Mais um atentado contra a humanidade há menos de um mês dos jogos olímpicos do Rio de Janeiro. Somado a esse fato está a falta de recursos da polícia que atuará na cidade, o estado de calamidade pública anunciado pelo governador do Rio, a violência que nunca cessa nos morros cariocas, a instabilidade política do Brasil, a tentativa de golpe militar na Turquia, a eleição norte-americana e a incerteza econômica que assola o mundo. Diante do cenário descrito é difícil ser otimista com os tais jogos.
Primeiro vamos focar a nossa reflexão para dentro de casa e questionar os legados dos jogos que virão traçando um paralelo comparativo com os jogos que já passaram pelo país. Nesse quesito temos pontos negativos como os elefantes brancos que ficaram da copa do mundo de futebol. Ainda me questiono sobre o motivo de utilizarem tantos estádios sendo que muitos não se pagam e caem no esquecimento. A submissão de uma nação diante das exigências de um ente como a FIFA mostram o descaso para com as reais necessidades do povo. De certa forma podemos dizer que obras importantes de infraestrutura e saneamento foram trocados por estádios e assentos para satisfazer os traseiros dos visitantes estrangeiros durante o evento. São várias as denúncias de desvio de verba pública para a realização das obras e também de superfaturamento de políticos e empreiteiras envolvidos na construção/reforma dos estádios, como o caso da arena de Itaquera, em São Paulo. Contrariando a lógica capitalista, os elefantes brancos dão mais prejuízo do que lucro e restam como herança de um vexame nacional dentro dos campos. O mesmo se aplica aos Jogos Pan-Americanos realizados no Rio, que talvez seja o melhor parâmetro para realizarmos uma análise sobre o evento que virá.
Não podemos nos esquecer do perigo trazido pelo mosquito Aedes Aegypti, transmissor de doenças como a dengue, a zika e a chikungunya. Vários são os atletas estrangeiros que já confirmaram a não participação nos jogos devido ao medo de contaminação. A saúde fluminense está na UTI em estado terminal. Não há leitos, não há remédios, os hospitais estão sem estrutura adequada e os médicos estão ausentes ou com o salário atrasado. O resgate do traficante Fat Family diz por si só. Como se não fosse suficiente, a cidade vive uma verdadeira guerra civil entre policiais, milicianos e traficantes. No meio de tudo está a população. A situação é tão crítica que o número de policiais mortos supera os sessenta. E quantos inocentes foram mortos de 2007 até agora? Por fim, é possível citar a greve dos professores e a calamidade da UFRJ. Portanto, é difícil encontrar qual área foi realmente beneficiada com os diversos eventos que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro na última década.
Mas o problema não se restringe aos estádios. Desde os jogos Pan-Americanos de 2007 fala-se em ganhos para a cidade do Rio de Janeiro como melhora na segurança, mobilidade urbana e incentivo ao esporte. A pergunta que o povo brasileiro se faz, sobretudo os cariocas, é onde foram parar todos esses ganhos. O cidadão só vê aumentar o trânsito por causa das obras, o crescimento da violência urbana e os esportistas cada vez com menos apoio, muito devido à crise atual que o país vive. Foram tantos bilhões investidos de 2007 até 2016, mas não há o que comemorar. Afinal, o legado de tanto investimento é sentido por poucos, talvez apenas por aqueles que se apropriaram indevidamente de recursos públicos e privados. Portanto, o histórico não é favorável para o povo brasileiro.
Outro aspecto para refletir são os acontecimentos externos. A efervescência global parece uma panela de pressão que não para de aumentar. Os fatos mais recentes são: os atentados terroristas em Nice e Istambul e a tentativa de golpe militar na Turquia. Em ambos os casos centenas de civis foram mortos e um sentimento de medo e atinge as demais nações, mesmo que distantes geograficamente. A lacuna de tempo entre os Jogos Pan-Americanos de 2007 e os Jogos Olímpicos de 2016 é considerável, não em termos exclusivamente temporais, mas pelas mudanças sofridas pela sociedade. O terrorismo é uma ameaça muito mais presente hoje do que foi no passado para o Brasil, sobretudo com a ascensão do Estado Islâmico. A insegurança é tanta que assuntos como a saída do Reino Unido da União Europeia, ocorrida há poucas semanas, parece algo antigo e secundário.
No campo político temos a crítica da oposição francesa ao atual governo do país, vítima de vários atentados terroristas nos últimos dois anos. Também temos o perigo Trump nos EUA, que pode representar mais uma vitória para os conservadores nacionalistas. Internamente temos a questão do impeachment, assunto do meu primeiro post neste blog, e a incerteza quanto aos rumos político-econômicos do país.
O fato de ter um evento mundial de grande porte não me anima em nada. Vejo as Olimpíadas como um grande celeiro para hasteamento de bandeiras, agravando ainda mais a questão da competição e do nacionalismo. Sou a favor do esporte, mas os esportistas de hoje representam hinos e interesses de terceiros. Os jogos só fazem aumentar a dívida do país e tudo isso apenas para ser melhor visto externamente - isso se der tudo certo, o que se torna um risco. O evento pode ser um "sucesso" tendo em vista a hospitalidade do brasileiro e o teatro armado para os dias dos jogos. Mas e depois? Qual será o grande legado das Olimpíadas para o Brasil além de um rombo nos cofres públicos? E quanto à segurança, saúde, transporte público e educação? Espero que ao final dê tudo certo, mesmo não concordando com um evento que só alimenta a política do pão e circo.
Quando a tenda é desmontada e as luzes se apagam, a realidade volta à cena e somos os palhaços no palco principal da corte.
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