A cada dia que passa nasce uma nova história, nasce uma nova geografia que é construída em um processo que ultrapassa o próprio indivíduo. Tão natural como a respiração e os sistemas presentes nos processos biológicos, tão comum como a linguagem diária no processo comunicacional entre os seres vivos. O tempo e o espaço formam a origem de tudo o que existiu, o que existe e o que ainda irá existir, reforçando assim a legitimidade das disciplinas de geografia e história para o conhecimento humano.
Dentre as teorias que buscam a compreensão sobre o cerne da origem é possível destacar duas: (a) a teoria criacionista baseada em um conceito teológico pautado, sobretudo, na fé, exigindo assim um alto grau de abstração; (b) a teoria evolucionista tida como um paradigma científico desde a sua proposição por Charles Darwin no século XIX. Mesmo diferentes entre si, existe a possibilidade de integração entre ambas, tendo-se em vista que a origem científica mais consolidada e difundida atualmente parte do princípio por meio do Big Bang, havendo uma brecha que pode ser preenchida pelo complemento teológico para o momento anterior ao da grande explosão. Seja como for, a importância do tempo e do espaço é inegável.
Focando a análise na teoria da evolução (não somente das espécies, mas do próprio universo em si) é possível afirmar que a relatividade impera no processo de expansão dos cosmos que evolui de formas e em tempos diferentes ao longo de bilhões de anos. Se tudo o que se tem hoje originou-se dessa energia expandida, então é correto afirmar que a concreticidade deriva-se do tempo e espaço. Por esse motivo não seria exagero afirmar que as disciplinas de história e de geografia são as pedras fundamentais para o entendimento holístico das demais.
Não existiria engenharia, administração, arquitetura, psicologia, biologia ou qualquer outra matéria sem que houvesse um tempo e um espaço. Como calcular a velocidade e a aceleração de um veículo sem especificar a distância percorrida? De onde para onde? Quando? A fragmentação do todo em partes para melhor análise já era defendido por Descartes e tal abstração teórica é essencial para os estudos. Entretanto, segregar o teórico transportando-o para a realidade indica reducionismo. Mesmo a própria humanidade possui em si as marcas das relações temporais e espaciais, sendo uma derivação destas. Assim sendo, o tempo e o espaço não são subjetivos, pois a subjetividade refere-se à percepção do sujeito e ambos antecedem qualquer forma.
Ora, se espaço e tempo constituem a origem da matéria, então é possível sentir, observar, tocar. Logo, sua concreticidade se faz presente em cada elemento oriundo dos mesmos. São os cabelos que embranquecem, as rugas que aparecem, são as edificações que se tornam vulneráveis às intemperes, são as paisagens, as sazonalidades da natureza, são as construções deterioradas, é a localização do aplicativo de transporte. Existem diferentes modos de contar o tempo, diferentes calendários, do mesmo modo que existem diferentes modelos métricos. É relativo, assim como diferentes lentes para enxergar um determinado espaço. O ponto cego não justifica a subjetividade do sujeito e não pode contaminar o que ultrapassa o próprio ser.
Fonte: https://br.depositphotos.com/189079712/stock-photo-digital-composite-astrology-zodiac-time.html
Logicamente que cada pessoa possui dentro de si uma percepção do movimento do tempo e do espaço, mas essa subjetividade do indivíduo não significa que o tempo e o espaço também são subjetivos, pois estes vão muito além. Não é produtivo iniciar um estudo sobre anacronismo, diacronia, sincronia, fluxos ou dinâmicas espaciais sem refletir sobre o que antecede. As rugosidades geográficas e históricas estão aí para provar e ultrapassam a superficialidade do argumento subjetivo.
Tal debate é importante para o entendimento das relações universais, assim como o próprio Einstein classificara em sua Teoria da Relatividade durante o século XX. A própria epistemologia deve refletir e se aprofundar sobre o tema. Abdicar de tal debate em uma disciplina de cunho filosófico tão fundamental para qualquer matéria é negar as próprias origens, é se abrigar dentro das próprias certezas e se abstrair de questionamentos. A própria ciência é dinâmica, feita de movimentos e que podem gerar um novo entendimento criando assim um novo paradigma. Mesmo assim, tanto as pessoas quanto as teorias oriundas destes ainda precisarão de um tempo e um espaço para existirem.
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