quinta-feira, 29 de março de 2018

Reflexão sobre a Guerra Fria do Século XXI

A Guerra Fria persiste, viva na sociedade internacional como há décadas não ocorria. Imagino qual seria a reação de um viajante do tempo que se transportasse até os dias atuais. Mais do mesmo? Basta abrir o jornal e se deparar com notícias de espiões russos, testes de misseis nucleares na península coreana, guerra comercial propagada pelos estadunidenses (até então símbolos do neoliberalismo), interferências polarizadas na Guerra da Síria, Turquia saudosa do império Otomano, intervenção federal com atuação direta dos militares no Rio de Janeiro. Ufa, parece que os anos 60 não acabaram.

De um lado os Estados Unidos da América e o seu capitalismo selvagem, do outro a União Soviética e o socialismo autoritário. Nem tanto, nem tão longe. Após a queda do muro de Berlim em 1989 e com o fim da União Soviética em 1991 acreditou-se que a Guerra Fria havia terminado, após anos de polarização mundial entre opostos que disputavam a soberania global desde o término da Segunda Guerra Mundial em 1945. Era o sonho americano se concretizando: exploração mundial, expansão do lobby da democracia representativa pelos países, predomínio dos assuntos estadunidenses na agenda da ONU, poderio militar, econômico e político. Doce ilusão. Os fatos se contrapuseram aos interesses. Já dizia Raul: "sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só".

Não que os estadunidenses não tenham gozada por um período da hegemonia internacional. Com o seu principal oponente em frangalhos, juntando os cacos de uma separação nem sempre amigável, EUA e companhia limitada lideraram os rumos globais sem grandes oposições. A União Europeia ampliava a sua força como bloco, integrando-se totalmente, mais unida do que nunca. É bem verdade que o poder sobe à cabeça, mas também cega. Um urso ferido ainda continuará sendo um urso. 

guerra-fria
Fonte: https://passeinafuvest.wordpress.com/2015/08/21/guerra-fria/

Na América o domínio estadunidense era incontestável, cogitou-se até em criar a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) que seria um passaporte para mandos e desmandos do Tio Sam pelo continente. Em terras tupiniquins, Collor abria todas as portas e janelas, até as entranhas, escancarando um país doente (sobretudo economicamente) para o mundo exterior, quebrando o país internamente. Sempre fomos bons aliados, relação intensificada no começo da ditadura militar de 1964, mas o retorno à escravidão seria demais não é mesmo? Talvez Temer e sua equipe discordem. Enfim...

Estados e sociedades são dinâmicos, agindo mesmo enquanto aparente inércia (basta constatar as manobras da Alemanha no período entre guerras, recuperando-se da Primeira Guerra Mundial e preparando-se para a Segunda). O imponderável estadunidense começou a despontar em 11 de setembro de 2001 e nas posteriores guerras contra o terror, enxergando armas químicas até onde não existiam (Iraque). Teorias da conspiração à parte, o fato é que os EUA intensificaram a sua influência exterior por caminhos tortos. 

O auge para a eclosão da Guerra Fria do Século XXI pode ser entendida pelo viés sociológico por meio de uma comunidade internacional afetada cada vez mais por ideias de isolamento, nacionalismo e enfrentamento ao contraditório. A onda conservadora atinge novamente, já vimos esse filme antes e o saldo foi negativo. Se aprender com os erros é inerente à racionalidade-lógica humana então ou não somos tão racionais como pensamos ou não aprendemos nada. Enquanto isso a China desponta economicamente, mesmo sendo uma nação com obstruções à liberdade, destronando os reis capitalistas em seu próprio jogo. 

Guerra-Fria
Fonte: https://conceitos.com/guerra-fria/

A União Europeia começou a balançar com as crises migratórios e econômicas (sobretudo a grega). O estopim partiu da tradicional arrogância inglesa, querendo mais destaque do que realmente tem e votando pelo Brexit. Avisem a rainha que o Século XIX já terminou. Enquanto isso, a Rússia crescia com Putin, um ditador moderno que caça e posa aos jornais. Determinado em suas próprias convicções de uma Rússia grande, tomou a Crimeia por meio de uma Guerra contra a Ucrânia em pleno quintal europeu. Um verdadeiro czar contemporâneo. O mundo apenas abaixou a cabeça e aceitou (lembrando a anexação dos Sudetos por um alemão de bigode). Na Guerra da Síria novamente a Rússia deu as cartas, salvando o seu aliado e transformando estadunidenses e aliados em coadjuvantes.

