terça-feira, 26 de novembro de 2019

Reflexão sobre a marcha dos porcos

Marchem!
Foi dada a largada
Enfileirados na promoção
Esperando a abertura do portão
Rastejando na lama
Com a camisa da seleção
Marchando em direção à liquidação
Ocupando as ruas contra a corrupção
Mas elegendo um laranjal sem fim
Despotismo e nepotismo lado-a-lado
Quem vai pagar o pato com a terceirização?
Mais uma realidade dessa louca contradição
Panelas silenciadas que não entram mais em ação
Imperdível!
Beijando os pés do patrão
O medo é mais forte do que a razão
Marchem para a nova plástica
Rumo à perfeição inatingível
Precarização das condições de trabalho
Parasitas do sistema
Defendendo o retorno da ditadura
Idolatrando torturadores e assassinos
Depois se diz cristão
Pare de usar a religião
O velho discurso demagogo
Repleto de segundas intenções
Mais uma enganação pública
A população está cansada de pagar a conta


Marchem porcos!
Uma nova taxa para o seguro-desemprego
Sugando e sendo sugados
O lucro bancário só aumenta
A terra há de consumir os vestígios
Não existe crime perfeito
Apenas milicianos conhecidos
Vendendo o corpo pelo novo conforto
Coleira apertada
Presentes sem necessidade
Acúmulo de bens materiais
Tudo se vende, tudo se troca, tudo se aluga
Comprando animais ao invés de adotar
Esconda seus desejos sórdidos
Um novo Coringa a cada esquina
Um novo bebê a cada dia
O sistema não para, não pode parar nunca
Céu cinza do desmatamento e da poluição
Nada mais normal do que o contágio pelo superávit
O capital não pode estagnar
Deflação é crise, o choro é livre
Funcionário do mês sem casa para morar
Alternância das elites para manter o status quo
Assento VIP na primeira fileira
Minoria que domina
Casa na praia, iates, a classe média faz a sua parte
Nada como se sentir bem com a desgraça alheia

Marchem porcos imundos!
Os joelhos já não aguentam andar pela loja
Terapia das compras, vida de madame
Deixe a sujeira para as domésticas e operários
Submissão assalariada pela sobrevivência
Veja no Ibope o que dá mais audiência
Peregrinação a paraísos fiscais
A via-sacra do capital foi anunciada na televisão
Propagandas e produtos dos patrocinadores
Melancolia, tristeza e depressão
A intolerância sendo tolerada
Não me peça para aceitar
Depois não venha reclamar
Devolução em apenas três dias úteis
É preciso estar conectado
Um teatro de ostentação
Nova foto de perfil
Rede social da ilusão
Lutando contra fantasmas
A ganância fala mais alto
Justiça cega pelo poder
E assim se acumulam golpes no chiqueiro
Sob símbolos nacionalistas de exclusão
Até chegar à exaustão
Julgam vítimas e matam inocentes
O mundo do business é o modelo de negociação
Mercantilização dos raios solares
Monitoramento 24h
Tudo para a sua segurança
A vigilância sem privacidade
Quem se importa?
Sem tempo para participar
A morte espera

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Marchem!
Descartando o próximo como se fosse lixo
É possível sentir o seu cheiro podre embrulhado para presente
É possível ver o seu desespero conservador
Querendo controlar um mundo que não lhe pertence
A hipocrisia é a alma do negócio
Agindo de acordo com a lei de mercado
Concentração de riqueza nas mãos de poucos
Qualidade de vida em detrimento da escravidão alheia
Vidas desperdiçadas na fauna e na flora
Nada disso importa segundo a lógica do dinheiro
É preciso satisfazer o prazer nas horas vagas
Afinal, a bolsa de valores bateu mais um recorde
Quais valores?
Um novo corte nos pulsos
A padronização dos estigmas em meio ao processo de globalização
Matando para vender
Queimando para lucrar

Marchem seus porcos imundos!
Dançando a ópera do dilúvio
O apocalipse nunca esteve tão próximo
O inferno estará repleto de mansões e carros de luxo
A satisfação nunca é atingida pelo consumo
Você precisa de mais, mais, mais
Você viu o novo comercial?
Falso messias no assento presidencial
Rasteje de joelhos na lama
Assuma a sujeira que está fazendo
Sangue nas mãos e ódio no coração
Salve a própria enganação
Cuspindo no prato que comeu
Vômito voluntário de desprezo
Eles estão desesperados
Eles estão sem controle

