terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Reflexão sobre a república dos bananas

Mais uma semana repleta de novidades oriundas, principalmente, do Distrito Federal para o nosso lar. O governo daquele que usurpou o poder com a ajuda da mídia faz novamente manobras (com o apoio desta) para vender ao povo brasileiro a ideia de que as crises econômica e política estão sendo sanadas por sua equipe e que o país está no caminho certo. É incrível pensar tal absurdo. Mais difícil ainda é a opinião pública, influenciada pelos meios de comunicação, acreditar cegamente no que é divulgado. A rotina real da população brasileira é bem diferente daquela idealizada nos templos legislativos e executivos, definitivamente um mundo paralelo.

Pode-se começar a dissertação falando sobre a violência (novamente). A falta de segurança e a sensação de medo não é nenhuma novidade, independente do município em que se vive. Entretanto, o que já era claro torna-se explícito nas ruas diante da ineficácia do Estado. A normalidade aparente dita pelo governo é uma ilusão. Por que comemorar a ida do exército às ruas para desempenhar uma função que não é a deles? Por que comemorar o efetivo da força nacional ocupando um território que eles mal conhecem? Os policiais cruzaram os braços no Espírito Santo e no Rio de Janeiro reivindicando atrasos salariais e reajustes dignos. Mas como negociar em um momento em que os estados estão falidos? Os únicos que ganham com essa situação são os criminosos. 

A presença das forças armadas para fazer papel de polícia não é motivo de celebração. Lamentável o fato dos estados pedirem ajuda ao governo federal por não conseguirem fornecer o mínimo de prestação de serviços para a população. Bilhões de reais desviados sem nenhum retorno social. Pergunto-me aonde foi parar tanto dinheiro e quais os legados da copa e das olimpíadas. A classe política brasileira não consegue administrar sem propinas e desvios. Greve da polícia, mortes, roubos e saques. Nada de novo no "país do futuro", mas a velocidade em que os números avançam é de assustar. Desde o começo do ano relato a escalada da violência, primeiro no Amazonas, depois no Rio Grande do Norte. A pergunta é: onde será o próximo colapso público? Se precisamos da polícia para não cometermos furtos então não podemos nos considerar uma sociedade, pois nem ao menos somos cidadãos, cientes e praticantes de direitos e deveres. Foram 121 mortos e 170 veículos roubados no Espírito Santo nos sete primeiros dias sem policiamento (isso sem contar o trauma). Se precisamos de policiais e da coação para manter o mínimo de ordem social e civilidade, então quem são os animais?

Podemos abranger a discussão para a ilha chamada Brasília, isolada e cheia de privilégios. O excelentíssimo Temer disse, antes de tomar o poder, que sua prioridade seria fazer o dever de casa para melhorar a economia. Repentinamente o mesmo cria novos ministérios. Ele havia dito que faria escolhas técnicas em suas indicações para alavancar o país, entretanto a prática mostra exatamente o oposto: indicações estreitamente políticas, haja em vista a promoção de Moreira Franco para ministro, dando-lhe automaticamente foro privilegiado. O engraçado é que quando se tratou da indicação do Lula houve uma revolta generalizada e celeridade no caso que me causa estranhamento essa demora do judiciário. A única certeza que tenho é que manobras contra a Lava Jato não faltarão porque não existe partido mais envolvido em corrupção como o que aí está; afinal, o PMDB é o "maior" partido do Brasil (que orgulho hein). Cadê as manifestações da classe média e da classe alta para criticar os erros dessa gestão e pedir novas eleições? Claro que os amarelinhos não aparecerão com a camisa da seleção nas ruas nesse momento, pois com as propostas de reforma em andamento quem perderá serão os trabalhadores, aqueles que tem que trabalhar para sobreviver.

A indicação de Alexandre de Moraes para o STF é outra contradição, pois o mesmo teve um desempenho péssimo enquanto ministro da justiça. Inclusive era contra a indicação política para cargos do STF quando desenvolveu a sua tese de doutorado. Por isso digo que o poder sobe à cabeça. O fato é que não podemos acreditar nas promessas feitas pelo governo federal que aí está. O país manchado de sangue e o presidente ainda não escolheu o sucessor de Alexandre de Moraes para o cargo de ministro da justiça. Para encerrar com chave de ouro só falta ele indicar o Renan Calheiros para o cargo porque ministério mais sujo do que esse elenco seria impossível (para quem já teve até Romero Jucá). 

Continuando com o raciocínio, podemos chegar à articulação política feita pelo governo, mídia e grandes empresas que mesmo tendo lucros se dizem em crise para barganhar reformas trabalhistas que só tendem a beneficiar o empresariado. Convenhamos: aumento na jornada de trabalho, terceirização e reforma da previdência sem ao menos consultar os maiores interessados (que são os trabalhadores) é, no mínimo, uma falta de respeito. Tudo em prol da recuperação da confiança do empresariado. Claro, tornando-nos escravos assalariados será muito vantajoso investir no Brasil. E mesmo assim, a Rede Globo rasga elogios às políticas econômicas. Comemorar o que com 12% de desempregados no país? Agora o governo liberou a retirada do FGTS inativo acreditando estimular o consumo. Porém, o cidadão consciente pegará o dinheiro para pagar dívidas e impostos que são exorbitantes no país. Estima-se, de um modo genérico, que metade do preço dos produtos é tributo, variando de mercadoria para mercadoria. Ora, é ilusão achar que mudanças significativas ocorrerão no consumo com 12 milhões de trabalhadores desempregados.

Por fim fica uma série de questionamentos para reflexão: é certo para uma república federativa democrática o presidente indicar ministros para o Supremo Tribunal Federal (instituição maior do poder judiciário)? É justo o foro privilegiado para a classe política? Por que ministros do governo possuem também foro privilegiado sendo que são indicados e não eleitos? Como construir um país melhor se na ausência da polícia uma parte da população fica trancada em casa com medo e uma minoria toma conta das ruas se aproveitando da situação? O jeitinho brasileiro é algo para nos orgulharmos? Por que de escolhas políticas em cargos de extrema importância e que exigem conhecimento técnico e experiência? Por que manter estados cujos governadores não conseguem cumprir suas funções básicas, assumindo publicamente a sua incapacidade em gerir a coisa pública? Existe mesmo tripartição de poderes no Brasil?

Em uma pátria de senhores elitistas somos escravos aprisionados na própria liberdade, voltados para a servidão e para o extrativismo de reservas naturais, pensando com qual fantasia ir para o carnaval. Creio que o álbum Nheengatu dos Titãs retrate bem a realidade e o sentimento das pessoas: "Você também é explorado, fardado! Você também é explorado, aqui!". Seja bem-vindo à república dos bananas, cadáver sobre cadáver, quem vive sobrevive.

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