sábado, 12 de novembro de 2016

Reflexão sobre a eleição presidencial estadunidense

No último dia 08 de novembro os estadunidenses foram às urnas para escolher o próximo presidente cujo resultado deixou o mundo em estado de choque com a vitória do milionário Donald Trump sobre a sua concorrente Hillary Clinton. Desde então uma onda de pessimismo político-econômico vem crescendo entre as nações, tendo como base o perfil agressivo, preconceituoso e exclusivo do agora eleito novo presidente dos Estados Unidos. Porém, creio que seja cedo para tamanho alarde. 

Primeiro temos que entender o funcionamento da eleição presidencial daquele país. Em suma, destaco três características que se diferenciam das eleições presidenciais brasileiras: 1. voto facultativo, 2. utilização de cédulas ao invés de urna eletrônica e 3. caráter indireto. Quanto à primeira diferença não há muito o que discorrer, pois lá o voto não é obrigatório, ao contrário daqui. Com isso, o candidato tem a missão de convencer o cidadão a ir votar. Com relação à segunda diferença, apesar da utilização da urna eletrônica ser reconhecida internacionalmente, a falta do substrato durante a votação, que seria um comprovante impresso após o voto com as escolhas feitas, ainda é um fator que faz com que muitos países não a adotem, mantendo assim a tradição de se utilizar cédulas de papel. 

Já a terceira diferença é aquela que causa maior estranheza aos brasileiros: nos Estados Unidos o voto dos eleitores de cada Estado servem como base para eleger delegados no Colégio Eleitoral que representarão os eleitores da respectiva unidade federativa na escolha final. Ou seja, o voto não é creditado diretamente ao candidato. O Colégio Eleitoral é formado por 538 assentos de modo que 270 votos é o número mágico para eleger um vencedor. Cada Estado tem uma quantidade de representantes proporcional ao tamanho da população daquela região. Isso significa que nem sempre o candidato que recebe mais votos é o eleito (como foi no caso desta última eleição).

Entendido o funcionamento do sistema eleitoral estadunidense, vamos aos números: Trump obteve 60.072.551 dos votos, sendo 47,41% do total. Já Hillary recebeu 60.467.601, o que representa 47.72% do total de votos. Entretanto, Trump obteve 290 votos eleitorais, vencendo na maioria dos Estados, sobretudos naqueles situados geograficamente no centro dos Estados Unidos, enquanto Hillary obteve apenas 228 votos eleitorais.

Com relação às análises feitas em cima do resultado, creio que há motivo para acender a luz de alerta, sem, entretanto, cair na frustração e desespero que muitos analistas políticos estão apontado. É fato que Trump realizou uma campanha nacionalista, repleta de marketing para atingir o público interno; afinal, estes são os eleitores. Desse modo, ele defendeu ao máximo os seus compatriotas, com o slogan de tornar a "América" grande e que ele era a melhor opção para defender os interesses dos cidadãos estadunidenses. Com isso, fez discursos machistas, racistas e xenofóbicos com propostas radicais de protecionismo comercial, criação de muro na fronteira com o México, exclusão de muçulmanos, entre outros tantos absurdos. Além disso, o mesmo já conseguiu um feito histórico: uma forte rejeição dentro do próprio partido. Entretanto, Trump ainda não começou o seu governo, de modo que há uma diferença entre falar e agir que deve ser considerada.

O Trump pode ser um bom presidente, desde que faça praticamente o oposto daquilo que foi dito em campanha. Partindo desse ponto de vista, ou ele será um bom presidente mentiroso, por não ter cumprido as promessas de campanha, ou ele será um desastre presidencial, caso realize todas as promessas. Portanto, não será de se espantar caso ele fique no meio termo. Vale lembrar que os Estados Unidos utiliza a tripartição dos poderes como um sistema de freio e balanço, de modo que o presidente não governa sozinho. Em muitas das vezes ele dependerá do Legislativo e do Judiciário, de modo que o poder Executivo não poderá fazer tudo o que quer por si só. Os Republicanos (partido de Trump) têm maioria sobre os Democratas: no Senado (51 contra 48), na Câmara (239 contra 193) e entre os governadores (33 contra 15). 

Obviamente que em um sistema presidencialista a figura paternalista do presidente tem forte influência tanto nos assuntos internos quanto nos externos e aí mora um grande risco tratando-se de Trump. Um passo errado, um discurso acima do limite é capaz de arranhar relações diplomáticas e até mesmo de gerar uma reação negativa em cadeia. O governo Trump é uma incógnita que só será revelada durante o mandato e esse foi um dos diferenciais se comparado com a oponente. Hillary representava mais do mesmo, a velha linhagem da política tradicional. Apesar de ser a mais preparada para o cargo, com ampla vivência, Hillary tem a mancha das mentiras dos casos dos e-mails, enquanto Trump assumiu com orgulho todo o seu preconceito e racismo expansivo. Quando o assunto é machismo Trump trata as mulheres como objeto, mas o marido de Hillary fez algo parecido enquanto presidente dos Estados Unidos. 

Trump representa a figura das novas lideranças políticas que estão chegando ao poder com o discurso de não serem políticos. Temos um exemplo recente no próprio Brasil em que o empresário João Doria foi eleito no primeiro turno para a prefeitura de São Paulo. Desde que comecei a escrever neste canal de comunicação venho alertando para a rápida e crescente ascensão da extrema direita no mundo, com perfis conservadores e fundos de xenofobia e totalitarismo. Pensando nas relações internacionais, a eleição de Trump é a segunda grande derrota do ano juntamente com a saída do Reino Unido da União Europeia.

Para concluir, é necessário respeitar o resultado eleitoral e a soberania daquele povo (mesmo que não seja tão soberano assim). Os estadunidenses desejavam mudança e conseguiram. Resta saber qual o resultado dessa escolha arriscada para o povo que votou e para todos os outros povos que são impactos direta ou indiretamente pelo imperialismo dos Estados Unidos. 


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