Marchem seus porcos!
O natal está chegando
A mesa da ceia deve estar farta, obesa
Consumindo a própria carne
Atirando pedras na imagem que surge no espelho
Um novo produto na vitrine
Uma nova corrida pela sobrevivência
Carro novo na garagem
Fotos em Orlando e Paris
Passaporte cheio, alma vazia
Amizades de interesse em busca de holofotes
Fingindo não ver a revoltar popular
Fingindo não ver as barreiras humanas
Siga o fluxo migratório
Uma nova guerra pela hegemonia mundial
Pois é necessário que alguém perca para outro ganhar
Celular última geração com peças roubadas
Células artificiais de uma engrenagem enferrujada
Camisa de marca falsificada
Trabalho infantil e escravo nas fábricas
Realidade invisível do terceiro mundo


Marchem porcos, marchem!
Sigam a fila para o precipício
O chiqueiro está cheio, assim como o hospício
Um sorriso antes da desilusão
É tudo briga por posição
Dê espaço aos ratos e baratas dos esgotos
Hasteie a própria bandeira
Um demônio dentro do cidadão de bem
Imagine todos armados até os dentes
Eu sou a cárie sem cura
Feridas deixam marcas difíceis de cicatrizar
Olhe só para os últimos 500 anos
Esquecendo da própria identidade
Compre seu lugar no céu
Viagem de primeira classe
Todos iguais
Feitos de ossos, não de metais
Todos iguais
Do começo ao final

Marchem!
Marchem porcos consumistas!
Nas trincheiras esquecidas
Nas fileiras dos soldados de shopping
Subindo as escadas rolantes
O capitão continua atrás da mesa
Fugindo de debates, fomentando a polarização
O discurso de ódio também tem um alto custo
Datas promocionais e feriados festivos
A praia já está cheia e o trânsito também
Sem espaço, sem tempo irmão
Qual o significado disso tudo mesmo?
Prazer individual e imediatista
Coloque grades em seu feudo para fugir da violência
Está um caos lá fora
Arame farpado, telas, construa o seu império de fantasias
Cerque sua propriedade privada
A especulação imobiliária não irá permitir sua procriação
Vamos celebrar a inveja e a nova inquisição
Inversão de valores onde tudo tem precificação
Neoliberalismo das crises e dos retrocessos

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Marchem porcos!
Engravatados, sujando os ternos
O sapato que não cabe mais
Vista o uniforme desbotado do preconceito
Seu ego insaciável e faminto
O fuzil continua a disparar
Vamos seus porcos imundos!
Uma última tragada, um último suspiro
O copo está meio cheio ou meio vazio?
Marchem com suas etiquetas de grife
Antes que o estoque acabe
Demanda e oferta, quem dá mais?
O enterro é o desfecho em comum
Sete palmos abaixo da terra
Isso não precisa fazer sentido
No final das contas pouco importa
Débito ou crédito?
Rumo ao abismo da desigualdade que os espera.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Reflexão sobre o tempo e o espaço

A cada dia que passa nasce uma nova história, nasce uma nova geografia que é construída em um processo que ultrapassa o próprio indivíduo. Tão natural como a respiração e os sistemas presentes nos processos biológicos, tão comum como a linguagem diária no processo comunicacional entre os seres vivos. O tempo e o espaço formam a origem de tudo o que existiu, o que existe e o que ainda irá existir, reforçando assim a legitimidade das disciplinas de geografia e história para o conhecimento humano.

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Dentre as teorias que buscam a compreensão sobre o cerne da origem é possível destacar duas: (a) a teoria criacionista baseada em um conceito teológico pautado, sobretudo, na fé, exigindo assim um alto grau de abstração; (b) a teoria evolucionista tida como um paradigma científico desde a sua proposição por Charles Darwin no século XIX. Mesmo diferentes entre si, existe a possibilidade de integração entre ambas, tendo-se em vista que a origem científica mais consolidada e difundida atualmente parte do princípio por meio do Big Bang, havendo uma brecha que pode ser preenchida pelo complemento teológico para o momento anterior ao da grande explosão. Seja como for, a importância do tempo e do espaço é inegável.

Focando a análise na teoria da evolução (não somente das espécies, mas do próprio universo em si) é possível afirmar que a relatividade impera no processo de expansão dos cosmos que evolui de formas e em tempos diferentes ao longo de bilhões de anos. Se tudo o que se tem hoje originou-se dessa energia expandida, então é correto afirmar que a concreticidade deriva-se do tempo e espaço. Por esse motivo não seria exagero afirmar que as disciplinas de história e de geografia são as pedras fundamentais para o entendimento holístico das demais.

