terça-feira, 25 de setembro de 2018

Reflexão sobre o voto útil e a terceira via

Uma chuva de pesquisas de intenção de votos para os cargos majoritários (maioria dos votos sem necessitar do quociente eleitoral) cai sobre o eleitor. Senador, governador e, sobretudo, presidente. Semana passada o ex-presidente FHC (Fernando Henrique Cardoso) soltou uma carta ao público refletindo sobre a possibilidade de uma união do centro por meio do voto útil em prol de uma terceira via. Portanto, a reflexão sobre tais temas se faz relevante.

A fonte primária para o voto útil (e consequente construção de uma terceira via) são as pesquisas divulgadas amplamente todas as semanas. Sobre as pesquisas eleitorais há de se ressaltar que os respectivos resultados representam uma fotografia do que já passou tendo-se em vista que a divulgação se dá em um momento posterior ao recolhimento dos dados. 

É preciso destacar que as informações ali contidas não retratam uma verdade absoluta estando sujeitas a mudanças ao longo do tempo. Fatores como debates, discursos, entrevistas, propagandas e denúncias podem interferir diretamente no processo de consolidação do voto. As próprias pesquisas podem influenciar na decisão dos cidadãos não cristalizados.

Fonte: http://dagobah.com.br/cinco-mitos-sobre-partidos-politicos/

O voto útil é aquele que representa uma forma de combater o êxito de uma campanha que não agrada determinado eleitor. Portanto, trata-se de uma estratégia que visa enfraquecer um oponente ao invés de reforçar um posicionamento. A grosso modo seria agir movido pelo o que não gosta. Isso não significa necessariamente abrir mão de uma campanha que o representa, pois o indivíduo pode saber o que não quer mesmo sem saber o que quer. Neste caso, o voto útil se aplica perfeitamente. 

O risco está em definir o voto com base em dados que nem sempre representam a realidade. O número de indecisos e abstenções são fundamentais nos cálculos e projeções para um eventual segundo turno. A tentativa de maximizar o voto com base em uma perspectiva futura esvazia os figurantes impedindo-os de uma maior relevância. Tal cenário pode não se concretizar, sobretudo devido ao fato das pesquisas serem quantitativas. Mesmo seguindo as normas científicas, o método quantitativo isolado não é capaz de contemplar uma abrangência social. O ideal é equilibrar pesquisas quantitativas com qualitativas, conforme já mencionado em posts anteriores.

O recomendado é votar naquele candidato/partido que melhor representa os programas desejados (caso tenha). As plataformas de governo escolhidas devem ser aquelas cujo eleitor se identifica, pois o fruto de sua decisão tem o prazo de oito anos para senador e quatro para os demais cargos eletivos. Abrir mão daquilo que acha certo para o duvidoso pode gerar arrependimento em um curto período de tempo. A melhor alternativa é aquela cujo voto faz com que o eleitor fique de consciência tranquila consigo mesmo.

Partidos receberão R$ 1,7 bilhão para campanha eleitoral, informa TSE
Fonte: http://www.oobservador.com.br/noticias/partidos-receberao-r-17-bilhao-para-campanha-eleitoral-informa-tse,23429.shtml

A terceira via ganhou força devido à polarização política na qual o país está submerso desde 2014. Um eventual segundo turno presidencial entre Haddad e Bolsonaro dificultará a governabilidade de quem quer que seja, pois a rejeição já é grande de ambas as partes. Independentemente de quem vença nessa situação, a polarização política permanecerá ultrapassando as barreiras de 2018. Nesse sentido, a terceira via seria um modo de favorecer outro candidato, preferencialmente o terceiro colocado que no caso é Ciro Gomes para romper a dualidade antagônica existente. O intuito é nobre do ponto de vista de pacificação nacional, mas o voto útil em prol de uma terceira via não garante a vitória desse determinado candidato podendo resultar em uma fragmentação maior após a desconstrução entre candidatos que poderiam ser aliados no segundo turno.

Existem diferenças fundamentais entre os dois primeiros candidatos: Bolsonaro questiona a urna antes do resultado, mesmo tendo sido eleito pela mesma por quase três décadas. O seu vice, um general da reserva, cogita um autogolpe se necessário para a elaboração de uma nova constituição por notáveis, deixando a sociedade e seus representantes às margens do processo político. A incerteza da campanha extremada do PSL (Partido Social Liberal) põe em risco a manutenção da dita democracia brasileira. Ou seja, de uma oligarquia representativa corre-se o risco de uma tirania personalista.

Já a campanha do PT (Partido dos Trabalhadores) representa o respeito às normas que aí estão. Exemplos não faltam, o que faz com que a campanha de Haddad transmita maior segurança e estabilidade política: Dilma sofreu o impeachment e o acatou, Lula foi condenado e responde preso mesmo sem ter sido transitado em julgado, entre outros casos. Portanto, a campanha do PSL é uma antítese extremada daquilo que representa o seu opositor, por mais erros que o partido deste possua.

Fonte: https://portalcorreio.com.br/saiba-quais-partidos-ja-definiram-apoio-para-a-disputa-pelo-governo-do-estado/

Trata-se de um equívoco grotesco colocá-los como opostos simétricos espelhados dentro do espectro político porque o PT está para uma social-democracia de centro-esquerda enquanto o PSL baseia-se em um salvador da pátria radical e imprevisível de extrema direita. Enquanto o líder das pesquisas foca na questão da segurança explicitando déficits nas demais áreas, as outras campanhas possuem plataformas diversas. Portanto, a questão em si não é a transferência de votos ou uma via alternativa, mas sim a perda de valores. Cada escolha uma sentença.

O voto útil para favorecer uma terceira via é uma estratégia com base nas pesquisas vislumbrando um futuro incerto. É uma ferramenta legítima no sistema eleitoral cujo peso duradouro pode cicatrizar feridas ou abri-las ainda mais. Antecipar um eventual segundo turno pode significar abandonar boas ideias em prol do menos pior. O brasileiro dá grande destaque para a cadeira presidencial, mas este não é capaz de governar sozinho. É preciso equilibrar as atenções para todas as cadeiras disponíveis que serão escolhidas nas urnas e gastar energia naquilo que acredita ser o melhor para a sociedade, sobretudo em um momento tão frágil como o atual.

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