quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Reflexão sobre o nazifascismo no século XXI

Nacionalismo contínuo e exacerbado, desdém pelos direitos humanos, supremacia militar, machismo, mídia de massa parcial, mistura de governo e religião no comando do Estado-nação, ataque aos direitos humanos, perda de direitos trabalhistas, proteção das grandes corporações, desprezo pelas artes e pelos intelectuais, obsessão sobre crime e penas. Definições aceitas para caracterizar o nazifascismo, mas poderiam ser aplicadas facilmente para a política que vigora no Brasil em pleno ano de 2020. Coincidência? Creio que não. Ao invés de carros voadores o futuro nos levou de volta ao passado em um ciclo histórico que remete aos tempos de ditadura e integralismo.

O nazifascismo marcou a história mundial da pior forma possível da década de 20 até o desfecho da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) com o maior saldo negativo em questões de perda de vidas e atrocidades com mais de 60 milhões de pessoas mortas e tantos outros milhões amputados, feridos fisicamente e psicologicamente. Quem é o vencedor em uma guerra? O fardado também é explorado, violência só gera violência. Diante dos impactos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e da grave crise capitalista de 1929 por meio da quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, o efeito dominó em meio à fome e desemprego em larga escala gerou o desespero e procura por falsos salvadores da pátria de extrema-direita. 

roberto alvim

Em tempos difíceis a fé se abala e o medo contagia as pessoas, regendo as atitudes para soluções rápidas e fáceis para sanar as frustrações que se acumulam. O que começa como desespero se transforma em um erro querendo simplificar algo complexo, aceitando argumentos vazios e sem embasamento para achar um alvo que será o culpado por todos os males que assolam tanto a vida pessoal do indivíduo quanto da sociedade. Repentinamente o medo vira ódio e a inteligência emocional se perde em meio a um excesso de racionalidade ilusiva, uma irracionalidade racista. Inversão de valores, democracia em vertigem.

Nazistas e fascistas não passarão! Usar a suástica, defender ideias fascistas, desenhar símbolos integralistas, fazer discursos totalitários, idolatrar Hitler e Mussolini é crime: crime contra a humanidade, crime contra o próximo, crime contra a história, crime contra a fé. O discurso do ex-secretário da cultura do atual governo é só a ponta do iceberg. Roberto Alvim (o Goebbels de Bolsonaro) fez vitimismo do próprio fracasso e sua incompetência o levou à submissão explícita de ideias nazifascistas. Não é o único, pois tem muita gente saindo do armário totalitário brasileiro.

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É, parece que o século XX não terminou, ao menos para o governo reacionário que frequentemente invoca um passado nostálgico de ódio e violência. Exílio, prisão ou morte? Quando a solução está na base da arma é sinal de que a sociedade está doente. Julga, condena, exerce o preconceito antes mesmo das devidas investigações e apurações (e ainda se diz cristão). Um clã que reina no Brasil, eleitos para servidão de um sistema-mundo sem atentar para o progresso social e para o bem do próprio povo. Abertura escancarada para o estrangeiro e fechamento de portas e oportunidades para o cidadão trabalhador brasileiro. Quando números valem mais do que vidas. Receita contraditória para o fracasso. 

Retorno de epidemias que há décadas haviam sido erradicas no país. São as fakes news nas redes sociais, a manipulação de notícias, as distorções dos fatos, o autoritarismo baseado na bala, o discurso demagogo religioso para enganar o rebanho, o descrédito de quem pensa diferente, a fuga de debates, o tom elevado à base do grito para se fazer ouvir. Saudações a um passado de torturas, perseguições e medo, buscando um inimigo (que no caso tupiniquim é a esquerda assim como fora os judeus para os nazistas). É a narrativa de quem crê ser dono da verdade que ecoa na intolerância nacional. Sempre certos de suas certezas, sem provas, sem questionamentos, sem dados. Uma verdade absoluta cujas vozes dissonantes devem ser abafadas, assim como nos tempos do nazifascismo. Uma mentira propagada mil vezes até que se torne verdade.


Tal questão não é uma exclusividade brasileira, tendo-se em vista o aumento da xenofobia, do discurso de ódio e da ascensão de partidos da extrema-direita em outras partes do mundo, sobretudo na Europa. Motivados pela repulsa aos fluxos migratórios oriundos das antigas colônias cujo imperialismo eurocêntrico ajudou a esgotar os recursos, empobrecer a população e ampliar as desigualdades sociais. O processo nacionalista-protecionista nazifascista está em jogo, está se propagando e é dever de todo o cidadão se opor a ele. Nós não temos medo, não temos discurso de ódio e não temos sangue nas mãos!

O discurso de Roberto Alvim (Roberto Rego Pinheiro - nome verdadeiro) não foi um acaso, não foi sem querer, não foi teoria oculta de conspiração, não foi coincidência. Pelo contrário: foi algo previamente planejado, endossado, aprovado, elogiado pelo presidente Jair Bolsonaro e pela cúpula da secretaria da cultura. Cada detalhe na filmagem, no cenário e na fala foi estrategicamente idealizado. Está na hora dos vermes tirarem as máscaras nazifascistas, pararem de desculpas, pararem de vitimismo, pararem de terceirizar a culpa e assumirem os próprios erros de um governo que em mais de um ano só demonstra retrocessos, reduzindo investimentos em saúde e educação, retirando direitos dos trabalhadores e aumentado a desigualdade nacional. Novamente: nazistas e fascistas não passarão!