O ponto principal para a polarização entre Rússia e Estados Unidos está justamente na eleição de Donald Trump (nada como a democracia representativa não é mesmo?!). Aproveitando-se de um discurso midiático e populista, Trump surpreendeu a todos sendo eleito em meio a denúncias de influência russa nas eleições em favor do mesmo, acusado pelos próprios órgãos de segurança estadunidense (CIA e FBI). Como convencer uma criança a combater o seu ídolo? 

Posteriormente teve o embate entre Trump e Kim Jong Un, dois mimados brigando por atenção e que depois das ameaças terão um encontro e podem até se tornar amiguinhos. Convenhamos: quer ter relevância global e respeito internacional? Desenvolva armas nucleares e entre para o seleto grupinho. Enquanto isso a China cria ilhas artificiais no oceano, dando vazão ao seu expansionismo e atuando como ator principal entre Coréia do Norte e EUA. Quem é que dá as cartas mesmo?

U.S. President Donald Trump shakes hands with Russia's President Vladimir Putin during their bilateral meeting at the G20 summit in Hamburg, Germany July 7, 2017
Fonte: https://br.sputniknews.com/americas/201708149104042-trump-melhor-amigo-putin/

Agora a Rússia vem sendo acusada de matar compatriotas em território alheio, o que gerou uma grande retaliação diplomática conjunta dos seus antigos oponentes, incluindo até a OTAN. O que a Rússia fez? Respondeu na mesma moeda. E assim segue a Guerra Fria, tão quente quanto antes. Vela destacar que a China já lançou o seu primeiro caça invisível, transformando-se não só em uma potência econômica, mas também bélica. O país está aproveitando os rios de dinheiro bebendo na fonte capitalista, atualizando-se e armando-se cada vez mais. Somente EUA, Rússia, Japão e Coréia do Sul possuem tal tecnologia de ponta.

Enquanto isso o Brasil continua imerso em seus próprios problemas, semelhante há décadas passadas, polarizado em busca de uma identidade que corresponda ao tamanho do país. Grande demais em espaço, pequeno demais para as pessoas. A desculpa é o clichê de sempre: a culpa é da oposição e dos socialistas. Nada como um circo armado e um teatro para entreter o público interno. Fuzis nas mãos de civis como celebração.

O erro de cálculo estadunidense com o fim da União Soviética torna-se evidente. Afinal, há tempos os mesmos não tinham tanta concorrência internacional no âmbito político, econômico e militar. Obviamente que continuam poderosos e relevantes, principalmente no Twitter. Não que a inteligência cibernética não seja fundamental em uma sociedade capitalista globalizada, mas é preciso mais do que isso para ter respeito e aliados. Se antes o inimigo era a ideologia comunista, hoje o lobo veste-se de cordeiro, senta-se na mesa com ternos de grife e bebe doses de mercadorias na fonte consumista do capitalismo. Em meio a ditadores e líderes excêntricos, tanto as sociedades internacionais quanto os Estados carecem de humanidade. O futuro é incerto, mas o passado deixa rastros que ao se repetirem podem apontar uma direção.

Liberdade, igualdade e fraternidade (ainda que tardia)!!!!!!

quarta-feira, 21 de março de 2018

Reflexão sobre a polarização social e política no Brasil

É da natureza humana, por meio da racionalidade, agrupar e comparar. De um modo mais filosófico, a vida encontra-se em constante dualidade, muitas vezes pautada por oposição. São vários os exemplos que podem ser citados: (a) razão x emoção; (b) vida x morte; (c) esquerda x direita; (d) nacionalismo x internacionalismo; (e) bem x mal; (f) amor x ódio. A vida é feita de escolhas, construída por caminhos diferentes que levam a lugares diversos e que naturalmente se contrapõem no processo decisório, tendo-se em vista a impossibilidade de onipresença e onisciência inerente da humanidade. A problemática encontra-se quando a simples e saudável divergência torna-se extrema. 

Hoje tanto o Estado quanto a sociedade brasileira encontram-se em uma situação de "oito ou oitenta". Desse modo, a natural oposição transforma-se em uma rivalidade exacerbada e perigosa cuja cegueira impede o desenvolvimento. O avanço das mídias sociais traz consigo o aspecto da pseudo-sabedoria individual em que cada sujeito pensa ser o dono da verdade absoluta e, associado ao fato da anomia cibernética, perfis são criados justamente para plantar a semente da discórdia e tumultuar um ambiente de desinformação e anonimato. O privilégio da racionalidade é justamente a discussão para criar consensos na construção de uma terceira via que seja o meio-termo para a evolução da espécie. Infelizmente tal diálogo resume-se a acusações acéfalas e violentas.

