terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Reflexão sobre as veias abertas da América Latina

Um espectro ronda a América Latina - o espectro do medo do comunismo. O fantasma neoliberal se espalha e domina o solo fértil e sagrado da grande ilha mundial. A Nova Índia sem os seus habitantes naturais. Colônia eternamente colonizada, ainda trocando riquezas por espelhos com tela de LED e smartphones que alienam. Isolados e explorados em seu próprio território, reféns da hegemonia de um distante primo do Norte. O imperialismo finca raízes sobre a cultura dos outros povos mascarando identidades por um padrão normatizado globalmente aceito por seu orgulho de vestimentas do opressor.

Qual o motivo de tanta falta de indignação? Por que se envergonhar por não ser igual? O diferente não é mais aceito no processo de submissão proliferado pelo sistema. As amarras continuam nos pampas, no pantanal, nas florestas e no caribe. Nosso Norte é o Sul, continente invertido! Banhado pelos oceanos Atlântico (mas aonde se encontra a verdadeira Atlantis, o reino perdido?) e Pacífico (aonde está a paz?).

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Em seus rios há fluxo de lágrimas e sangue em uma triste intersecção entre passado, presente e futuro. Suas constelações já não são as mesmas, pois estão encobertas pela poluição das fábricas. Seu espaço não lhe pertence mais, está sempre em disputa pelo interesse alheio de nações distantes. O inimigo mora ao lado? Em suas veias correm rios de sangue indígenas, latinos, africanos...sempre periféricos à ordem mundial. Veias abertas, expostas, explícitas. Afinal, quem faz parte desse jogo sujo?

Um aspecto destruidor ronda as fronteiras dos povos da América Latina - é o aspecto do capitalismo em sua feição mais contemporânea. É o espírito do neoliberalismo fantasmagórico travestido de ódio, intolerância, fanatismo e imposição. É a nova versão do velho discurso da natural divisão do trabalho: poucos nascem para comandar e muitos para servir. Não esqueça de lavar os pratos e sair. É a nova ilusão da mentira da meritocracia em uma sociedade recheada de desigualdades, injustiças e indicações. Pois que haja resistência e luta onde há força bruta. Que haja inteligência e coragem onde há covardia e privilégios.


A América Latina é muito mais do que isso, deve estar unida, de cabeça para baixos mostrando ao resto do mundo o real Norte. A América Latina deve se desenvolver a seu modo, deve se impor, deve ser solidária e independente. Sem lamber a sola do sapato de presidentes estrangeiros, sem abaixar a cabeça para as ordens vindas do exterior. A América Latina é verde, amarela, azul e vermelha. É branca, preta e mestiça. É misturante e misturada. Local de união e amizade ao invés de um cenário de disputas mesquinhas por uma suposta área de influência regional. Ou vamos todos juntos rumo à integração internacional ou não vai ninguém.

É hora de se rebelar sim, hora de se revoltar com a miséria, com a xenofobia, com a violência e com a corrupção. É hora de se rebelar, mas de verdade, não com dancinhas e musiquinhas toscas com teor de mel por um mito inexistente. Vestir o uniforme, ocupar o espaço, sair às ruas, pois nas veias da América Latina corre sangue de gente de verdade, não de marionetes do sistema industrial, bancário e financeiro. É preciso pulsar para o coração não parar, fazer acontecer, produzir.


Um espectro ronda a América Latina - é o espectro da união revolucionária dos seus povos. É a enxada, o facão, a foice e o martelo. É o mapa de cabeça para baixo. Sem nacionalismo, sem intrigas ou populismo. Apenas a verdadeira emancipação, apenas a verdadeira independência tal qual como deveria ter ocorrido desde o princípio, séculos atrás. Vejo sua população carente, inconformada com os cortes, passos para trás, retrocesso. Também sou seu filho, também sou um deles, gente como a gente, gente como os outros. Vejo o seu povo chegando ao limite, indignado com a atual situação. Também estou aqui, também sofro as consequências.

As veias da América Latina transbordam sangue de pessoas de mãos calejadas, humanos às margens, excluídos pelo sistema. Por que não estar nu? Quem dita as regras? Quem cria as normas e os padrões? O homem refém do homem no sistema tido como o mais adequado. Pois diga a eles que não existe perfeição na Terra. Diga a eles que um soco no ar dignifica muito mais do que uma cabeça abaixada. Não estamos de joelhos. Não estamos à venda. Estamos em chamas diante das vésperas da explosão da revolução. Estamos em chamas, pois aqui corre o sangue das veias abertas da América Latina!

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