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Reflexão sobre as veias abertas da América Latina

Um espectro ronda a América Latina - o espectro do medo do comunismo. O fantasma neoliberal se espalha e domina o solo fértil e sagrado da grande ilha mundial. A Nova Índia sem os seus habitantes naturais. Colônia eternamente colonizada, ainda trocando riquezas por espelhos com tela de LED e smartphones que alienam. Isolados e explorados em seu próprio território, reféns da hegemonia de um distante primo do Norte. O imperialismo finca raízes sobre a cultura dos outros povos mascarando identidades por um padrão normatizado globalmente aceito por seu orgulho de vestimentas do opressor.

Qual o motivo de tanta falta de indignação? Por que se envergonhar por não ser igual? O diferente não é mais aceito no processo de submissão proliferado pelo sistema. As amarras continuam nos pampas, no pantanal, nas florestas e no caribe. Nosso Norte é o Sul, continente invertido! Banhado pelos oceanos Atlântico (mas aonde se encontra a verdadeira Atlantis, o reino perdido?) e Pacífico (aonde está a paz?).

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Em seus rios há fluxo de lágrimas e sangue em uma triste intersecção entre passado, presente e futuro. Suas constelações já não são as mesmas, pois estão encobertas pela poluição das fábricas. Seu espaço não lhe pertence mais, está sempre em disputa pelo interesse alheio de nações distantes. O inimigo mora ao lado? Em suas veias correm rios de sangue indígenas, latinos, africanos...sempre periféricos à ordem mundial. Veias abertas, expostas, explícitas. Afinal, quem faz parte desse jogo sujo?

Um aspecto destruidor ronda as fronteiras dos povos da América Latina - é o aspecto do capitalismo em sua feição mais contemporânea. É o espírito do neoliberalismo fantasmagórico travestido de ódio, intolerância, fanatismo e imposição. É a nova versão do velho discurso da natural divisão do trabalho: poucos nascem para comandar e muitos para servir. Não esqueça de lavar os pratos e sair. É a nova ilusão da mentira da meritocracia em uma sociedade recheada de desigualdades, injustiças e indicações. Pois que haja resistência e luta onde há força bruta. Que haja inteligência e coragem onde há covardia e privilégios.


A América Latina é muito mais do que isso, deve estar unida, de cabeça para baixos mostrando ao resto do mundo o real Norte. A América Latina deve se desenvolver a seu modo, deve se impor, deve ser solidária e independente. Sem lamber a sola do sapato de presidentes estrangeiros, sem abaixar a cabeça para as ordens vindas do exterior. A América Latina é verde, amarela, azul e vermelha. É branca, preta e mestiça. É misturante e misturada. Local de união e amizade ao invés de um cenário de disputas mesquinhas por uma suposta área de influência regional. Ou vamos todos juntos rumo à integração internacional ou não vai ninguém.

É hora de se rebelar sim, hora de se revoltar com a miséria, com a xenofobia, com a violência e com a corrupção. É hora de se rebelar, mas de verdade, não com dancinhas e musiquinhas toscas com teor de mel por um mito inexistente. Vestir o uniforme, ocupar o espaço, sair às ruas, pois nas veias da América Latina corre sangue de gente de verdade, não de marionetes do sistema industrial, bancário e financeiro. É preciso pulsar para o coração não parar, fazer acontecer, produzir.


Um espectro ronda a América Latina - é o espectro da união revolucionária dos seus povos. É a enxada, o facão, a foice e o martelo. É o mapa de cabeça para baixo. Sem nacionalismo, sem intrigas ou populismo. Apenas a verdadeira emancipação, apenas a verdadeira independência tal qual como deveria ter ocorrido desde o princípio, séculos atrás. Vejo sua população carente, inconformada com os cortes, passos para trás, retrocesso. Também sou seu filho, também sou um deles, gente como a gente, gente como os outros. Vejo o seu povo chegando ao limite, indignado com a atual situação. Também estou aqui, também sofro as consequências.

