Um ano após iniciar as postagens neste blog venho hoje refletir sobre o que se passou nesse período. Lembro-me que no primeiro post, referente ao impeachment, disse ser a favor do impedimento e demais punições ao governo federal, desde que tais medidas não fossem isoladas e que a Lava Jato agisse com justiça punindo todos os culpados, independente de cargo ou partido. De um modo geral, por enquanto mudaram as estações e no fundo nada mudou, como diria a Legião Urbana.
Para constatar tal cenário de inércia basta começar por cima e ver o topo do executivo e legislativo: Temer e companhia continuam no comando do país, mesmo diante das diversas denúncias de envolvimento em corrupção. Tais denúncias atingem não só as pessoas, mas também partidos, como foi o caso do PMDB, PP, PT, PSDB, para citar os principais envolvidos. Difícil encontrar quem não participou dos diversos esquemas de desvio e enriquecimento ilícito. Tenho em mim que aqueles partidos pequenos que não participaram foi unicamente pela falta de oportunidade, por não fazerem parte do mainstream da política, com raras exceções. A única diferença nesse último ano é que os "coxinhas" da elite agora não saem em massa nas ruas como há um ano atrás para pedir o impeachment de todos os envolvidos em corrupção. Por que será caro leitor? Talvez a resposta esteja nas famosas reformas governistas, que agradam aqueles favorecidos pela má distribuição de renda do país. Onde estão os nacionalistas para protestarem nas ruas com a camisa da CBF contra os corruptos que ainda estão no poder?
O problema é tão profundo que não se restringe à classe política (basta ver o partidarismo adotado por Gilmar Mendes e companhia limitada do STF). A lei é ágil e amiga daqueles que possuem grandes montantes de dinheiro. Eike fora da cadeia, Aécio nem é lembrado mesmo com inúmeras denúncias, Dirceu em casa, Adriana Ancelmo curtindo férias na prisão domiciliar e tantos outros casos que fica difícil de acreditar na imparcialidade do poder judiciário. E são tantas idas e vindas que quando eu terminar este texto talvez novas pessoas tenham sido soltas ou presas. A ligação entre política e direito não se faz apenas no campo acadêmico, mas também nas indicações de políticos para altos postos do poder judiciário. Eis aí um vínculo que ainda não foi quebrado.
Logicamente que é fácil criticar, difícil é fazer. Como apontar o dedo para a classe política se a população continua furando fila, saqueando mercadorias de caminhões acidentados, buscando levar vantagem no trânsito, queimando ônibus, fazendo apologias ao crime organizado? Brasília é o espelho, reflexo da nação que elegeu seus representantes. Então o que esperar de uma sociedade que valoriza vilões e traficantes? Aí está a tão aclamada representação política, cada qual elegendo o ladrão que melhor representa a si mesmo. O voto é elemento de troca e a troca em questão são favorecimentos privados em detrimento do bem público. Enquanto não houver investimentos sérios em ensino, saúde e segurança, continuaremos a mercê do coronelismo e do clientelismo.
A mídia foca na punição (ou falta de punição) aos envolvidos. Entretanto, a minha maior preocupação são os bilhões desviados e não devolvidos aos cofres públicos. Como dito no post anterior, corrupção mata e a população está adoecida, já sentindo os sintomas dessa doença social. O pior é verificar que os governos lutam para manter o poder e o status quo ao invés de propriamente governar. A falta de gestão e de programas de políticas públicas é a causa raiz dos males nacionais. Não adianta sustentar a imagem de um Brasil forte e soberano se vivemos doentes e sobre a dependência de fatores que fogem do controle de cada cidadão.
Em um momento tão crítico é crucial a união das pessoas, fortalecendo a si mesmas. Porém, o que se vê são divisões cada vez mais agressivas e um partidarismo imbecil em que o cidadão esquece sua posição na sociedade como tal e começa a agir em prol de instituições políticas que representam o establishment. Assim, a sociedade civil é cada vez mais enfraquecida por discussões não construtivas. O brasileiro não sabe perder e por isso trata a política do mesmo modo que trata o futebol e a religião: sempre com a certeza de suas escolhas, sendo detentor da razão. Vota em quem pode lhe favorecer de forma individual, vota em quem tem chances de ganhar, mesmo que internamente prefira um candidato outsider. Assim, sustenta sua ignorância na velha disputa entre direita e esquerda, disputa essa que tende a favorecer apenas certas instituições, enfraquecendo ainda mais a sociedade.
O povo se deixa iludir por aquele candidato que come na rua durante a campanha e que faz promessas que jamais serão cumpridas. Há um ano atrás todos concordávamos que o governo petista tinha sido um grande erro, sobretudo devido à continuidade no poder. Mas por que quase ninguém fala do mesmo problema no governo de São Paulo pelos tucanos? Será que a mídia esqueceu dos escândalos da merenda e do metrô? A economia nacional não melhorou, pelo contrário: temos um número maior de desempregados e de pais desesperados. Ué, mas há um ano atrás o problema não era exclusivo da Dilma e com a sua retirada tudo voltaria ao normal?
O pior é que nesse momento difícil muitos oportunistas tentam tirar vantagens. Não basta apenas receber a informação e divulgar como se fosse verdade absoluta, é preciso olhar profundamente e tentar entender o motivo de ser de tais informações (ou falta de informações) em determinados momentos. Não quero formular uma teoria da conspiração, mas em um mundo globalizado as notícias são valiosas para a formação da opinião pública, formuladas para manipular a massa de acordo com determinados interesses. A parcialidade jornalística está cada vez mais explícita, sobretudo pela crise econômica e política. Espero que não sejamos a nova Venezuela (seja de direita ou de esquerda).
É preciso compreender que a política vai muito além dos três meses de campanha eleitoral a cada dois anos. A política está presente em todos os dias da vida de um cidadão, seja no preço das mercadorias, na falta de emprego ou mesmo no investimento inadequado de verbas públicas. Existem várias críticas ao pensamento marxista: poucas coerentes, muitas apenas formuladas pela incapacidade intelectual de formular hipóteses e analisar a realidade. O fato é que desde a ditadura militar, patrocinada pelos EUA em toda a América Latina, é moda criticar um pensamento que não seja o de defesa ao capitalismo neoliberal. Mas, por mais simplista que seja a visão marxista que se resumo à luta de classes, como dizem alguns críticos, é fato que todas as esferas são influenciadas pela questão econômica, independente de qual área seja e que assim as disputas se resumem a interesses de diferente classes. O dinheiro é fator determinante seja na política, na sociologia, no direito, na engenharia, nas indústrias, na vida familiar, na antropologia; enfim, em uma sociedade capitalista tudo vai bem se a economia estiver saudável. E como a economia brasileira está doente, então a sociedade brasileira também adoece.
Reitero aqui, assim como no primeiro post, o lema francês que acredito ser a base para estabilidade social: Liberdade, Igualdade e Fraternidade! Enquanto isso somos os filhos e herdeiros de uma política criminosa encenada em um teatro de vampiros.
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