É inegável que hoje nos encontramos em uma crise. Crise: essa palavra é dita sem parar pelos meios de comunicação, no ambiente profissional, dentro dos lares brasileiros, nos bares e esquinas. Mas afinal, qual a sua origem? Crise do quê? Uma nação é marcada por diferentes tipos de crises em circunstâncias e momentos diferentes. Mas essa nova geração, dos jovens que possuem seus 20 anos, não havia testemunhada algo parecido. E até mesmo pessoas de 40 anos se assustam com o momento atual do país. Talvez pelo distanciamento de crises passadas, o que gera um certo abrandamento dos fatos; afinal, a pior crise sempre é a do momento, pois as demais já foram vencidas, deixando "apenas" cicatrizes. Mas a pergunta que todos se fazem, independente da idade, é: até quando?
Os fatos estão postos e não há para onde correr. É preciso encarar de frente a incerteza do futuro da qual, a única certeza é a de momentos difíceis para a população. Penso que o termo mais adequado a ser cunhado seja crises, pois vivenciamos atualmente um caos político (falta de identidade com os políticos que nos representam e que agem sem ética para com a democracia, agindo por interesses particulares) e um caos econômico (com a elevação de inadimplentes, onde cidadãos e o próprio Estado encontram-se endividados).
A crise política tem suas origens desde a época do Brasil colônia (segundo alguns historiadores). Apesar de achar a afirmação verdadeira, tendo a não debitar a conta em Portugal; afinal, desde 1822 somos um país independente e tivemos tempo para construir uma identidade política própria e diferente dos vícios inseridos em nossa cultura pelos colonizadores. A própria ideia de que o Brasil é o país do futuro está gasta e demonstra a falta de credibilidade no aqui e no agora. O fato de instaurarmos uma democracia sem uma sociedade civil madura acentua a gravidade política. O cenário político do Brasil é marcado por oligarquias que vai desde a política do café com leite, passado pela ditadura, até aos tempos recentes, onde os representantes do povo na verdade representam os interesses de determinadas categorias inseridas na sociedade, como os incentivos às automobilísticas, o apoio à bancada agrícola, a troca de favores para com os empresários e até mesmo a tendência baseada em fatores religiosos, como a representação dos interesses da bancada evangélica. Vale lembrar que a cidadania nacional nasceu sem liberdade individual.
Desse modo, o todo fragmenta-se, sobressaindo-se os mais poderosos. Ou seja, entende-se por poderosos aqueles que detêm maior poder aquisitivo (financeiro), pois em uma sociedade capitalista, com bases mercantilistas, o acúmulo de riquezas é o verdadeiro diferencial e demonstração de poder. Assim, a população em geral é lembrada somente a cada dois anos, durante o momento eleitoral. Nessa hora os então candidatos travam um verdadeiro confronto em busca de cada voto. Basta recordar da última eleição para presidente, onde as propostas ficaram de lado (o que já ocorre há alguns anos) e as campanhas tanto do Aécio quanto da Dilma tornaram-se verdadeiros ringues eleitorais de acusações e ofensas públicas e explicitas. O fato da obrigatoriedade do voto diante de um cenário de candidatos desanimadores também deve ser citado como parte da crise.
Constituiu-se um governo sem os atributos necessários para comandar o país, fato que ficou claro logo nos primeiros meses de 2015. A questão é: quem colocar no lugar? A falta de novas figuras no cenário política torna o quadro alarmante, pois são sempre as mesmas caras e essas caras estão envolvidas em escândalos de conduta e desvio. A crise política não é um problema de um candidato, nem mesmo um problema recente. Veja o recém governo interino de Michel Temer: em duas semanas já obteve escândalos suficientes para desestabilizá-lo. Primeiro foi a ausência de mulheres em sua gestão, em seguida o corte / fusão de Ministérios importantes para a identidade nacional, como o Ministério da Cultura e o Ministério de Ciências e Tecnologia. Isso sem contar as polêmicas gravações da Lava Jato que não param de explodir tanto no Poder Legislativo quanto no Poder Executivo. Os alvos da vez são José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá (escolhido como ministro pelo governo Temer). Com isso, é possível concluir que a corrupção é um problema sistêmico e não exclusivo de um determinado partido. E as delações não param de chegar, apontando para o Aécio Neves e para o PSDB. Como se não bastasse, o PMDB terá que enfrentar o PT na oposição, algo que os petistas sabem fazer muito bem (ao contrário dos tucanos).
O que me preocupa são as denúncias do chamado acordão (que seria um pacto multilateral entre a classe política para barrar ou ao menos amenizar a conduta do poder judiciário para com os demais poderes). É preciso atenção da sociedade civil, dos movimentos sociais e da mídia para que esse pesadelo não se torne realidade. Temos que mostrar que aprendemos com a operação Mãos Limpas que ocorreu na Itália, para não cometermos o mesmo erro. Sei que a história muitas vezes se repete, mas sinceramente espero que esse não seja o caso.
