. Um banho de sal não faz mal a ninguém. Melhor mudarem as companhias, já dizia a Bíblia: diga com quem tu andas e eu direi quem tu és.
O excelentíssimo presidente da república das bananas isentou cidadãos dos EUA, Japão, Austrália e Canadá do visto para o Brasil sem contrapartida. Ou seja, eles podem vir de boa, mas nós não conseguimos ir sem burocracia. Vendedor internacional de bijuterias de nióbio. Ah esses comunistas viu, a culpa é sempre deles. Basta discordar do governo para receber tal alcunha, não precisa fazer nada, basta criticar o atual governo. O velho fantasma de um passado que nunca ocorreu em terras tupiniquins. Errar é humano, persistir no erro é burrice.
O único "trunfo" da atual gestão trata-se de uma contradição. Refiro-me ao acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia após 20 anos de negociações. Ora, Bolsonaro anunciava fazer acordos bilaterais e não em grupo, ameaçando reduzir a participação do Brasil no bloco sul-americano. E, subitamente, diz ser um triunfo do atual governo sendo que tal acordo vinha sendo costurado desde 1999 pelas gestões dos mais de 30 países envolvidos. Inclusive a França ameaça não assinar o tratado caso o presidente cumpra a promessa de sair do Acordo de Paris. Pelo amor. O mesmo é possível dizer sobre a Reforma da Previdência que ainda não foi aprovada. Em 30 anos como deputado Bolsonaro sempre foi contra, mas agora acata ao Chicago Boy. Fora as denúncias de parcialidade do ministro Moro em seus julgamentos e seu pacote anticrime que ainda não andou.
Ações e omissões não faltam para ilustrar. Com um discurso de limpeza geral e incentivo à polarização, o governo Bolsonaro parece não ter saído ainda da campanha, jogando apenas para o seu nicho eleitoral que mantém a sua base. Na verdade, ao longo desse semestre não houve a tal renovação prometida. É bem verdade que restam três anos e meio, mas a dúvida sobre as propostas permanece. A única carta na manga parece ser a Reforma da Previdência. E depois? Por que alguns agentes ganham mais do que o teto previsto por lei? Onde está a Reforma Agrária? Onde está a Reforma Tributária? Por que os políticos e juízes ganham muito além do salário mínimo, fora os benefícios? Seis meses de um verdadeiro desgoverno.
Perfeita reflexão, caro amigo!
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