Mais um ano chegando ao fim. Ou seria o contrário? Aquela correria dos últimos dias, peso de um ano inteiro que se acumula até escrever cada história. Ou seria estória? E assim dias tornam-se meses, meses constroem anos e questões filosóficas permanecem no centro do ser. Em busca de respostas. Quando, onde, por quê? Um calor insuportável logo após horas de chuva. Fé e sabedoria misturam-se tentando encontrar uma resposta plausível. Mas o segredo está nas perguntas certas.
Os quadros nas paredes que há semanas não olhamos. O despertador que insiste em tocar todos os dias. É a conta para pagar, o carro para arrumar, o gato para alimentar, as crianças para buscar, os presentes para comprar. A pressão continua lá, ali, dentro. É essa gravidade que nos mantém presos, é a vontade de voar para longe, para uma ilha pequena e isolada, talvez a Islândia. Por aqui na Terra a rotina continua: é a ameaça de uma nova guerra, mais um político envolvido em corrupção, a distância separando famílias, o dinheiro corrompendo pessoas. Um breve momento de respiro, talvez a fumaça de um cigarro porque no fim tudo são cinzas.
Menos um ano. Ou seria o contrário? A maré continua subindo enquanto a natureza vai acabando. Uma breve oração antes de dormir para acalentar o coração. E quantas pessoas especiais se foram? A saudade seria uma dádiva ou um crime? E assim os carros seguem o fluxo, sem enxergar as crianças embaixo do viaduto. De qualquer modo estamos flutuando no espaço, cada um com sua própria cruz, mas não adianta ficar esperando milagres caírem do céu todos os dias. Ainda há vida para se admirar, sentir a brisa do litoral, ver o movimento das ondas lentamente, assim como na infância.
Jogar conversa fora sem se preocupar com o tempo, analisar o formato das nuvens, doce lembrança em pequenas doses de nostalgia. As pessoas se vão, logo será a nossa geração. Sombras nos cantos do quarto, mas continuamos aqui, continuamos vivos. No final das contas o resultado conclusivo é o mesmo de Sócrates há milênios atrás: só sei que nada sei. A ignorância é o caminho da felicidade, pois quanto mais eu aprendo, mais me sinto acorrentado. Uma noite longa, um sonho perdido. Talvez seja apenas o pesadelo da realidade. Logo passa...
É o filme que eu ainda não vi, a música que você ainda não escutou. Então essa é a hora. Então vá e viva. Se recordar é viver, então é preciso agir para ter o que guardar. Um poema sobre a sua trajetória. Estou tão cansado das grades que a criminalidade nos impõe. Estou tão cansado dos muros que as pessoas constroem. Eu continuo no meu canto, vivendo a vida simplesmente. Essa ostentação alheia que ofusca a visão não nos faz bem, onde os contos desenhados em páginas da internet não refletem os fatos.
Reflexo. O que você vê no espelho? Reflexão. Um momento de pausa diante da agitação das festas. Já posso ouvir o sino do bom velhinho chegando, pena que muitos passarão em branco. Isso não é questão de cor, mas sobre ser humano. Há tantas descobertas lá fora para além das nossas fronteiras errôneas, mas continuamos traçando linhas divisórias. E se o sonho é utópico, pois que seja um longo e lindo sonho até que se torne realidade, vivido pelos outros e depois, e depois. Uma dica de leitura para essa época seria O Mundo de Sofia: "as pessoas se ocupam com coisas pequenas e ordinárias".
E assim segue a humanidade, esquecendo-se de quem é, seguindo sem ter onde chegar. Talvez os verdadeiros sábios sejam os antigos, é preciso tempo para pensar e ter sentido. Não basta acreditar, tem que agir. Uma flor cheia de espinhos na lama. Um tempo necessário para se distanciar e viver sem se importar com o amanhã, nem que seja por poucas horas. A correria dos últimos dias cansa, resta saber se dói o corpo ou a alma. Esforço e coragem para seguir com a convicção de que o caminho é a salvação sem ter a certeza do que virá quando chegarmos. Seguir, mesmo que os obstáculos persistam. Seguir, sem nada no bolso, mas com muito na mente e na alma. Seguir para ser e sentir, pois o coração ainda vale mais do que qualquer cédula ou cartão monetário. O tempo voa...
Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/fantasmas_do_final_de_ano.html
Para finalizar segue a tradução de uma das melhores bandas nacionais deste século XXI. Creio que a letra desta canção resuma os sentimentos de muitos no final de mais um ano:
Diga
Você vê o calor que vem em ondas
Você pensou que iria durar uma noite
Com certeza é uma puta vida
Leve
Tudo o que você pode segurar nas mãos
E talvez você possa usar a sua velha faca
Tenha certeza de que você a revestiu de prata antes
Hey
Lembra de quando eu desapareci?
O gosto para esse preto e branco
Antes que um sorriso perdido voe
As fotos que eu guardei
Um filme que não lembro o nome
Algumas sombras no canto lateral
Um crime aterrorizante
Jogue
A festa que você viu na velha "nova onda"
E talvez você não possa tentar chamar Godard
Mas diga-lhe que é necessário um pouco de sangue
Fale
Você vê o calor e ódio queimando
O barulho e o silêncio divididos
Tremendo da sua cabeça aos dedos do pé
Hey
Lembra de quando eu desapareci?
O gosto para esse preto e branco
Antes que um sorriso perdido voe
As fotos que eu guardei
Um filme que não lembro o nome
Algumas sombras no canto lateral
Um crime aterrorizante
Say (Agridoce)
Nenhum comentário:
Postar um comentário