sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Reflexão sobre a ética

Vários questionamentos se afloram com a chegada de mais um aniversário e assim estou agora em fevereiro. Perguntas existenciais como qual o sentido da vida e como ser alguém melhor para si mesmo e útil para a sociedade movem a mente. Assim, reflexões de cunho filosófico ocupam espaço em meio ao regresso do ser humano em tempos de crise e de governos ultraconservadores com características separatistas e preconceituosas. Desse modo, o pensamento se encaminha para a ética, em busca de respostas e paz de espírito.

A ética é justamente dar um sentido ao ser como é, em busca da felicidade; afinal, a felicidade é o fim das ações sendo o projeto fundamental de uma vida inteira. Podemos conceituar a ética como sendo a realização necessária de fazer o bem e evitar o mal com o intuito de aperfeiçoar a humanidade. Segundo Sertillanges, a ética é a ciência do que o homem deve ser em função daquilo que é. Com isso temos a dualidade própria da vida dentro do caminho a se escolher: virtudes (bem) e vícios (mal). Vamos aprofundá-las a seguir.

Dentre as virtudes básicas podemos citar: (a) prudência (fazer o que deve ser feito e evitar o que deve ser evitado no momento adequado); (b) justiça (direitos e deveres com o intuito de se atingir a proporcionalidade e a igualdade para se viver em harmonia social); (c) fortaleza (magnanimidade em realizar grandes atos e superar obstáculos com firmeza); (d) e temperança (é a medida certa entre o excesso e a falta).

Já os vícios são disposições para agir mal, atitudes contrárias ao bem. São eles: (a) orgulho (busca exacerbada pela excelência, valorizando a si mesmo e menosprezando os outros); (b) avareza (busca desordenada por bens materiais, nem sempre de forma lícita); (c) gula (busca exagerada pelos prazeres da comida e bebida); (d) luxúria (busca desenfreada pelos prazeres sexuais, obsessão pela satisfação individual agindo de forma desrespeitosa); (e) inveja (tristeza pelo sucesso alheio, desejo de que ninguém seja superior a si próprio); (f) preguiça (recuo diante do trabalho e do esforço); (g) e ira (violência contra aquilo que resiste à sua vontade, busca vingança sem medir consequências).

Após a explanação e conceituação dos termos, é preciso entender a ética em seu sentido prático, presente no dia-a-dia das pessoas. A mesma antecede códigos e leis porque é uma ciência que não se impõe aleatoriamente. Para o seu entendimento é necessário sentir por si mesmo e através dessa experiência o ser humano ganha bagagem para definir o seu caráter, criando critérios sobre o agir. Ser prático significa a organização da realidade, percebendo que nela pode intervir e até mesmo transformar. A grande questão é de que modo o fará.

Embora a ética tenha uma base comum às pessoas, a sua construção é pessoal, contínua e dinâmica, como é possível constatar no livro "Ética a Nicômaco" de Aristóteles. No estudo da ética, a consciência significa a capacidade de distinguir entre o bem e o mal e esse ponto é de fundamental importância não só para as escolhas individuais, mas no modo de como cada um se inseri e age em comunidade com as outras pessoas. Pois bem, a humanidade deve redescobrir os valores do bem a cada nova geração, ao contrário de disciplinas prontas postas nas prateleiras das escolas para a socialização. Isso torna a virtude um bem mais trabalhoso e admirável, pois é preciso entendimento e consciência para assim o ser, não bastando apenas conhecer e compreender os fatos. Além da teoria, é também preciso agir. No processo de aprendizagem sobre ética não basta apenas o ensino, sendo necessário também o posicionamento do indivíduo diante da situação apresentada. Isso é o que diferencia cada ser, mesmo sendo irmãos gêmeos univitelinos.

