Fundado em 1994 pelo empresário pernambucano Luciano Bivar (hoje presidente do partido), o PSL (Partido Social Liberal) passou de nanico desconhecido para partido do atual presidente. Registrado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 1998, nunca tal instituição usufruiu de tanta notoriedade como agora. Em menos de um ano após a obtenção do poder e de destaque midiático, o partido atualmente oscila entre a expansão possível no horizonte próximo das eleições municipais de 2020 e a fragmentação interna motivada pelas principais figuras que compõem o seu quadro.
Partindo de uma escalada meteórica no pleito eleitoral passado, são vários os fatores que ajudam a entender o fenômeno que elegeu a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados por meio das eleições de 2018 e que hoje encontra-se em crise. Aproveitando-se da onda de insatisfação popular contra o establishment político brasileiro explicitado de forma não equitativa pela operação Lava Jato e da perda de legitimidade dos partidos tradicionais, o PSL dominou as manchetes do mundo inteiro com a polarização que travou com o Partido dos Trabalhadores e que culminou na obtenção da cadeira presidencial por Jair Bolsonaro.
Ademais, elegeu deputados, senadores e governadores alinhados com os princípios de sua figura central, perdendo parte de sua autonomia para a família do presidente. Sob a bandeira do neoliberalismo estrangeiro com vistas às privatizações e intervenção mínima do Estado em questões sociais e econômicas, o PSL simplesmente esqueceu do S que compõe o seu nome, mas continua sendo um liberal partido, rachado e com práticas de rachadinhas, embolsando parte dos salários dos assessores. Assim sendo, o partido demonstrou que também é contra os trabalhadores brasileiros, tirando até mesmo dos seus funcionários.
Aproveitando-se do medo e do ódio nacional que cobriu o Brasil devido, sobretudo, ao desemprego crescente e a proliferação da violência como um câncer que afeta o tecido social, o partido fez história em uma campanha caracterizada por discursos autoritários, pautas conservadoras nos costumes e fake news. Com um grande número de apoiadores no espaço cibernético, não há dúvidas que a ferramenta que impulsionou o PSL foi a internet e suas redes sociais, seguindo os passos de Trump e surpreendendo devido ao seu poder de alcance, mesmo com uma pauta claramente contrária aos direitos humanos. O que será de uma sociedade que esquece da sua essência e vai contra os próprios princípios da humanidade? O que será de um partido que esquece parte do próprio nome e, consequentemente, perde espaço para um clã que mais parece uma quadrilha?
Da fragmentação nacional durante o período do escrutínio para a fragmentação interna. O que se nota é uma verdadeira implosão do partido causado pelos principais políticos da própria legenda. O auge dessa disputa interna está entre a ala bolsonarista, fiéis seguidores incondicionais, versus a ala bivarista que defende os interesses da sigla em detrimento dos interesses privados da família Bolsonaro. Um verdadeiro programa de baixarias envolvendo casos de família, onde o patrimonialismo se confunde com o público e repete o passado coronelista do Brasil. Nada de novo na pátria de poucos.
Crises dos partidos políticos não são novidades e podem ser caracterizadas da seguinte forma: (a) competição - tanto entre as legendas, como também disputa interna pelo poder e influência; (b) ideologia - mudanças nos valores da sociedade; (c) volatilidade - maior movimentação e agitação dos partidos no processo competitivo inerente ao sistema, tornando-se mais acessíveis e surgindo novos partidos como alternativa ao declínio de partidos tradicionais, acirrando assim a disputa.
O cenário pluripartidário da política brasileira fez com o que o PSL passasse despercebido por duas décadas. Agora, com os holofotes sobre o partido, o que se vê é uma troca de acusações, ameaças, insultos e insatisfação dos próprios membros que integram o mesmo e que não se entendem entre si, tornando as brigas públicas. O fato é que não são poucas as denúncias que envolvem o PSL e alguns de seus membros. Pessoas que fizeram ou que ainda fazem parte do governo como Joice Hasselmann, Alexandre Frota, Delegado Waldir e o próprio Jair Bolsonaro acusam o partido e uns aos outros em um jogo de faroeste em que todos atiram contra todos.
Sem dúvidas, o partido perdeu espaço e se tornou menor do que a figura dos Bolsonaros. O divórcio entre ambas as partes não parece distante e se realmente acontecer será uma separação prematura. A percepção que se tem é que o PSL precisa mais do presidente do que o presidente do PSL, o que desloca o partido para um quadro secundário cuja própria instituição se apequenou diante da sua figura central, semelhante ao que aconteceu com Collor e PRN. É fácil criticar enquanto se está na oposição; entretanto, estando o partido no poder, é necessário deixar de lado promessas falaciosas e agir para o bem de todos, não somente para um grupinho seleto de apoiadores.
É um laranjal sem fim que atinge tanto a cúpula do partido como os filhos do presidente. É a velha paranoia bolsominion que parece um tiozão chato de churrasco falando sobre ameaças de um passado inexistente, são os funcionários fantasmas sem explicação, é o governo que diz que se espelha no "caso de sucesso" da reforma chilena sendo um exemplo para o modelo brasileiro e que agora teme que os mesmos protestos do Chile aconteçam no Brasil utilizando-se de um discurso ditatorial e saudosista em torno do AI-5.
É a indicação nepotista de parentes para cargos públicos sem o mínimo de preparo, é o ministro que agiu sem ética e sem imparcialidade enquanto juiz inclusive dizendo que nunca entraria para a política e que hoje depende do presidente. É o guru que mora nos EUA e cria uma disputa interna desnecessária entre a ala militar e a ala olavista. É o Chicago Boy (guru da economia) que só sabe falar em cortes e gastos, mas nunca em investimento. É o vexame na ONU e o amor não correspondido pelo ídolo Trump, quase uma paixão platônica. É a suspeita de ligação com milicianos, é a falta de diplomacia para com os vizinhos, é a falta de noção e de um panelaço de bom senso.
Falta de decoro e decomposição de um falso herói que se mostrou não ser mito algum e que nem precisa de oposição para atrapalhar o próprio mandato. É o aval implícito contra o meio ambiente, é o ministro suspeito de corrupção, é a submissão e entreguismo aos países considerados "amigos", é a culpa sempre dos outros, é o desuso do Estado laico. É o despreparo político e desrespeito para com a maioria que não votou em um governo sem planejamento que parece ainda estar em campanha fazendo um desfavor ao país ao invés de uni-lo.
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