quinta-feira, 9 de março de 2017

Reflexão sobre o imperialismo anglo-saxão

Olá leitor, o tema de hoje nos remete às relações internacionais. É inegável a influência da cultura inglesa, sobretudo no Ocidente. Como exemplo rápido e simples posso citar o idioma inglês que se tornou a língua do comércio e da comunicação mundial, transformando-se assim em linguagem internacional comum aos indivíduos de diferentes nações. Entretanto, esse fenômeno não é recente. É bem verdade que há uma hegemonia estadunidense atualmente, mas essa influência vem desde o início do capitalismo quando a Inglaterra ditava as regras. Vamos tentar entender, por meio desta reflexão, quais as bases para o imperialismo anglo-saxão.

Antes é necessário entender brevemente a origem histórica inglesa, o que nos remete ao século V quando os bretões celtas, que viviam na Inglaterra, pediram ajuda aos anglos, saxões e jutos (povos germânicos e dinamarqueses) para protegê-los de ataques inimigos após a saída do Império Romano do território. Com o tempo os visitantes tornaram-se mais poderosos do que os locais e com isso tomaram o poder. Assim os aliados tornaram-se inimigos invasores e mantiveram o controle da região até o ano de 1066 quando forças francesas invadiram o local (foi a última vez em que a Inglaterra foi dominada por forças estrangeiras). Entretanto, os anglo-saxões foram responsáveis pela criação da identidade inglesa após a dominação romana. Como legado é possível citar a língua, característica fundamental de um povo. Do anglo-saxão chegamos ao inglês, aperfeiçoado ao longo do tempo.

Em 1707 foi criado o Reino Unido da Grã-Bretanha e dessa união há o fortalecimento da cultura inglesa, expandindo sua influência pelos quatro cantos do globo, como é possível verificar em algumas de suas antigas colônias, tais como EUA, Canadá, África do Sul, Índia, Austrália e Nova Zelândia, tendo o seu auge na Revolução Industrial no século XVIII. É possível afirmar que a hegemonia inglesa durou até o início do século XX, quando o seu filho EUA, após a Primeira Guerra Mundial, toma o trono mundial para si, perdurando até os dias de hoje.

O poder é expansionista, quanto mais se tem mais se deseja. Segundo Carr, teórico das relações internacionais, enquanto houver potências insatisfeitas com o status quo (distribuição do poder em determinado momento histórico) haverá guerras, como, por exemplo, foi o caso das guerras mundiais em que a Alemanha e os EUA disputavam a herança da Inglaterra. Assim também foi após a Segunda Guerra Mundial, quando a União Soviética e os Estados Unidos travaram a chamada Guerra Fria (que será alvo de reflexões futuras neste blog).

Desse modo, é possível relacionar o imperialismo com a guerra, entendendo que a guerra é a continuação da política por outros meios e vice-versa quando soldados são trocados por diplomatas. Como poder político internacional podemos citar os poderes militares, econômicos e sobre a opinião. Sim, a propaganda e o controle da opinião pública é uma forte ferramenta de adesão para os planos imperialistas de expansão, também conhecido como controle das massas, onde o governo usa a sua força e influência para obter apoio. A hegemonia da classe dominante passa pela manutenção da sociedade civil e da cultura, de modo que discordar daquele regime torna determinado ato mal visto, gerando isolacionismo e preconceito. A contestação em si é entendida como rebeldia sem causa sendo alvo de críticas e até mesmo de punição.

A identidade comum é o fato de todos aceitarem um caminho sem questionar, caracterizando-se pela imposição e repressão. A guerra é o imperialismo das classes dominantes tentando sanar a partilha global de acordo com os seus interesses, objetivando territórios e seus respectivos recursos. Assim foi com a Inglaterra e assim é com os Estados Unidos, sobrepondo a sua agenda no cenário internacional. Um caso recente desse imperialismo do capital foi a Guerra do Iraque em 2003, quando os EUA (liderados por George W. Bush) invadiram o território iraquiano alegando a existência de armas nucleares, contrariando a declaração do Conselho de Segurança da ONU que, após vistorias, chegou à conclusão de que não havia nenhum tipo de arma de destruição em massa no Iraque (fato reconhecido pelo próprio Estados Unidos após a invasão). Ou seja, os estadunidenses colocaram a sua política antiterrorismo acima da agenda global, com o interesse claro de obter campos de petróleo (afinal é o petróleo que faz mover suas máquinas de guerra) e com a intenção de apagar o vexame de não ter capturado Osama Bin Laden na época, alegando ser mais uma Guerra do Golfo.

