quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Reflexão sobre o lulismo

Meses após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a sua influência política ainda é vasta, interferindo diretamente nestas eleições. Tanto é que o mesmo continua sendo assunto central dos meios de comunicação, bloqueou de dentro das celas uma aliança entre o candidato Ciro Gomes do PDT (Partido Democrático Trabalhista) e o PSB (Partido Socialista Brasileiro), líder na corrida eleitoral até o impedimento da candidatura pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), inclusive transferindo parte dos seus votos para o seu candidato. Por esses e outros motivos é importante refletir sobre o tema.

O lulismo foi um termo cunhado pelo cientista político André Singer que também foi porta-voz da presidência durante o governo Lula e corresponde justamente ao personalismo inerente à tal figura. Muito além do petismo, o lulismo é um movimento que ultrapassa as barreiras partidárias chegando a ser um componente extra dentro da própria polarização política vigente no país. De certa forma representa uma contradição ao passo em que, aliado ao carisma do líder petista, combinou políticas assistencialistas ao mesmo tempo em que garantiu a manutenção econômica e posterior crescimento desejado pelas elites e classes conservadoras, tornando-se assim aliado tanto dos banqueiros e empresários quanto dos pobres e miseráveis.

A força do populismo lulista tornou refém o próprio PT (Partido dos Trabalhadores). Lula conseguiu eleger por duas vezes consecutivas Dilma como presidenta, além de ser o carro-chefe responsável por diversas outras candidaturas regionais. Não à toa os petistas tentam utilizar a imagem do ex-presidente o máximo possível nesta eleição de 2018, mesmo tratando-se de um condenado em segunda instância. Na verdade, para os lulistas, o fato do seu ídolo estar preso não interfere em sua devoção, talvez até reforçando os laços entre ambas as partes.

Fonte: https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/8837/lulismo-o-enigma-desvendado

Sua expressividade na política pode ser verificada na própria oposição extrema por meio de Jair Bolsonaro. Este, por sua vez, construiu sua imagem graças ao posicionamento contrário ao lulismo, caracterizando como antítese ao ex-sindicalista. Desse modo, angariou o apoio daqueles que são contrários e radicais ao petismo e lulismo. Portanto, é possível concluir que a própria ascensão de Bolsonaro se fez às margens da sombra do ex-presidente Lula. 

O lulismo é um movimento independente, fluido e apartidário. A comprovação para tal afirmação pode ser retirada das pesquisas eleitorais cuja fragmentação da intenção de voto após o bloqueio da candidatura do Lula se fez de modo incongruente, pois parte migrou para Haddad, Ciro, Marina e até mesmo existe a possibilidade de uma pequena parte ir para Bolsonaro. 

Portanto, muito acima do petismo existe o lulismo e isso implica em uma problematização explícita de dependência. Desde as eleições de 1989 Lula sempre foi o candidato do PT. Ele sempre foi o líder, o tomador das decisões, a voz final nas deliberações internas do partido, o que naturalmente gerou um vício, uma necessidade lulista, uma dependência que impediu a formação de novas gerações. Lula continua querendo o poder, continua concentrando as atenções e decisões, fator que também não ajuda a independência do partido. Se tem algum beneficiado nessa relação é o próprio Luiz Inácio, inclusive atrasando a candidatura presidencial do PT neste ano.

É bem verdade que existem controversas nos processos contra o ex-presidente como a falta de provas materiais e a própria prisão em segunda instância, contrariando claramente o que diz a Constituição Federal de 1988. Lula é uma figura temida pelos adversários e a prisão dele é a única chance que os mesmos possuem de vencer esta eleição, pois está claro que se a candidatura do Lula não fosse indeferida muito provavelmente ele seria novamente presidente da república.

O fato de mesmo com denúncias outros ex-presidentes não serem presos por prescrição ou mesmo outros tantos que aí estão por foro privilegiado também deve ser levado em consideração. Sarney, Collor, FHC, Temer, Serra, Aécio, Calheiros e tantos outros livres enquanto a justiça é rápida contra Lula. Em todo caso, o país necessita de uma renovação ampla.

Fonte: http://www.jornalcorreiodasemana.com.br/sera-o-fim-do-lulismo/

Lula é a figura central da política nacional há décadas, para o bem ou para mal. Os oito anos em que o mesmo foi presidente representou o período de maior desenvolvimento do Brasil desde a redemocratização e isso é inegável. Quem não se lembra do então presidente dos Estados Unidos (maior potência mundial invejada por muitos brasileiros) Barack Obama dizendo que ele era o cara? Membros da ONU (Organização das Nações Unidas) questionam a prisão do Lula. Amado por uns, odiado por outros. Mesmo ciente da inexistência da imparcialidade é preciso realizar uma análise distanciada das emoções e pensamentos pessoais.

A vitimização não o ajuda em sua defesa, mas seu papel e desempenho no cenário político internacional certamente já entrou para a história seja pela redistribuição de renda tirando milhares da extrema pobreza em seu governo, seja pelos incentivos no ensino superior, seja pela construção de moradias para os mais desfavorecidos, seja pelo Mensalão, seja pela repulsa aos petistas, seja pelas denúncias de desvio. 

Quantos cursaram uma faculdade, possuem moradia graças às políticas públicas de seu governo ou foram favorecidos (direta ou indiretamente) pelos programas de crescimento econômico? Cuspir no prato faz parte da cultura brasileira de esquecimento da própria história, mas deve ser relembrado dentro do contexto em si. É fato que a falta de fiscalização gerou desvios exorbitantes, assim como em todos os outros mandatos do passado e do presente. É bem verdade também que a partir de 2014 não houve continuidade nas boas práticas, apenas nas ruins. Nem herói, nem vilão, mas sim um ser humano repleto de erros e acertos que carrega consigo milhares de seguidores, além de si mesmo em detrimento de outras causas.

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