domingo, 5 de janeiro de 2020

Reflexão sobre o poder espacial e cibernético na geopolítica atual

Começamos o ano à moda do sonho americano propagado por Hollywood: explosões no Oriente Médio, mortes, segundas intenções e tensão militar pela hegemonia mundial. Os recentes ataques aéreos dos EUA sobre o Irã no alvorecer de 2020 que culminou com a morte do general iraniano Suleimani apontam a tendência da geopolítica contemporânea para o poderio militar espacial. Isso significa um outro limite, uma outra fronteira além do tradicional. Se a geopolítica clássica é caracteriza pela Teoria do Poder Marítimo de Mahan, pelo Heartland da Teoria do Poder Terrestre de Mackinder e pela Teoria do Rimland de Spykman; agora, mais do que nunca, o domínio espacial se mostra essencial no xadrez dos interesses internacionais dos governos e Estados.

De modo acumulativo (não exclusivo), os poderios terrestres, marítimos e aéreos ainda são importantes para o entendimento teórico e prático da geografia política (o intuito aqui não é refletir sobre a dualidade ou dicotomia dos termos "geografia política" e geopolítica"). A questão que se põe na demonstração de força do imperialismo expansionista estadunidense é uma visão do presente para o futuro por meio do controle tecnológico espacial. 

Começou uma guerra espacial

Dessa forma, a disputa pelo poder hegemônico mundial ultrapassa a globalização, atingindo as estrelas. A geoide terrestre não é suficiente para as grandes batalhas. A geoestratégia não cabe mais somente no planeta. É o cordão umbilical que se rompe assim como a ruptura de um istmo paradigmático. Uma prova disso são os caminhos traçados pelos avanços militares das principais potências. Diria até ser um momento que age como ponto de inflexão na transição da globalização (mundialização) para o início, a longo prazo, da universalização de fato. Mais do que conceitos abstratos ou superficiais, trata-se da realidade para as próximas décadas no cenário internacional.

Mísseis estelares, satélites, espaçonaves...o próximo espaço físico para demonstração de poderio bélico e tecnológico é o espaço absoluto, indo além do céu, pois o domínio aéreo se restringe às nuvens e a conjuntura atual dos fatos é abrangente ao mesmo tempo em que se desenvolve de forma exponencial. O fator demográfico é essencial para a geoestratégia; entretanto, a ação direta de homens em guerras abertas tende a reduzir, fruto dos avanços tecnológicos (o que não significa necessariamente uma redução no número de perda de vidas).

Pensando ainda no que tange sobre a próxima fronteira é possível apontar a internet como um novo campo de conflitos que pode contribuir com um grande peso nas guerras. O poder cibernético preenche o espaço virtual, nem por isso deve ser menosprezado. Invasões de sites e plataformas governamentais oficiais ganham força nas estratégias de luta. Um simples vírus virtual, assim como a possibilidade de acessar o ciberespaço alheio a ponto de disparar armamentos do oponente caracterizam um grande risco na atualidade. 


Apesar do poder anfíbio e aéreo já estarem contemplados na geopolítica pós-Guerra Fria, o controle espacial e do ciberespaço já se configuram como fundamentais na queda de braço entre as nações. A balança militar favorável dos EUA não se dá apenas no âmbito da Terra. Por isso o constante aperfeiçoamento se faz necessário. Os drones utilizados na tensão envolvendo os Estados Unidos e o Irã são apenas uma amostra do que há por vir. 

O desafio brasileiro vai desde a expansão de acessibilidade da internet e cobertura do território por satélites, inclusive no grande interior nacional, até uma postura de política externa de autonomia e soberania, frontalmente oposta ao que é praticado pelo atual governo. O alinhamento ideológico automático só favorece a submissão do Brasil para com o status quo das superpotências, sobretudo para com os interesses dos Estados Unidos, perpetuando assim o grande quintal estadunidense na América Latina, sua área de influência. Enquanto o Brasil não investir em infraestrutura, ciência e tecnologia, seremos sempre a periferia do sistema-mundo. 

O devir é sempre uma incógnita, mas é possível realizar análises sem praticar futurologia. As tecnologias militares sempre estiveram passos à frente das tecnologias em uso pela sociedade civil. O que hoje parece ser tecnologia de ponta para um cidadão comum, já é um velho conhecido das principais forças armadas do mundo. É um saber que se sobrepõe, é a expansão geográfica da política por outros meios, conforme pensamento de Clausewitz. 

guerra-cibernetica

A predominância aérea na estratégia militar evoluirá naturalmente para o poder espacial, assim como a tecnologia e avanços científicos nas mais diversas áreas se propagarão pelos campos de batalhas por meio de robôs, ataques remotos teleguiados com extrema precisão, rastreadores avançados, armas inteligentes no sistema de defesa, invasão e controle do ciberespaço. Não à toa Star Wars continua em voga.

Mesmo sem carros voadores, o século XXI começou: avançado na produção intelectual de produtos e mercadorias, mas antigo na visão racional-individualizada da humanidade, preso em velhos hábitos de guerras e manias bélicas de domínio imperial-expansionista. Pode até ser considerado um crescimento ou mesmo um avanço; porém, decerto não representa um desenvolvimento evolutivo do ser.

2 comentários:

  1. Oi Cabeludo. Apenas lembrando que 76/ por cento dos americanos são contra a guerra, o que não quer dizer nada. VC já imaginou como seria o oriente médio sem intervenção de espécie alguma? Abraços.

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