E como ser virtuoso em meio a tantas tentações? Fácil dizer caro leitor, difícil é fazer. Ainda com base no pensamento aristotélico, a virtude encontra-se no caminho do meio para a tomada de decisão. Ou seja, está entre o excesso e o defeito. Assim, a excelência ética se constitui relativamente aos sofrimentos e aos prazeres, ou seja, o meio não é absoluto (varia de acordo com a situação). E agora hein? Para deixar a explicação mais clara aí vai um exemplo: ser amável é a virtude, está situada no meio entre o excesso (adulador) e o defeito (ser desagradável); assim como ser generoso é uma virtude, estando entre o excesso (ostentação) e o defeito (avareza). Temos, portanto, o meio como excelência e as outras duas disposições do caráter como perversão. 

Sei que o caminho é difícil e refletindo logo concluo que tenho muito a melhorar. Às vezes acho que estou fazendo tudo errado e vem aquela incerteza de tempo perdido ao passo que vem a vontade de mudar e agir. Talvez seja esse conflito de sentimento e questionamento racional que nos faça evoluir (ou regredir). Por isso não cabe julgamento e sim uma auto avaliação. A deliberação é sobre o meio para que se atinja determinado fim. Vale lembrar que a ética sofre mutabilidade no tempo e espaço, assim como a moral. 

Aqui cabe abordar um conflito sobre esses dois termos (ética x moral). A palavra "ética" deriva do grego e significa morada, adotada pelos filósofos como costume, caráter; assim como a palavra "moral" que é oriunda do latim. Há divergências sobre se ética e moral possuem o mesmo significado, sendo que alguns consideram a moral sendo um estudo dentro da ética. Para acompanhar o conceito atual trataremos a ética como sendo pertencente aos valores individuais em si (o eu interior) e a moral como sendo os bons modos presentes em cada nicho da sociedade, apesar do fato de que esta última geralmente está embasada através de normatização escrita por meio de leis, decretos, etc, possuindo uma veia jurídica.

Antes de finalizar esta reflexão devo trazer em pauta a questão da ética profissional, hoje muito comum nos cursos acadêmicos e que pouco dizem, voltadas mais ao "profissionalismo" e aos códigos do que exatamente ao ser. Muito se fala de código de conduta e até faz-se um juramento, mas é preciso ter cuidado com as reais intenções por trás das corporações que se dizem éticas. Cansei de assistir ao descaso para com colaboradores, sociedade e meio ambiente de empresas ditas por si mesmas como responsáveis. O código de ética deve ser feita pelos próprios colaboradores e não por terceiros que nem ao menos conhecem a cultura daquele local. Não trata-se de um conceito empurrado goela abaixo. Lembrem-se: por trás do selo de responsabilidade social auto imposta muitas vezes há o departamento de marketing.

Não quero me prender aos conceitos legais. A mensagem principal que pretendo passar é que devemos refletir sobre o que é o certo e como agir da melhor maneira com o intuito de atingirmos a felicidade e assim o propósito da vida, sem afetarmos negativamente terceiros. O erro faz parte do processo e serve de base para a aprendizagem de cada um. Não quero dizer com isso que devemos ser perfeitos, longe disso. Estamos no meio, entre os deuses e os animais, de modo que a perfeição é algo inatingível para nós enquanto seres humanos. Portanto, nossas reflexões devem estar condizentes ao que realmente somos. 

Também deve-se evitar a racionalização extrema, vendo a vida como um sistema lógico em que tudo é passivo de solução científica. Essas mesmas pessoas criam mentiras conscientes, inventando justificativas que vão contra o seu ser de fato. A escolha do caminho está entre a razão e a emoção, de modo que é preciso ter inteligência emocional (e não lógica) para atingir o meio. De tal modo, deve-se levar em consideração a influência de fatores biológicos, psicológicos e sociológicos, assim como o objeto, as circunstâncias e o fim. Refletir é viver, é estar na busca de ser alguém melhor e encontrar o caminho da contemplação. Fazer a coisa certa, como diria o sábio Eric Cartman em uma das canções do Souh Park. É por isso que estou aqui e talvez por isso que você também esteja, e tenha tido paciência em ler todo esse texto.

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