Relação Espaço-Tempo

Não existiria engenharia, administração, arquitetura, psicologia, biologia ou qualquer outra matéria sem que houvesse um tempo e um espaço. Como calcular a velocidade e a aceleração de um veículo sem especificar a distância percorrida? De onde para onde? Quando? A fragmentação do todo em partes para melhor análise já era defendido por Descartes e tal abstração teórica é essencial para os estudos. Entretanto, segregar o teórico transportando-o para a realidade indica reducionismo. Mesmo a própria humanidade possui em si as marcas das relações temporais e espaciais, sendo uma derivação destas. Assim sendo, o tempo e o espaço não são subjetivos, pois a subjetividade refere-se à percepção do sujeito e ambos antecedem qualquer forma. 

Ora, se espaço e tempo constituem a origem da matéria, então é possível sentir, observar, tocar. Logo, sua concreticidade se faz presente em cada elemento oriundo dos mesmos. São os cabelos que embranquecem, as rugas que aparecem, são as edificações que se tornam vulneráveis às intemperes, são as paisagens, as sazonalidades da natureza, são as construções deterioradas, é a localização do aplicativo de transporte. Existem diferentes modos de contar o tempo, diferentes calendários, do mesmo modo que existem diferentes modelos métricos. É relativo, assim como diferentes lentes para enxergar um determinado espaço. O ponto cego não justifica a subjetividade do sujeito e não pode contaminar o que ultrapassa o próprio ser.

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Logicamente que cada pessoa possui dentro de si uma percepção do movimento do tempo e do espaço, mas essa subjetividade do indivíduo não significa que o tempo e o espaço também são subjetivos, pois estes vão muito além. Não é produtivo iniciar um estudo sobre anacronismo, diacronia, sincronia, fluxos ou dinâmicas espaciais sem refletir sobre o que antecede. As rugosidades geográficas e históricas estão aí para provar e ultrapassam a superficialidade do argumento subjetivo.

Tal debate é importante para o entendimento das relações universais, assim como o próprio Einstein classificara em sua Teoria da Relatividade durante o século XX. A própria epistemologia deve refletir e se aprofundar sobre o tema. Abdicar de tal debate em uma disciplina de cunho filosófico tão fundamental para qualquer matéria é negar as próprias origens, é se abrigar dentro das próprias certezas e se abstrair de questionamentos. A própria ciência é dinâmica, feita de movimentos e que podem gerar um novo entendimento criando assim um novo paradigma. Mesmo assim, tanto as pessoas quanto as teorias oriundas destes ainda precisarão de um tempo e um espaço para existirem.

sábado, 2 de novembro de 2019

Reflexão sobre a fragmentação do PSL

Fundado em 1994 pelo empresário pernambucano Luciano Bivar (hoje presidente do partido), o PSL (Partido Social Liberal) passou de nanico desconhecido para partido do atual presidente. Registrado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 1998, nunca tal instituição usufruiu de tanta notoriedade como agora. Em menos de um ano após a obtenção do poder e de destaque midiático, o partido atualmente oscila entre a expansão possível no horizonte próximo das eleições municipais de 2020 e a fragmentação interna motivada pelas principais figuras que compõem o seu quadro.

Partindo de uma escalada meteórica no pleito eleitoral passado, são vários os fatores que ajudam a entender o fenômeno que elegeu a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados por meio das eleições de 2018 e que hoje encontra-se em crise. Aproveitando-se da onda de insatisfação popular contra o establishment político brasileiro explicitado de forma não equitativa pela operação Lava Jato e da perda de legitimidade dos partidos tradicionais, o PSL dominou as manchetes do mundo inteiro com a polarização que travou com o Partido dos Trabalhadores e que culminou na obtenção da cadeira presidencial por Jair Bolsonaro. 


Ademais, elegeu deputados, senadores e governadores alinhados com os princípios de sua figura central, perdendo parte de sua autonomia para a família do presidente. Sob a bandeira do neoliberalismo estrangeiro com vistas às privatizações e intervenção mínima do Estado em questões sociais e econômicas, o PSL simplesmente esqueceu do S que compõe o seu nome, mas continua sendo um liberal partido, rachado e com práticas de rachadinhas, embolsando parte dos salários dos assessores. Assim sendo, o partido demonstrou que também é contra os trabalhadores brasileiros, tirando até mesmo dos seus funcionários. 

