terça-feira, 9 de outubro de 2018

Reflexão sobre os resultados do 1° turno

Fim do primeiro tempo e o desenho do jogo político brasileiro já se define. Em uma eleição marcada pela desidratação do PSDB e MDB, o PSL sai como a grande novidade diante dos anseios de uma população que há anos clama por renovação. A divergência prevaleceu diante da união. A polarização entre azuis e vermelhos permanece: de um lado do ringue tem o petismo que há décadas protagoniza a centro-esquerda e do outro o tradicional ódio anti-petista, dessa vez representado pelo PSL (substituindo o PSDB). Uma eleição de ressentimento e medo. A questão é verificar como tais mudanças se comportarão quando os mandatos se iniciarem em 2019. 

Começando pelo cargo de maior visibilidade no país, a cadeira presidencial ainda não está definida, mas tende a Jair Bolsonaro. Caso o mesmo mantenha a mesma votação no segundo turno precisará de apenas mais 4% dos votos válidos. Portanto, está a um Alckmin de distância da faixa presidencial. Tendo-se em vista que o seu eleitor está cristalizado e que historicamente o líder do primeiro turno sai como vencedor também do segundo, então a probabilidade de uma reversão no quadro é possível, mas a vantagem é de quem venceu a primeira rodada. Em um exemplo simplista é como se Bolsonaro vencesse o primeiro jogo da final necessitando apenas de um empate para levar a faixa.

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Fonte: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/eleicoes-2018-datas.ghtml

Os dois candidatos que vão para o segundo turno representam a intenção de 3/4 dos eleitores brasileiros. É preciso respeitar o resultado. O fato é que qualquer um que avance encontrará dificuldade para governar tanto pela situação econômica quanto pelo impasse político diante da necessidade de tomada de decisões importantes e por vezes impopulares. Adiciona-se ao pacote o alto índice de rejeição de ambos. De certa forma não deixa de ser um segundo turno de escolha do menos pior, pois nem sempre quem ganha a batalha vence a guerra. O principal adversário de Haddad é o próprio partido. 

O PSL surfou na onda Bolsonaro obtendo resultados expressivos no Congresso. Na Câmara dos Deputados passou de 1 cadeira em 2014 para 52; no Senado passou de 0 para 4 cadeiras. A ascensão repentina do partido até então nanico assemelha-se ao que ocorreu nas eleições de 1989 quando Collor foi eleito presidente e levou consigo outros membros do PRN, partido de pouca expressão. 

Mesmo assim MDB e PSDB ainda são maioria no Senado com 12 e 8 cadeiras respectivamente. Já o PT será o maior partido na Câmara com 56 deputados eleitos. Articulação política será necessária para a governabilidade. O PP, outro partido atolado em casos de corrupção, manteve-se forte no Congresso com 6 cadeiras no Senado e 37 na Câmara. Todos queriam mudança: mudou, pero no mucho.

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Fonte: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/eleicoes-2018-datas.ghtml

O PT manteve-se estável, pois o impacto negativo dos casos de desvio de verba e improbidade revelados pela Lava Jato foi sentido nas eleições de 2016. O ônus em 2018 veio para o MDB e PSDB, partidos envolvidos em diversos escândalos de corrupção cujos casos foram publicados amplamente somente depois da exposição petista de 2016. Caciques como Romero Jucá e José Serra mal apareceram no cenário nacional. O próprio Aécio teve que se rebaixar para tentar ser salvo pelo foro privilegiado (estratégia que deu certo). 

Já o PSL quebrou recordes de votação em São Paulo com Eduardo Bolsonaro para federal e Janaina Paschoal para estadual, ambos próximos da casa dos 2 milhões. A insatisfação popular elegeu os dois filhos de Bolsonaro aumentando o patrimônio da família, impulsionou o partido, a eleição de vários militares e também trouxe Alexandre Frota. Na verdade, não existe a necessidade de um golpe militar, pois os mesmos estão voltando ao poder por meio do voto. Desde Marechal Deodoro até o Capitão Nascimento, eles sempre estiveram presentes. O problema está na radicalização, não na eleição em si dos militares. Uma ditadura institucional não seria novidade na América Latina e é preciso lembrar que está sendo feita pelas mãos do povo.

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Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/07/veja-calendario-das-eleicoes-2018.shtml

Metade dos estados já definiram questão em primeiro turno para governador. Destaque para a manutenção do PT no Nordeste e as surpreendentes campanhas de Márcio França em São Paulo e Witzel no Rio de Janeiro levando as disputas para o segundo turno. Menções honrosas de um modo geral para as campanhas do PSOL, PDT, REDE e NOVO que ampliaram os debates e opções sem apelar para o extremismo e/ou baixaria.

Quando o resultado é favorável ninguém questiona as urnas, do mesmo modo quando um time é campeão ninguém reclama do árbitro. O fato da maioria decidir um rumo não significa que esse caminho seja o melhor. O século XX já mostrou que a concordância plena, irrestrita e totalitária é capaz de causar grandes danos. A divergência e diálogo são essenciais para a construção de uma relação saudável. O novo traz convulsão e euforia no primeiro momento, mas as consequências podem ser trágicas. Se mudou para melhor ou pior é uma resposta que virá consolidada no final de 2022. Latino é assim, gosta de emoção em detrimento da razão, deixa tudo para depois, para a última hora, no último capítulo da novela.

A tal da representatividade ficou de lado, talvez para depois. Em um país cuja maioria é pobre, negra e feminina há um certo descompasso com os eleitos e o responsável é o próprio cidadão. Não adianta se iludir: enquanto o sistema estiver assim estruturado não haverá mudanças profundas. Enquanto isso o voto continua obrigatório, as candidaturas continuam atreladas aos partidos, os filhos continuam herdeiros políticos, as reeleições continuam para a manutenção do poder, as filas continuam para a votação em um sistema cujo cidadão elege o senhor que irá comandar o barco pelos próximos anos. Trata-se de uma relação de submissão, desigual e restrita a um determinado período, sem participação e deliberação de fato. Os generais continuam na confortável sala de comando enquanto soldados e militantes morrem nas ruas. Quem quer a paz?

Um comentário:

  1. O resultado do primeiro turno, em sua maioria de votos, é fruto da influência dos meios de comunicações e principalmente pesquisas do Ibope. Eu não tenho dúvida nenhuma de que o resultado e candidatos seriam outros, caso não houvessem manipulações causadas por estes meio de comunicação.

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