Em uma sociedade tida como democrática, neoliberal, capitalista e globalizada seria comum a concorrência e consequente alternância de poder em prol da competitividade. Entretanto, em uma oligarquia representativa como a brasileira é possível constatar o monopólio de empresas dentro da esfera privada (nacionais como Petrobrás, JBS, Odebrecht ou internacionais como Coca-Cola, PepsiCo, montadoras automobilísticas, etc.) e a predominância de certos partidos dentro da esfera pública. O resultado é lógico: concentração de poder e desigualdade.
Dentro do âmbito político é necessário fazer um recorte temporal para que esta reflexão não se estenda demasiadamente. Pois bem, partindo do período de redemocratização até os dias atuais (1985-2018) é possível citar a relevância de três grandes partidos dentro do cenário brasileiro: PT (Partido dos Trabalhadores), PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Muito se fala da polarização entre esquerda e direita, azuis e vermelhos, petistas e tucanos, mas pouco se comenta sobre a influência emedebista na política nacional.
Tal predominância do MDB vem desde os tempos da ditadura militar (1964-1985) quando os militares dissolveram todos os partidos existentes criando um bipartidarismo nacional entre o partido do então governo militar ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e a oposição composta pelo MDB que aglutinou membros de outros partidos. Com o fim do militarismo este mudou de nome para PMDB e predominou como maior partido desde então.
Fonte: http://www.caaraponews.com.br/noticia/88726/pmdb-volta-a-ser-mdb
Para comprovar a abrangência emedebista vamos aos dados: (a) 20 senadores são emedebistas de 81 cadeiras disponíveis sendo o maior partido da câmara alta com 25% do total; (b) 61 deputados federais são do partido sendo também o maior da casa - câmara baixa; (c) possui mais de 2 milhões de filiados tornando-se o maior partido do Brasil; (d) 7 dos governadores são emedebistas, o que representa 1/4 do total; (e) o atual presidente do país (cargo máximo do poder executivo) pertence ao MDB; (f) o presidente do senado Eunício Oliveira é emedebista; (g) o presidente da câmara Rodrigo Maia pertence ao Democratas, aliado do MDB dando totais subsídios para sua governabilidade; (h) em 2016 o MDB manteve sua hegemonia sendo o partido que mais elegeu prefeitos em todo o território nacional conquistando 1028 prefeituras.
Vale lembrar que desde a redemocratização nacional, o MDB sempre esteve presente no governo federal mesmo sem eleger diretamente um presidente sendo o fator decisivo na balança para a governabilidade do país em um contexto multipartidário que hoje conta com mais de 35 partidos. Tal capilaridade é notada tanto no poder executivo quanto no legislativo, atingindo os três entes federativos: municípios, estados e União. Trata-se de um partido que domina a política nacional, seja de forma direta por meio das eleições, seja nos bastidores. Portanto, é possível concluir que dentro do recorte temporal feito o MDB é a atual elite política brasileira mantendo o país ao centro, sem permitir que a nação descambe para os extremos.
Fonte: http://domtotal.com/noticia/1260100/2018/05/operador-emedebista-confessa-crime-e-entrega-us-7-5-milhoes/
As principais ocupações dentro do MDB no Congresso Nacional, conforme o artigo "Elite Política Brasileira e a Manutenção do Poder por meio da Oligarquia Representativa: a Influência Emedebista" deste mesmo autor, são de profissionais autônomos e liberais como advogados, empresários e médicos, reforçando as tradições históricas da classe dominante do Brasil composta geralmente por empresários, juristas, latifundiários e militares. Nada de novo na exclusão do povo. Um exemplo é o fato que em 2016, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apenas 14% dos brasileiros possuíam ensino superior completo. Seria a nata política tomando decisões (e omissões) para a manutenção do poder e desinformação da população gerando apatia e conflitos sociais.
É possível notar a continuidade de tradições patrimonialistas, clientelistas, corporativistas e nepotistas reforçadas pelos partidos que predominam o cenário político brasileiro que se utilizam do pretexto de democracia representativa. Como alternativas para combater o desvio da política e do bem público estão: pesado investimento em ensino (qualificação pessoal e profissional) e a participação popular por meio de plebiscitos, referendos, voto não obrigatório e candidaturas independentes. Não há fórmula mágica, apenas vontade política em instalar uma democracia de fato no país e não essa desculpa teórica que aí está para obtenção de interesses privados fazendo da democracia pura demagogia popular de sofistas.
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