sábado, 13 de janeiro de 2018

Reflexão sobre o capital

Meia-noite: os cães ladram enquanto sirenes quebram o silêncio da madrugada. Mais uma casa invadida, mais um carro roubado. Não é à toa que os números de furtos e roubos aumentaram na região de Sorocaba segundo reportagem do Cruzeiro do Sul referente a 2017 (dados oriundos da SSP - Secretaria de Segurança Pública). Meio-dia: trabalhadores em casa enquanto os lobos almoçam nos melhores restaurantes (margem de lucro maior com a retirada de direitos alheios). Notícia da semana na Uol: agência Standard & Poor´s rebaixa novamente a nota do Brasil (sinal de incerteza e descrédito - estes fundamentais para investidores). Ué, mas a culpa não era só do governo anterior? E as reformas? A mídia em geral divulgou que nunca houve tanta corrupção como agora. Cadê os panelaços? Não adianta dizer que é coisa do passado: a sociedade é dividida por classes e movida por castas. God save the capital!

Se antigamente a tirania dava-se pelo poder de poucos, hoje não é diferente. Tem-se a concentração de dinheiro nas mãos de poucos, verdadeiros déspotas da atualidade. Segundo Robert Dahl, poder é a capacidade de influenciar alguém a fazer algo que, de outro modo, não faria. Então disseram os capitalistas: "façam-se as leis (conforme nossos interesses)". Segundo Max Weber, o sistema capitalista precisa da devoção à vocação para fazer dinheiro. Os capitalistas gritaram: "faça-se o consumo (exacerbado)". E assim os reais interesses (ou segundas intenções) escondem-se nas entrelinhas. A legalidade é o uso da força (seja de direito, seja de fato) cujo objetivo é manter e/ou aumentar os privilégios da classe dominante. Basta abrir a janela para constatar tal realidade.

Fonte: http://coletivolute.org/2017/05/o-capital-como-relacao-social-de-producao.html

A defesa do trabalho livre legitima o capitalismo a explorar o trabalho por meio de obrigações e submissões. Há uma nítida diferença entre vender para comprar (subsistência) e comprar para vender (investimento objetivando o lucro). A utilidade passa a ir além do sustento e do necessário (para quem pode). Não se trata de coitados e favorecidos (pois a unanimidade plena é alienação); apenas as coisas como elas são. Mas quem é essa elite que usurpa o poder? Segundo Marx, os capitalistas são os possuidores de certa quantia de dinheiro que lhe permite explorar o maior número possível de trabalhadores para desobrigar a si mesmo a qualquer tipo de trabalho (intelectual e, sobretudo, manual). Ou seja, o sonho americano patrocinado há décadas pelos estadunidenses. Ou, se preferir, "A América para os americanos", conforme Donald Trump. 

A confusão se faz nas categorias intermediárias, onde o assalariado continua assalariado, mas perde sua identidade, como em cargos administrativos e técnico-especializados. Desse modo, os capitalistas disseram: "faça-se a classe média". Os mesmos defendem o interesse e vigilância daquele que o contrata (conforme a lógica atual, nada mais justo não é mesmo caro leitor?). Já diziam os ídolos dos capitalistas atuais (Taylor, Fayol, Ford): a divisão do trabalho faz-se necessário para aperfeiçoamentos nos processos, ganhos produtivos, fracionamento do conhecimento e (obviamente) aumento nos lucros. Será que tais conceitos continuam tão antigos ou ultrapassados assim? 

Fonte: https://www.ocafezinho.com/2016/06/02/fagnani-reforma-da-previdencia-visa-atacar-os-trabalhadores-e-favorecer-o-capital/

Estabelece-se a hierarquia salarial cujo atingimento do ápice da pirâmide será somente para os que seguirem exatamente as regras dos dominantes (ou os que nascerem em berço de ouro). Portanto, é correto dizer que a classe média está entre a burguesia e proletariado, conforme Marx. O problema em questão nos dias de hoje é a crise e a consequente redução da classe média. A pergunta é para onde eles irão, tendo-se em vista que houve um aumento considerável no número da pobreza no Brasil nos últimos anos. Os de cima não querem ceder espaço e largar o osso; afinal, historicamente uma classe não abdica do trono. Resta a porta dos fundos.

Mercadorias humanas da própria humanidade. Exagero? Basta irmos à definição: mercadoria = objeto não consumido por quem o produz, sendo posto à venda ou troca. Vende-se a mão de obra, aluga-se as ferramentas das mãos. Mas tudo isso livremente caro leitor, a Constituição nos garante. Inclusive, a tentativa de flexibilização pelo governo Temer na fiscalização de condições análogas à escravidão estava sendo tecida dentro da lei (dos homens). A disputa entre empregador e trabalhador passou a ser trabalhador contra trabalhador. Nada fora da curva, pois de acordo com a lei do mercado há um equilíbrio entre demanda e oferta, não é isso? O ponto de partida é a acumulação prévia: centralização e concentração. 

Mais dados para que você se mantenha atualizado caro leitor: segundo o IBGE, a chance de um filho de classe A continuar nela é catorze vezes maior do que um pobre ascender; 25% da população brasileira (mais de 50 milhões de pessoas) vivem na pobreza. Isso não quer dizer que os mesmos não conseguirão chegar lá e viver o sonho americano, mas o caminho será mais tortuoso e demorado (se chegar). São apenas vidas não é mesmo? A formação de um exército industrial de reserva é útil para o capitalista, pois significa matéria humana sempre disponível e explorável. Por isso não investir em educação, por isso não reduzir a desigualdade. O abismo só aumenta. Por isso incentivar o aumento contínuo da população: mão-de-obra barata e abundante. 

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx#/media/File:Karl_Marx_001.jpg

Vale ressaltar que os verdadeiros capitalistas são os grandes empresários, proprietários de grandes latifúndios, donos de multinacionais e não aquele trabalhador que tem o seu pequeno comércio na esquina, uma pequena porção de terra para a agricultura, o autônomo ou MEI. Os grandes capitais derrotam os pequenos por meio da concorrência, seja por meio de fusões ou da simples competição dos preços, levando o elo mais fraco à falência. Assim surgem os cartéis, oligopólios, monopólios, etc. Assim também nasce a corrupção, o clientelismo, o nepotismo...tudo está interligado. Quem tem tem, quem não tem não tem. Basta se encaixar em uma das partes. Vale destacar o aspecto geral; afinal, como todas as leis da vida, aqui também existem exceções. 

Para encerrar deixo aqui uma frase daquele barbudo cujas ideias permanecem presentes e influenciando muita gente (incomodando a tantos outros), mesmo todos sabendo que suas máximas são reflexivas e não verdades absolutas: "O capital veio ao mundo suando sangue e lama por todos os seus poros", Karl Marx.

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