A outra crise é a econômica. Essa, no meu ponto de vista, é a que causa maiores danos. Não que seja mais importante do que a crise política, até mesmo porque ambas estão relacionadas. Mas pelo fato de que esta impacta diretamente no cotidiano das pessoas. Não sou economista e por esse motivo não me aprofundarei em questões técnicas. O que quero demonstrar aqui é que a crise econômica é o fator determinante para a agitação social. Lembro-me das manifestações de 2013 que tinham um cunho mais social do que econômico. Elas foram importantes, mas poucas mudanças foram feitas. Ao contrário dessas manifestações de agora, de cunho político, mas fortemente influenciadas pela economia. Quando a economia entra em colapso, toda a estrutura social e estatal afundam junto, pois é assim que é em uma sociedade capitalista.
O dinheiro é o antes e o dinheiro é o depois. Desde a dona de casa que vai ao supermercado para abastecer sua família até as ações do empresário. Tudo é definido pelo poder aquisitivo e todas as coisas materiais estão ligadas ao capital. Não só isso, a crise econômica não abala só a matéria, mas também relações, sentimentos e almas. Basta lembrar da grande depressão de 1929 quando a bolsa dos EUA quebrou. Muitos foram os casos de suicídios e patologias de ordem mental. A economia afeta o humor do cidadão e é por isso que temos o segundo caso de impeachment de presidentes no Brasil. A crise política, como dito nos parágrafos acima, sempre existiu e de certa forma é aceitável pela população, inclusive alvo de piada, desde que não interfira no bolso da população brasileira. O principal motivo pela queda do governo Collor em 1992 e agora do governo Dilma é o econômico. O processo político (com base jurídica na Constituição) foi apenas o meio pelo qual a economia encontrou em tirá-los do poder.
É com a crise econômica que vemos o aumento da violência, a ascensão da extrema direita, a briga por emprego, o aumento da intolerância, o aumentos dos confrontos de ruas e tantos outros sintomas negativos. É o pai de família que perde o rumo, é o político que se vê ameaçado, é o empregador que fecha empregos e assim vai. A incerteza econômica gera o mal estar social atingindo o ser humano em todas as suas instâncias. Se quisermos jogar as regras do sistema global atual então é necessário, sobretudo, a manutenção correta da economia (algo que o governo Dilma passou longe).
Alguns amigos me perguntam sobre o governo Temer e qual o fator determinante para o seu sucesso. Para mim parece uma questão simples de ser equacionada (desde que sejam feitas pelas pessoas adequadas, sobretudo tecnicamente): deve-se realizar o ajuste da economia, refazer o ministério excluindo aqueles envolvidos em casos de má conduta pública (mesmo que ainda não condenados) e seguir a Constituição tal como ela é (evitando assim novos deslizes). Eu sei que o jogo político é uma via de mão dupla e que isso inúmeras vezes impacta as decisões do governante. Porém, esse é o momento de deixar o judiciário agir (não só através da Lava Jato) e se cercar de pessoas capazes de solucionar os problemas. É preciso mostrar o exemplo, deixar claro para a população que nesse cenário caótico todos têm seus deveres, assim como os direitos. Mudar de estratégia a cada semana que passa, conforme se desenha a opinião pública, parece-me uma fonte para o fracasso. Basta ver o então ministro José Serra já angariando opositores dentro do próprio Itamaraty, com a ideia de retirada de embaixadas específicas, estressando os diplomatas.
Os gastos devem ser cortados, mas não a qualquer preço. Sei que o tempo é curto, mas é preciso planejamento. A impressão que esse governo passa nesses primeiros dias é de ações não tão maduras como deveriam ser, agindo de modo empírico para avaliar a reação da população. Muito se fala em aumento de impostos e reajustes da previdência, mas é preciso comentar também sobre o assistencialismo exacerbado. Não só com redução se atinge a plenitude econômica, mas também com fiscalização. Será que todos àqueles que recebem o Bolsa Família ou o Prouni realmente necessitam? E a bolsa presidiário, onde os detentos são mantidas às nossas custas?
Planejamento e fiscalização são fundamentais para o combate às crises econômica e política.
Sobre arrecadação; imposto sobre grandes fortunas, por exemplo, deveria ser melhor analisada como uma alternativa ao reajuste previdenciário ou afrouxamento da CLT. Sou a favor de políticas assistencialistas, acredito que infelizmente são necessárias nesse momento do Brasil.
ResponderExcluirMassa o texto, li os anteriores tbm :) parabéns