domingo, 27 de novembro de 2016

Reflexão sobre a busca pelo reconhecimento

A humanidade vive uma intensa agitação política cuja economia é a causa maior do acirramento de posicionamento, transformando o debate em velhas acusações de direita e esquerda, onde os ânimos se exaltam de maneira acentuada movidos pelo impulso da necessidade e do sentimento de injustiça de modo a agir mais pelo instinto do que pela racionalidade. Não trata-se da deliberação entre o certo ou o errado e sim pela busca do reconhecimento, como já dizia Axel Honneth da terceira geração da escola de Frankfurt.

Sua teoria torna-se ainda mais relevante quando vemos paralisações de importantes vias públicas na luta pela manutenção dos direitos já adquiridos pelos trabalhadores, ocupações de escolas pelos próprios alunos buscando diálogo e participação sobre os rumos da educação ou mesmo nas manifestações nas casas legislativas contra a elaboração de leis oligárquicas que só atendem às elites nacionais. Toda essa experiência e sentimento de injustiça pode ser vista em dois estados distintos muito presentes na política brasileira, sobretudo atualmente: apatia política e conflitos sociais. Não precisamos pegar um grande período de tempo para comprovar essa teoria, basta analisar os últimos meses. 

A apatia política é notada pela falta de vontade do cidadão em participar do processo eleitoral, entendendo este como um sistema representativo de participação indireta que não corresponde às expectativas do eleitor. Há um distanciamento entre o cidadão comum e o político profissional que não age de forma responsiva para com o seu eleitorado. Desse modo, o cidadão participa cada vez menos de atividades sociais, tais como manifestações, debates, partidos políticos, entre outras formas de agir em sociedade. Neste caso o cidadão é apenas uma pequena engrenagem dentro do jogo político supostamente democrático atual, agindo apenas quando lhe cabe agir, como na obrigatoriedade do voto. Mesmo nas participações que lhe são concedidas há um intenso desinteresse, conforme comprovado pelos números de abstenção e votos brancos, como já foi comentado em posts anteriores neste blog. Sendo assim, o pessimismo Horkheimer e Adorno, da primeira geração da escola de Frankfurt, ganha força.

A outra ponta dentre as consequências causadas pela injustiça são os conflitos sociais. Não podemos aceitar o homem como um ser passivo diante dos acontecimentos que o rodeia. Não tem como não se revoltar com os crescentes casos de corrupção que, mesmo com a alternância abrupta de governo, continuam a se espalhar de forma endêmica por todos os cantos do país. Como não sentir o espírito revolucionário nas veias diante de PECs (Propostas de Emenda Constitucional) como a 241 que busca cortar da saúde e da educação ao invés de cortar do próprio governo. Assim, mais uma vez, a estadania se impõe diante da cidadania. Assim também é com a imposição da reforma da educação pelo governo sem qualquer diálogo com alunos e professores que são os principais interessados no assunto. O fato de a maioria reconhecer que mudanças devem ser feitas não tira o caráter participativo e deliberativo tão importantes em uma democracia. O mínimo aceitável seria um referendo, mas nem isso o governo Temer é capaz de fazer, afogado em escândalos em seus ministérios desde a época em que ainda era interino.

Então, caro leitor, o que essas pessoas procuram se não o reconhecimento? Entenda reconhecimento por justiça e não ao conceito de ostentação tão atual nas sociedades escrava do consumo. Tais conflitos sociais se dão não por uma rebeldia sem causa, como alegam as elites nacionais, mas sim pela busca de serem ouvidos, pela busca de que a justiça seja feita de forma plena e não unilateral. Muito se fala em agitação de modo pejorativo, mas os mesmos que apontam o dedo não abrem espaço para que seja ouvida aquela voz. Afinal, se a mídia deve mostrar os fatos como são, então por que ocultar fatos que vão contra o interesse dos mais poderosos? Se a democracia é do povo e para o povo, então qual o real motivo em oprimir suas manifestações (na maioria das vezes pacíficas)?

Como exemplo prático dessa falta de reconhecimento posso citar a empresa em que eu trabalhava há pouco tempo, conhecida também como Tecsis. A empresa vem mandando centenas de trabalhadores embora desde o começo desse ano, alegando o término dos projetos existentes sem a obtenção de novos acordos. Entretanto, o principal acionista disse em entrevista divulgada no youtube que o principal problema da empresa é a gestão. Até aí sem problemas. Afinal, empresas contratam e demitem, isso faz parte do mundo corporativo. Além do mais, má gestão não é uma doença exclusiva da Tecsis. Entretanto, caro leitor, centenas de pessoas foram mandadas embora neste mês sem receberem seus direitos, pois o prazo para o pagamento da rescisão já esgotou. Quantas mães encontram-se aflitas nesse momento? Quantos pais passarão o final de ano com a incerteza da próxima refeição? Acordos são costurados em parcelas entre o sindicato e os patrões, sem a garantia do seu cumprimento. Enquanto isso a empresa centra recursos em sua nova planta situada na Bahia e a comunicação interna da mesma apenas divulga aquilo que é de interesse da chefia, como o aumento no número de seguidores no linkedin. Tal manipulação da mídia para com a massa me faz lembrar do totalitarismo alemão e italiano nos anos 40.

Sinto-me no dever de citar este caso não somente por mim, mas também por centenas de amigos e conhecidos que estão na mesma situação. E o que nós procuramos? Apenas o reconhecimento de quem se dedicou anos pela empresa e que agora se vê pedindo esmolas na porta da mesma. Sem carteira assinada e sem previsão para a homologação. Não, caro leitor, não queremos aparecer. Nada além do que é nosso, nada além dos nossos direitos. E agora lhe pergunto: tais manifestações em busca de reconhecimento seriam ilegítimas? Obviamente que não.

O reconhecimento é um elemento democrático que deve ser respeitado em uma sociedade de direito. Ser reconhecido não é sinônimo de status e sim ter o que é seu por direito. Pois então que seja feita a justiça para todos aqueles que não foram reconhecidos, sem mais, nem menos.

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