As veias da América Latina transbordam sangue de pessoas de mãos calejadas, humanos às margens, excluídos pelo sistema. Por que não estar nu? Quem dita as regras? Quem cria as normas e os padrões? O homem refém do homem no sistema tido como o mais adequado. Pois diga a eles que não existe perfeição na Terra. Diga a eles que um soco no ar dignifica muito mais do que uma cabeça abaixada. Não estamos de joelhos. Não estamos à venda. Estamos em chamas diante das vésperas da explosão da revolução. Estamos em chamas, pois aqui corre o sangue das veias abertas da América Latina!

domingo, 5 de janeiro de 2020

Reflexão sobre o poder espacial e cibernético na geopolítica atual

Começamos o ano à moda do sonho americano propagado por Hollywood: explosões no Oriente Médio, mortes, segundas intenções e tensão militar pela hegemonia mundial. Os recentes ataques aéreos dos EUA sobre o Irã no alvorecer de 2020 que culminou com a morte do general iraniano Suleimani apontam a tendência da geopolítica contemporânea para o poderio militar espacial. Isso significa um outro limite, uma outra fronteira além do tradicional. Se a geopolítica clássica é caracteriza pela Teoria do Poder Marítimo de Mahan, pelo Heartland da Teoria do Poder Terrestre de Mackinder e pela Teoria do Rimland de Spykman; agora, mais do que nunca, o domínio espacial se mostra essencial no xadrez dos interesses internacionais dos governos e Estados.

De modo acumulativo (não exclusivo), os poderios terrestres, marítimos e aéreos ainda são importantes para o entendimento teórico e prático da geografia política (o intuito aqui não é refletir sobre a dualidade ou dicotomia dos termos "geografia política" e geopolítica"). A questão que se põe na demonstração de força do imperialismo expansionista estadunidense é uma visão do presente para o futuro por meio do controle tecnológico espacial. 

Começou uma guerra espacial

Dessa forma, a disputa pelo poder hegemônico mundial ultrapassa a globalização, atingindo as estrelas. A geoide terrestre não é suficiente para as grandes batalhas. A geoestratégia não cabe mais somente no planeta. É o cordão umbilical que se rompe assim como a ruptura de um istmo paradigmático. Uma prova disso são os caminhos traçados pelos avanços militares das principais potências. Diria até ser um momento que age como ponto de inflexão na transição da globalização (mundialização) para o início, a longo prazo, da universalização de fato. Mais do que conceitos abstratos ou superficiais, trata-se da realidade para as próximas décadas no cenário internacional.

Mísseis estelares, satélites, espaçonaves...o próximo espaço físico para demonstração de poderio bélico e tecnológico é o espaço absoluto, indo além do céu, pois o domínio aéreo se restringe às nuvens e a conjuntura atual dos fatos é abrangente ao mesmo tempo em que se desenvolve de forma exponencial. O fator demográfico é essencial para a geoestratégia; entretanto, a ação direta de homens em guerras abertas tende a reduzir, fruto dos avanços tecnológicos (o que não significa necessariamente uma redução no número de perda de vidas).

Pensando ainda no que tange sobre a próxima fronteira é possível apontar a internet como um novo campo de conflitos que pode contribuir com um grande peso nas guerras. O poder cibernético preenche o espaço virtual, nem por isso deve ser menosprezado. Invasões de sites e plataformas governamentais oficiais ganham força nas estratégias de luta. Um simples vírus virtual, assim como a possibilidade de acessar o ciberespaço alheio a ponto de disparar armamentos do oponente caracterizam um grande risco na atualidade. 


Apesar do poder anfíbio e aéreo já estarem contemplados na geopolítica pós-Guerra Fria, o controle espacial e do ciberespaço já se configuram como fundamentais na queda de braço entre as nações. A balança militar favorável dos EUA não se dá apenas no âmbito da Terra. Por isso o constante aperfeiçoamento se faz necessário. Os drones utilizados na tensão envolvendo os Estados Unidos e o Irã são apenas uma amostra do que há por vir. 

O desafio brasileiro vai desde a expansão de acessibilidade da internet e cobertura do território por satélites, inclusive no grande interior nacional, até uma postura de política externa de autonomia e soberania, frontalmente oposta ao que é praticado pelo atual governo. O alinhamento ideológico automático só favorece a submissão do Brasil para com o status quo das superpotências, sobretudo para com os interesses dos Estados Unidos, perpetuando assim o grande quintal estadunidense na América Latina, sua área de influência. Enquanto o Brasil não investir em infraestrutura, ciência e tecnologia, seremos sempre a periferia do sistema-mundo. 

O devir é sempre uma incógnita, mas é possível realizar análises sem praticar futurologia. As tecnologias militares sempre estiveram passos à frente das tecnologias em uso pela sociedade civil. O que hoje parece ser tecnologia de ponta para um cidadão comum, já é um velho conhecido das principais forças armadas do mundo. É um saber que se sobrepõe, é a expansão geográfica da política por outros meios, conforme pensamento de Clausewitz. 

guerra-cibernetica

A predominância aérea na estratégia militar evoluirá naturalmente para o poder espacial, assim como a tecnologia e avanços científicos nas mais diversas áreas se propagarão pelos campos de batalhas por meio de robôs, ataques remotos teleguiados com extrema precisão, rastreadores avançados, armas inteligentes no sistema de defesa, invasão e controle do ciberespaço. Não à toa Star Wars continua em voga.

Mesmo sem carros voadores, o século XXI começou: avançado na produção intelectual de produtos e mercadorias, mas antigo na visão racional-individualizada da humanidade, preso em velhos hábitos de guerras e manias bélicas de domínio imperial-expansionista. Pode até ser considerado um crescimento ou mesmo um avanço; porém, decerto não representa um desenvolvimento evolutivo do ser.