domingo, 30 de setembro de 2018

Reflexão sobre o 7 a 1 político

A relação entre política e futebol é grande e estreita conforme já demonstrado em post anterior. Fanatismo da torcida (eleitores), agrupamento de uma parte de semelhantes dentro de um mesmo time (partidos políticos), transformação da paixão (ideologia) em consumo e marketing, compra de jogos (e votos), corrupção nas instituições (CBF, FIFA, PSDB, MDB, PP, PT, etc), copa a cada quatro anos (igual as eleições federais), estádios superfaturados sem utilidade pública ou privada (elefantes brancos), obras intermináveis e por aí vai. Mesmo assim tanto o futebol quanto a política são capazes de fornecer meios para o desenvolvimento humano.

Todo dia há um novo 7 a 1 no Brasil e agora na reta final dos campeonatos, assim como da eleição, é importante refletir sobre presente, passado e futuro no tocante a resultados e conquistas. Tendo como base a fatídica semifinal entre Brasil e Alemanha na Copa do Mundo de 2014, será traçado um paralelo-comparativo para análise do contexto atual. O primeiro gol (erro) é achar que política só é feita no período eleitoral. Do mesmo modo que o mundial de futebol é consequência do trabalho de quatros anos, assim também é com a política. Simplesmente votar e reclamar não resolve problemas.

Fonte: https://diplomatique.org.br/produto/poster-edicao-marco-2018/

O segundo erro (gol) é culpar somente a classe política. É impossível desfazer o vínculo entre legislativo, executivo e sociedade. Cobrar os eleitos sem cobrar boa conduta de si mesmo e do próximo para com a coisa pública é um cartão vermelho de prepotência e falta de autocrítica. Nós também fazemos parte do jogo, nós também somos culpados. Do mesmo modo que é a torcida que paga ingresso, compra camisa e ajuda o time a vencer, assim é com o cidadão. Só vaiar e xingar sem cantar, aplaudir e incentivar não leva time algum à vitória.

O terceiro gol (erro) é achar um culpado para tudo e para o todo. Não adianta mandar o técnico embora sem mexer na equipe do mesmo modo que não adianta impedir somente o presidente se os demais continuarão com a prática de ilícitos. A falha conjuntural não é de um só, seja treinador, atacante, presidente ou partido. Em contrapartida, o quarto erro (gol) é buscar um herói para resolver todos os problemas com um chute ou com um passe de mágica. Do mesmo modo que não existe um só culpado também não existe um salvador da pátria. Personificar o erro é uma falha nas duas faces.

Fonte: https://orelhasdevidro.com/2018/06/14/futebol-e-politica/

O quinto gol (erro) é ser o dono da verdade. Sabe aquele cara mala que sempre tem razão? Sempre sabe qual o modelo certo do time jogar, sempre sabe quem o técnico deve escalar, sempre acha que o seu voto é o melhor e que todos os outros estão errados. E pior: quer impor as suas vontades e supostas razões para o demais. Assim já termina o primeiro tempo levando uma goleada de 5 a 0 jogando em casa. Calma caro leitor que ainda tem o segundo tempo.

Apita o árbitro, mas é sempre goleada no Brasil. O sexto erro (gol) não demora a acontecer: é a falta de diálogo, a falta de respeito para com a opinião alheia, o preconceito para com a torcida adversária, a ignorância ao usar a boca e os dedos e se esquecer de usar os dois ouvidos e o cérebro. É a ofensa para com o diferente, é não resolver o problema com conversa partindo para o confronto com quem está do lado oposto ou com a camisa de cor diferente.

discutir politica e diferente de discutir futebol - Política e futebol: ‘Com brasileiro não há quem possa’ Por Carlos Lopes
Fonte: http://www.polemicaparaiba.com.br/politica/politica-e-futebol-com-brasileiro-nao-ha-quem-possa-por-carlos-lopes/

O sétimo gol (erro) está na não fiscalização, na apatia após a decepção do resultado, no abatimento do revés sofrido. É ligar o botão do "tanto faz" e copiar o errado mesmo sabendo que aquilo não é certo, é fazer porque todos estão fazendo, é furar a fila porque todos furam, estacionar em vaga proibida, passar o sinal vermelho, pegar para si o que não lhe pertence configurando apropriação indevida de bens. Tornar a corrupção uma prática comum presente na rotina do cidadão brasileiro. Uma goleada, verdadeiro massacre.

Resta um gol no placar. Um a favor depois de sete contra. É o gol da capacidade de renovação, da segunda chance. É o gol que resta, que sozinho pode não significar muito, mas é o gol que permite corrigir erros, parar com as más práticas. Pesquisar mais, analisar melhor. É o gol que pode representar uma melhora no futuro. É o gol do voto consciente visando não só a si mesmo e sim o bem comum. É a vergonha que leva à reflexão e avaliação servindo de combustível para o aperfeiçoamento. Afinal, a união faz a força.

Briga na arquibancada, na própria torcida, no campo com o apito final do juiz, no término da eleição. É preciso aprender a perder para vencer na etapa seguinte. A política está em tudo, inclusive no futebol. Não dá para apagar o Mineiraço de 2014 assim como é impossível deletar o Maracanaço de 1950. Não dá para apagar a ditadura militar de 1964 assim como é impossível deletar os casos de corrupção. É preciso aprender com os erros passados para a construção de uma sociedade mais civilizada. Não adianta protestar contra a corrupção com o logo da CBF no peito.

A culpa não é do futebol do mesmo modo que a culpa não é da política. Todo dia há um novo 7 a 1 nas escolas, postos de saúde, delegacias. Às vezes o problema está no esquema tático: ao invés de 3-4-3 funciona melhor o 4-4-2. Às vezes o problema está na sede pelo poder, na reeleição, no voto obrigatório, no sistema de troca de favores, no foro privilegiado, na discrepância de salários, na marginalização do ensino, no sucateamento dos hospitais. Às vezes o problema é o sistema que corrompe e não a política em si que traz diversos avanços para quem a utiliza bem.

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