Aproveitando-se do medo e do ódio nacional que cobriu o Brasil devido, sobretudo, ao desemprego crescente e a proliferação da violência como um câncer que afeta o tecido social, o partido fez história em uma campanha caracterizada por discursos autoritários, pautas conservadoras nos costumes e fake news. Com um grande número de apoiadores no espaço cibernético, não há dúvidas que a ferramenta que impulsionou o PSL foi a internet e suas redes sociais, seguindo os passos de Trump e surpreendendo devido ao seu poder de alcance, mesmo com uma pauta claramente contrária aos direitos humanos. O que será de uma sociedade que esquece da sua essência e vai contra os próprios princípios da humanidade? O que será de um partido que esquece parte do próprio nome e, consequentemente, perde espaço para um clã que mais parece uma quadrilha?

Da fragmentação nacional durante o período do escrutínio para a fragmentação interna. O que se nota é uma verdadeira implosão do partido causado pelos principais políticos da própria legenda. O auge dessa disputa interna está entre a ala bolsonarista, fiéis seguidores incondicionais, versus a ala bivarista que defende os interesses da sigla em detrimento dos interesses privados da família Bolsonaro. Um verdadeiro programa de baixarias envolvendo casos de família, onde o patrimonialismo se confunde com o público e repete o passado coronelista do Brasil. Nada de novo na pátria de poucos.

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Crises dos partidos políticos não são novidades e podem ser caracterizadas da seguinte forma: (a) competição - tanto entre as legendas, como também disputa interna pelo poder e influência; (b) ideologia - mudanças nos valores da sociedade; (c) volatilidade - maior movimentação e agitação dos partidos no processo competitivo inerente ao sistema, tornando-se mais acessíveis e surgindo novos partidos como alternativa ao declínio de partidos tradicionais, acirrando assim a disputa.

O cenário pluripartidário da política brasileira fez com o que o PSL passasse despercebido por duas décadas. Agora, com os holofotes sobre o partido, o que se vê é uma troca de acusações, ameaças, insultos e insatisfação dos próprios membros que integram o mesmo e que não se entendem entre si, tornando as brigas públicas. O fato é que não são poucas as denúncias que envolvem o PSL e alguns de seus membros. Pessoas que fizeram ou que ainda fazem parte do governo como Joice Hasselmann, Alexandre Frota, Delegado Waldir e o próprio Jair Bolsonaro acusam o partido e uns aos outros em um jogo de faroeste em que todos atiram contra todos. 

Sem dúvidas, o partido perdeu espaço e se tornou menor do que a figura dos Bolsonaros. O divórcio entre ambas as partes não parece distante e se realmente acontecer será uma separação prematura. A percepção que se tem é que o PSL precisa mais do presidente do que o presidente do PSL, o que desloca o partido para um quadro secundário cuja própria instituição se apequenou diante da sua figura central, semelhante ao que aconteceu com Collor e PRN. É fácil criticar enquanto se está na oposição; entretanto, estando o partido no poder, é necessário deixar de lado promessas falaciosas e agir para o bem de todos, não somente para um grupinho seleto de apoiadores.

PSL

É um laranjal sem fim que atinge tanto a cúpula do partido como os filhos do presidente. É a velha paranoia bolsominion que parece um tiozão chato de churrasco falando sobre ameaças de um passado inexistente, são os funcionários fantasmas sem explicação, é o governo que diz que se espelha no "caso de sucesso" da reforma chilena sendo um exemplo para o modelo brasileiro e que agora teme que os mesmos protestos do Chile aconteçam no Brasil utilizando-se de um discurso ditatorial e saudosista em torno do AI-5.

É a indicação nepotista de parentes para cargos públicos sem o mínimo de preparo, é o ministro que agiu sem ética e sem imparcialidade enquanto juiz inclusive dizendo que nunca entraria para a política e que hoje depende do presidente. É o guru que mora nos EUA e cria uma disputa interna desnecessária entre a ala militar e a ala olavista. É o Chicago Boy (guru da economia) que só sabe falar em cortes e gastos, mas nunca em investimento. É o vexame na ONU e o amor não correspondido pelo ídolo Trump, quase uma paixão platônica. É a suspeita de ligação com milicianos, é a falta de diplomacia para com os vizinhos, é a falta de noção e de um panelaço de bom senso. 

Falta de decoro e decomposição de um falso herói que se mostrou não ser mito algum e que nem precisa de oposição para atrapalhar o próprio mandato. É o aval implícito contra o meio ambiente, é o ministro suspeito de corrupção, é a submissão e entreguismo aos países considerados "amigos", é a culpa sempre dos outros, é o desuso do Estado laico. É o despreparo político e desrespeito para com a maioria que não votou em um governo sem planejamento que parece ainda estar em campanha fazendo um desfavor ao país ao invés de uni-lo.