O
crescimento populacional foi exponencial em todos os continentes, passando de
600 milhões em 1700 para 7 bilhões em 2012, estimulado sobretudo pela Ásia onde
atualmente é possível apontar como exemplo o caso da China, país mais populoso
do mundo com quase 1 bilhão e 400 milhões de habitantes, seguida de perto pela
Índia que também já superou a marca de 1 bilhão de pessoas conforme apontado
por Thomas Piketty no livro O Capital do Século XXI (p.80, 2014).
Entretanto,
tal fenômeno de superpopulação não se configura uma tendência mundial para os
cenários dos próximos séculos. Estudar a dinâmica demográfica é fundamental
para analisar a evolução da população e estimar o seu futuro com base em
indicadores e taxas. Malthus (economista inglês) teorizou em 1798 que a
capacidade produtiva de alimentos cresceria em progressão aritmética enquanto
que a população cresceria em progressão geométrica, iniciando uma abordagem
ampla para discussão sobre elementos geográficos e econômicos.
O
Brasil recentemente ultrapassou a marca de 210 milhões de habitantes. Segundo
projeções da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre a população brasileira,
estima-se que entre 2030 e 2035 o país atingirá o seu ápice populacional com
218 milhões de habitantes e depois passará por um processo de queda demográfica que pode
representar cerca de 113 bilhões já em 2100. Tal declínio se assemelha com o
que é previsto para outros países neste novo milênio. A deflação demográfica já
é uma realidade em estágio inicial no Japão e em alguns países da Europa
Ocidental.
O
sistema capitalista necessita de crescimento, seus genes contêm cromossomos de
superávit diários. Lutar contra isso seria contrariar a sua própria composição.
O aumento da produtividade e do consumo costumam ser as respostas do capital
para sair das crises que o assola. O não crescimento significa recessão,
incertezas, prejuízos, perdas. Estagnar ou declinar não faz parte dos planos de
nenhum manual capitalista rumo ao sucesso. O lucro é a alma do negócio e sem
alma não há vida.
Muito
além da mais-valia, da tecnicidade, dos objetos, mercadorias, signos ou das
relações de produção. Trata-se do equilíbrio da tríade da sociedade capitalista
reforçada como ponto fixo de análise por Henri Lefebvre (p.11, 1973): a intersecção
entre Terra, trabalho e capital. A demografia estará inevitavelmente no centro
da discussão, seja sobre a reinvenção sistêmica do capitalismo ou na mais nova
crise que o traz à beira do abismo.
O
que seria da classe média na contemporaneidade se não um istmo? Estreita
passagem que une dois continentes diferentes. Pressionada por ambos os lados,
uma classe média sujeita a movimentos tectônicos e inundações capazes de
alterar a sua configuração. Híbrida entre o céu e o inferno, a classe média é
abastecida pelos interesses da burguesia. É a cordilheira
perfeita para a proteção das elites, a desinformação que mantém as diferenças e
consolida a desigualdade. Apenas o meio ambíguo, duplicidade de ideias e ações
entre a dúvida plena e a convicção cega, não uma alternativa para sair do
conflito, não uma terceira via factível. Meio sem ser ambiente, não sustentável,
em cima do muro. O que será do meio com a diminuição populacional a longo
prazo?
Não
se pode subestimar a capacidade do capitalismo em se reinventar, mesmo quando o
assunto é deflação demográfica. A cada avanço tecnológico o mesmo torna-se mais
forte, cria dependência, aliena as pessoas. O determinismo social e psicológico
deve ser levado em consideração. Mesmo sem resolver problemas como a pobreza,
miséria, desigualdade social, má distribuição de renda, entre outros, o capital
conseguiu, ao longo dos séculos, atenuar seus defeitos (mesmo que
midiaticamente) e derrubar oposições.
Países
como Bélgica, Suíça e Canadá já possuem incentivos para atrair indivíduos para
o seu território. A tendência de queda na taxa de fecundidade está levando
também à uma redução considerável da taxa de natalidade, sobretudo nos países
tidos como desenvolvidos. A inserção das mulheres no mercado de trabalho, avanços tecnológicos nos métodos contraceptivos, mudanças de comportamento e a
redução dos espaços de habitação nos grandes centros urbanos levaram as
famílias à opção de terem menos filhos.
Se
não houver o deslocamento de pessoas de regiões mais populosas para outras
regiões com baixa taxa de fecundidade e de natalidade, a consequência será o
envelhecimento da população e seu posterior encolhimento. Tal distribuição
populacional será vital para a organização futura das nações. O ajuste
demográfico passa a ser assunto central das políticas públicas.
O
capitalismo precisa da cidade, precisa da urbanização, precisa de uma reserva
de trabalhadores, da gentrificação, da especulação imobiliária, da conurbação
urbana, da superpopulação. O capital precisa de pessoas, operários, técnicos,
gerentes, precisa da natureza e do mercado, precisa modificar o meio ambiente,
precisa mudar hábitos, precisa criar dependência, precisa de mais recursos, de
novas máquinas, de mais consumo. O capital precisa se expandir, crescer para
todos os lados nos mais diversos âmbitos.
Do
mesmo modo que o crescimento exacerbado da população representou um fantasma e
ainda assusta o mundo diante da escassez dos recursos naturais e da limitação
da oferta diante da alta demanda, o inverso também se faz verdadeiro. Se com um
boom demográfico houve uma explosão
das cidades, o oposto significa um aumento na barganha e na capacidade de
escolha dos cidadãos. A redução no consumo e a subutilização da estrutura
urbana já edificada representam um risco para a manutenção do capital.
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