quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Reflexão sobre a intolerância social e política

Cheio por fora, vazio por dentro. Ausência de sentimentos. Indivíduo doentio de uma sociedade doente. Como explicar o que está no ar, mas não se pode tocar? É possível sentir o cheiro do rancor, a saliva da raiva, é possível ver manifestações de ódio e de medo. Trancados no próprio lar, irmão atacando irmão. Quando os índices de violência e intolerância estão elevados é sinal de conturbações e tempos difíceis. Como uma praga que se espalha e o diálogo já não é mais suficiente. Atitudes descontroladas desregulam a serenidade.

Cheio por fora, vazio por dentro. Divididos, separados. Uma outra forma de pensar, o repúdio à faca. Armas são armas, mesmo que pela boca ou próprio punho. Seja na passeata eleitoral, seja na briga de trânsito. Quando o ser deixar de ser humano então o que resta é chorar. Um animal qualquer agindo pelo instinto repleto de impulsos, talvez nem isso seja natureza. Vence quem gritar mais alto e então todos gritam: gritam com a boca, gritam com os dedos, gritam com os caracteres, gritam com os cartazes, gritam nos microfones para os apoiadores. Cortinas e espetáculo, pão, circo, mortadela e coxinha. Tem para todos os gostos. Todos querem a razão, todos querem estar certos, todos querem falar, mas quem restará para ouvir? Uma análise, uma ideia, um posicionamento divergente, mas infelizmente as palavras coerentes se perdem no calor das acusações.

Fonte: http://www.folhadomate.com/noticias/politica/acirramento-politico-evidencia-intolerancia

Cheio por fora, vazio por dentro. Repulsa, repugnância, ódio. De repente o que já estava polarizado torna-se um tsunami. Aonde estava o cidadão civilizado nesse momento? A discordância passa a ser sentença de condenação. A tal democracia brasileira mostra-se imatura, frágil e indefesa. A pergunta que se faz é: quem vai protegê-la? A pauta é insegurança, a pauta é falta de saúde, a pauta é o péssimo desempenho do ensino, a pauta é a destruição do meio ambiente. Todos querem respostas seja qual for a temática. Racionalização exacerbada. Dentro do acirramento político, quem sairá vitorioso? Como uma guerra com baixas de ambos os lados, todos perdem e a vitória simplesmente inexiste, assim como ocorre desde 2014.

Cheio por fora, vazio por dentro. Dedos de todos os lados, uma trincheira sem soldados. A culpa é dos caminhoneiros, a culpa é da esquerda, a culpa é da direita, a culpa é da previdência, a culpa é de quem vota, a culpa é de quem é eleito, a culpa é do outro. Não existe um próximo na sociedade do aqui e agora em que tudo é ao mesmo tempo para o "eu". "Eu" e que quem for contra é inimigo. O simplismo popular em busca de heróis e vilões. Levar vantagem é a prioridade das exigências. O depois nunca chega porque não há espaço para tolerar o diferente, o oposto, mesmo que seja o próximo. Eternamente o país do futuro, de um futuro que parece distante. Nem tudo está perdido.

Cheio por fora, vazio por dentro. Acaba o respeito, vem o medo. A emoção transforma virtudes em vícios. A imperfeição humana é natural, estranho seria se fosse ao contrário. Mas e agora, o que será feito entre a cruz e a faca? Não compreender diferentes pontos de vista é não compreender a si mesmo. E assim continua o Brasil a passos largos querendo ser alguém que não é, um primo rico do norte, talvez europeu. Bancos repletos de dinheiro, mas o bolso está vazio. Já estamos cansados de desilusões. Promessas não cumpridas, esperanças mal alimentadas, plataformas sem governos, Estado falido, conflitos não resolvidos. Talvez uma liquidação seja a solução, um corte profundo perfurando a própria pele. 

Borracha, mudando a intolerância de palavra para a tolerância — Fotografia de Stock
Fonte: https://pt.depositphotos.com/48702717/stock-photo-eraser-changing-the-word-intolerance.html

Cheio por fora, vazio por dentro. Museus ruindo, cultura em chamas, ladrões livres, honestos presos, alienação via aplicativo, vida virtual, realidade online. O contato pode ser nocivo, pode ser prejudicial. O toque pode ser a transmissão de uma doença, raiva, ira. Malas cheias, cuecas também. Mas os cofres públicos estão no negativo. Talvez vender tudo seja a solução. Isso mesmo, vamos privatizar! Já dizia Raul: "a solução é alugar o Brasil!" Falta de capacidade em olhar nos olhos e conversar. Errar é humano, persistir no erro por quinhentos anos é tolice. Nada de novo na árvore nacional cujo descaso firmou raízes de intolerância. A desinformação é a desconstrução.

Cheio por fora, vazio por dentro. Falta comida, falta água, falta moradia. Porém, mansões proliferam sem comprovantes de pagamentos, pode colocar na conta do povo! Pessoas proliferam como baratas em dias de calor, pode colocar na conta do Estado. E assim todos se eximem da culpa, lavando as mãos como Pôncio Pilatos há dois mil anos. O contrato social foi rompido, está em chamas. Armas nas mãos, armas são a solução! Calma. Soco em ponta de faca. Falta de cuidado, falta de atenção e carinho. Respire. Enquanto isso continuamos terceirizando o que realmente importa: a formação do ser humano. 

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