Em um país que ainda herda o pensamento da ditadura sob forte influência estadunidense, os anarquistas e socialistas são vistos como a escória da humanidade. Porém, há de se ressaltar que algumas das greves sindicais organizadas por anarquistas no começo do século XX, a Revolução Bolchevique e a construção do Estado Soviético foram dos principais movimentos contra a hegemonia capitalista ocidental dos países desenvolvidos, batendo de frente contra as potências europeias. Parece-me óbvio que as ideias marxistas serviram posteriormente como fachada para a ascensão de líderes cruéis e autocráticos (poder ilimitado e absoluto) como foi o caso de Stalin e de muitos outros. Mas nem por isso as teorias marxistas e seus conhecimentos científicos devem ser deixados de lado para entendermos o poder e sua relação com os Estados e com a sociedade.

Para Lênin, os Estados são instrumentos da classe dominante que empreendem guerras por razões essencialmente econômicas, trazendo um viés além do que foi pensado pelas linhas teóricas liberais (cujas análises são voltadas para as instituições) e pelas teorias realistas (cujas análises são voltadas para o Estado). Os sistemas internacionais buscam mitigar a incerteza e o oportunismo de suas relações com terceiros, pois os Estados possuem informações limitadas e agem de acordo com a sua racionalidade. A integração internacional se faz por meios econômicos e sociais. Quando estes vão mal ou quando as discussões adentram o campo político surgem conflitos. Sendo assim é possível destacar a comunicação, o transporte de mercadorias, as finanças e o trânsito de pessoas como agentes da integração global, onde as ONGs (Organizações Não Governamentais) ganham destaque.

Há de se ressaltar que forças internas como militares, diplomatas e empresários podem influenciar na característica geopolítica de um país e, consequentemente, em suas políticas externas. É possível citar a ocupação das Ilhas Malvinas pela Inglaterra como uma ação imperialista moderna na América do Sul. O Brasil teve até que pagar para a Inglaterra para ser independente. Portugal se submeteu aos ingleses pelo apoio de suas forças navais. Na América Latina (local em que os Estados Unidos considera como o quintal de casa) a influência estadunidense é sentida desde a influência jurídica (lembrando que já nos denominamos como Estados Unidos do Brasil), política (quando os o governo estadunidense apoiou ditaduras no continente para barrar a ameaça soviética), econômica (com empresas multinacionais espalhadas pelos países americanos) e até mesmo cultural (substituindo o francês como segundo idioma ensinado nas escolas). No Brasil especificamente é possível citar a influência da Fundação Ford apoiando ciências pouco aplicadas no país como a antropologia e a própria ciência política, pois eram mais suscetíveis à intervenção dos EUA, ao contrário da sociologia que tinha uma forte influência francesa.

O principal ponto positivo que posso destacar desse imperialismo anglo-saxão foge um pouco da política, pois é a música (mais especificamente o rock). Mesmo assim, minhas principais influências nesse campo são o punk e o grunge, correntes do rock que de certa forma vão contra as práticas adotadas pelo próprio país de origem das bandas. Como sugestão de bandas internacionais fica a dica: Rage Against The Machine, System Of A Down, Pearl Jam, Bikini Kill, Sex Pistols, Dead Kennedys e The Clash. E mesmo assim somos "forçados" a ouvir muito lixo pop anglo-saxão, influenciando muito lixo pop nacional. Fica como reflexão: muitos Estados tentaram perpetuar seu poder a nível global ao longo dos séculos, sendo que a maioria fracassou, como foi o caso do Reich nazista e do Fascismo italiano. Entretanto é possível afirmar que existe uma hegemonia política, econômica, cultural e militar anglo-saxão há, pelo menos, quinhentos anos.

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