As urnas decretaram o fim do 2° turno e a relação dos eleitos agora está completa. É possível ouvir nas ruas os fogos de artifício, os tiros de apoio e as buzinas como se fosse a final de um campeonato ou mesmo final do ano. As escolhas foram feitas e a partir do ano que vem os caminhos serão percorridos. Muitos comemoram como se fosse uma vitória, mas ainda não há troféus ou dados concretos a serem celebrados. Trata-se apenas do "pré-jogo" e de nada valerá o carnaval eleitoral de agora se os eleitos não andarem para a frente. É preciso saber vencer e governar do mesmo modo que é preciso saber perder e fazer oposição, independentemente da cor da bandeira em prol do bem coletivo.
Sem grandes novidades, o Brasil elegeu Jair Bolsonaro do PSL (Partido Social Liberal) como presidente com 55,13% dos votos válidos enquanto que o estado de São Paulo elegeu João Doria do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) como governador com 51,75%. Os números apontam que ambos não obtiveram uma larga vantagem com relação aos seus concorrentes, o que significa que terão de mostrar trabalho para superar as rejeições e conseguirem o mínimo de autonomia para a governabilidade. Parte da apatia pode ser notada pelos não votos para a cadeira presidencial com 21,30% de ausentes, 7,43% de votos nulo e 2,14% de votos em branco.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45757856
Em Minas, Romeu Zema do NOVO obteve 71,80% e no Rio de Janeiro Wilson Witzel do PSC (Partido Social Cristão) conquistou 59,87% dos votos, sendo estes dois as grandes surpresas do 1° turno que se consolidaram. A euforia de quem votou nos eleitos contrasta com a melancolia de quem se sente desamparado no momento. O veredito da população foi dado dentro do determinismo característico do sistema eleitoral e político brasileiro. No final das contas, os eleitos se beneficiaram mais pelo fracasso e rejeição de seus opositores do que por méritos próprios, pois sobraram acusações e faltaram propostas. Por enquanto não há motivos nem para alardes nem para comemorações.
O que passou é passado e agora resta ao país inteiro aguardar os desdobramentos das escolhas feitas. Muitas pessoas colocaram a mão no fogo por candidatos e/ou partidos que agora foram eleitos; portanto, os mesmos devem se prevenir para não queimarem as mãos e a língua. Em um ambiente polarizado a exacerbação é eminente e se faz presente desde as redes sociais até mesmo no seio familiar. Não deixa de ser um passo no escuro sem saber se o que está à frente é terra firme e próspera ou o início de um precipício. É necessário resistir ao menor sinal de retrocesso, sobretudo com relação aos valores humanos.
Fonte: https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/album/2018/10/28/eleicoes-2018-veja-a-votacao-do-segundo-turno-pelo-brasil.htm#fotoNav=1
Os cidadãos clamaram por renovação. O slogan que muitos repetiram foi "mudança já". Mas, na frieza dos resultados, não há grandes novidades. O futuro presidente do Brasil é um deputado de carreira por praticamente três décadas, sendo que os mesmos que votaram nele em âmbito federal votaram também no partido que governa o estado de São Paulo desde 1995 (24 anos de hegemonia tucana). Logo, o discurso do "novo" fica comprometido ao analisar os números que apontam mais do mesmo. É a festa do antipetismo. Vale lembrar que a vida do cidadão é pautada pelas decisões dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) nos três entes federativos (municipal, estadual e federal). Portanto, acreditar na culpa isolada de uma pessoa e/ou partido é pura ilusão.
O PSL é sem dúvidas o grande destaque no geral das eleições de 2018 tanto no executivo quanto no legislativo, sobretudo devido ao sentimento contrário ao establishment brasileiro. Mesmo assim ainda não é possível afirmar que o status quo foi alterado. O PT (Partido dos Trabalhadores) manteve-se forte no legislativo nacional e no executivo nordestino, mas precisa de novas lideranças. Já para o PSDB a salvação foram os governos do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e São Paulo, mesmo assim com grandes dificuldades (com exceção do Paraná). O MDB (Movimento Democrático Brasileiro) sai enfraquecido em 2018. Nitidamente os partidos tradicionais precisam se reinventar. Não à toa houve a ascensão de partidos como PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e NOVO em menor escala, além do já mencionado PSL.
Fonte: https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,resumo-das-eleicoes-2018-bolsonaro-sobe-para-26-em-pesquisa-ibope-e-haddad-candidato,70002497835
Obviamente que a cada ciclo espera-se melhoras, evolução, progresso. É natural do ser humano querer mais. Todavia, tanto entusiasmo inicial pode se transformar em decepção daqui quatro anos. O psicólogo Erik Erikson já dizia no século passado que a esperança é a virtude primordial e indispensável na condição de estar vivo. Sendo assim, é necessário manter os pés no chão para não se perder. Promessas são doces e fáceis, mas atos geralmente são difíceis e amargos, pois é impossível agradar a todos. Em linhas gerais, não tem como ter muito mais do que se tem sem tirar algo do próximo. Esse é um grande desafio para qualquer gestor público, diferentemente do que acontece no setor privado.
Por enquanto o Brasil ainda não é a Itália fascista de Mussolini, nem a ditadura venezuelana de Maduro. Atualmente somos o que sempre fomos desde o fim do período imperial: os Estados Unidos da América do Sul, uma cópia barata dos EUA. Se eles tiveram o primeiro negro como presidente nós tentamos imitar com a primeira mulher. Se eles possuem um demagogo protecionista como presidente, nós acabamos de eleger o nosso. Se eles podem usar armas livremente e mensalmente terem assassinatos em escolas e igrejas, nós também desejamos isso. Se eles estão polarizados entre democratas e republicanos, nós também queremos a nossa própria rachadura.
Fonte: https://www.tecmundo.com.br/internet/133923-15-dias-redes-sociais-faturaram-r-2-milhoes-eleicoes-2018.htm
Estados Unidos da América do Sul ou simplesmente Brasil se preferir. Igual ao que fomos desde a independência: sem autonomia, sem identidade própria, apenas a tentativa de uma cópia geralmente piorada. Inclusive o nome desta nação já foi Estados Unidos do Brasil. Dependência e admiração que só aumentam com o tempo, mesmo quando os próprios estadunidenses não dão muita bola para os tupiniquins que aqui habitam. Pena não termos as bandas de rock de lá como o Pearl Jam. Afinal, o inglês já é a língua estrangeira presente em nossas grades curriculares. Daí para transformá-la em idioma oficial é só um passo, ainda mais em um mundo globalizado. Como diria Cazuza: "eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades. O tempo não para".
Falou tudo! Agora precisamos ver se daqui um ano estaremos em clima de festa ou derramando lágrimas em cima de caixões.
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