domingo, 11 de novembro de 2018

Reflexão sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é o principal evento dentro da agenda acadêmica dos estudantes do país até o ensino médio. Tamanho peso chega a ser desproporcional dentro do grande calendário cujos estudantes são submetidos ao longo do período escolar. Basicamente, em dois dias os alunos colocam em jogo o destino de uma vida de estudos até então. Ou seja, duas provas que buscam aferir o conhecimento adquirido em mais de dez anos em salas de aula.

O ENEM foi criado em 1998 objetivando inicialmente avaliar a qualidade do ensino nacional com ênfase ao período do ensino médio. Sob a responsabilidade do Ministério da Educação (MEC) e realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), o projeto logo se desenvolveu para o ingresso de estudantes no ensino superior. Atualmente, o seu resultado serve como porta de entrada para as principais universidades públicas do Brasil por meio do Sistema de Seleção Unificada (SISU). 

Fonte: http://noticias.universia.com.br/cultura/noticia/2017/11/02/1156370/5-dicas-dia-prova-enem-2017.html

Também é utilizado para o ingresso em instituições privadas e faculdades no exterior como, por exemplo, algumas universidades portuguesas. Através do processo seletivo é possível obter bolsas (parciais ou integrais) pelo Programa Universidade para Todos (PROUNI) ou conseguir financiamento estudantil por meio do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES). Portanto, a abrangência do exame se ampliou de forma considerável, impulsionada, sobretudo, pelas gestões federais no início do século XXI. Para se ter uma ideia, o ENEM é considerado o maior vestibular do país e o segundo maior do mundo, segundo o RankBrasil (ficando atrás apenas da China).

O mesmo foi concebido inicialmente para somente um dia de prova com 63 questões. Posteriormente, o número de questões pulou para 180 e uma redação dividindo-se assim em dois dias de exame. Alvo de algumas polêmicas como temas abordados e denúncias de vazamento de questões marcam a história do exame que busca se aperfeiçoar com o tempo. A problemática aqui não é o método de prova do ENEM em si, mas o sistema de avaliar mais de uma década de estudo do aluno em apenas algumas questões diversificadas em dois dias de aplicação do exame. 

A responsabilidade e, consequentemente, a pressão embutida nos ombros dos jovens é enorme. O resultado final das provas pode não condizer com a carreira estudantil do aluno. Defendo um modelo de meritocracia que leva em consideração a vida acadêmica do estudante, seja integral (contemplando os ensinos fundamental e médio), seja por meio de um corte (levando em consideração apenas o desempenho durante o ensino médio). O método de avaliação por duas provas gera um acúmulo de assuntos e estresse, sem contar os gastos públicos com a realização do evento. É necessário investir na ampliação de disciplinas do ensino médio para o período integral com mais prática de esportes, jogos lúdicos, planejamento familiar, economia doméstica, noções de manutenção residencial, introdução ao direito, etc; e não a compactação de disciplinas com redução de investimentos.

ENEM 2019
Fonte: https://edemocracia.camara.leg.br/expressao/t/gabarito-enem-2019/59048

Uma análise de desempenho por aluno de acordo com sua vida acadêmica daria subsídios para investimentos mais robustos nos conteúdos e recursos de sala de aula (incluindo o professor, principal ferramenta neste processo). O acompanhamento semestral representará muito mais a realidade do que apenas dois dias. O ingresso ao ensino superior deve estar atrelado aos resultados anteriores obtidos por cada aluno, incluindo no pacote não somente as notas em si, mas também o fator comportamental. Não adianta ir relativamente bem nos testes e agredir colegas, depredar o patrimônio público ou desrespeitar professores e demais funcionários. O foco deve estar no conhecimento e não na decoreba. Para tanto, é preciso haver monitoramento para auxiliar o estudante e fiscalização na rotina escolar.

O ENEM é um processo que está em constante transformação em busca da melhoria contínua. A autonomia de suas autarquias deve ser mantida, ao contrário da interferência defendida pelo presidente eleito sobre questões da prova. Cada um no seu quadrado, desempenhando as funções relativas à sua respectiva caixinha e respeitando o trabalhado desenvolvido pelas entidades responsáveis. Entretanto, condicionar o ingresso às universidades por meio do desempenho curricular anterior do estudante é um processo mais justo para todos (alunos, professores, governo e instituições de ensino).


Um comentário:

  1. Concordo plenamente! Eles optam por algo mais prático, quando na verdade deveriam investir mais tempo e dinheiro na educação. Cobram alunos de tirarem uma boa nota de corte quando na verdade nunca deram o ensino necessário para tal. Qualquer aluno que quiser ter uma nota razoável no Enem, precisa estudar por fora, ou algum cursinho, ou estudo em casa, tem que se virar, porque infelizmente o que é ensinado nas escolas públicas hoje não chega nem perto do que é cobrado nas provas do Enem.

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