Polarização e imersão online tornam mais difícil uma mudança de opinião política. Foto: Felipe Lima/Gazeta do Povo.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/caixa-zero/mudar-de-opiniao-politica/

Sócrates dizia há mais de dois mil anos atrás: "só sei que nada sei". Sábias palavras. Tamanho autoconhecimento sobre a condição humana diante dos mistérios infinitos do universo não se reflete nos dias atuais. Na internet tal reflexão seria: só sei que tudo sei. Esse fator aliado à agressividade presente no gene humano causa confrontos ao invés de debates. Não é rara a constatação de uma falsa notícia fabricada sendo compartilhada aos montes e na parte superior da suposta informação adjetivos como: idiotas, burros, retardados, etc. Santa inteligência humana; afinal, se tempo é dinheiro e as pessoas já não podem parar para pensar diante da correria do dia-a-dia, basta compartilhar uma notícia que lhe convém e resumir em uma palavra o tema. Concisão maior impossível.

Assim caminha a vida social e política do cidadão brasileiro. Reflexo de tempos em que a pressão e a falta de empatia geram confrontos para dar vazão à insatisfação e desilusão das pessoas. O Estado demiurgo brasileiro continua mais forte do que nunca, burguês economicamente e oligárquico politicamente. Enquanto isso os reles mortais continuam batendo cabeça na esfera terciária, sendo manipulados facilmente, sem consolidar uma opinião pública própria, mantendo-se assim uma sociedade desestrutura com grupos organizados espalhados e muitas vezes totalmente opostos.

Fonte: https://www.ibpad.com.br/blog/comunicacao-digital/analise-de-redes-para-compreender-a-polarizacao-politica-do-brasil-no-facebook/

De um lado os coxinhas, do outro lado os mortadelas. Ambos correm em busca do próprio rabo. Basta apontar o dedo, marcar território, manter um posicionamento (mesmo que sem fundamentos) e pronto: estamos mais animais do que a racionalidade pode supor. Um parâmetro para tal constatação é a morte da Marielle: um dia após o assassinato foram tiradas uma série de conclusões e uma troca de acusações sem fim. Espera aí: morreu uma pessoa assassinada, um ser humano, uma vereadora que representava boa parte da população. Morreu uma mulher, uma negra de origem humilde cuja voz ativa incomodava, e muito, alguém de poder. Subitamente a culpa da morte passou a ser da vítima.

O mesmo ocorreu em Sorocaba quando o funcionário de uma multinacional morreu: de um lado estavam os defensores da empresa, do outro os acusadores da mesma. Mas, e a pessoa que morreu? E a família desse pai que faleceu no trabalho? De repente a empresa tomou o espaço central da discussão, suas normas de segurança, certificados, histórico, reputação no mercado. Quem foi mesmo a vítima? Há nitidamente uma inversão de valores e o eterno jogo de empurra de responsabilidades. Muitos sabem (ou fingem saber) dos seus direitos, mas poucos se lembram das próprias obrigações. A alienação e inércia são de grande interesse para a manutenção do status quo.

Projeto promove nesta quarta debate sobre polarização da política nacional
Fonte: http://portal.ifrn.edu.br/campus/natalzonanorte/noticias/projeto-promove-nesta-quarta-debate-sobre-a-direita-e-a-esquerda-na-politica-nacional

Nesse cenário de fragmentação social é que o Brasil chega para as eleições de outubro. Questões centrais de uma cultura democrática como participação e deliberação foram invertidos para conflito, confronto e intolerância. É a força se impondo, ganha quem falar mais alto em uma competição em que todos tendem a perder. É a discordância calando vozes contrárias. Tal polarização encontra-se inclusive nas principais instituições do país, basta ver o STF em Brasília. De certo modo, o resultado no final do ano é previsível: de um lado bandeiras vermelhas, do outro bandeiras azuis e no meio muita confusão, troca de acusações, tumulto e brigas. É preciso compreender que a imperfeição humana impede uma verdade absoluta e que o unitarismo é contrário à própria natureza da humanidade que se desenvolveu graças à coletividade e espírito de cooperação mútua.

Enquanto a lógica do individualismo, do lucro e do benefício próprio acima de tudo permanecer, o Brasil será o que é. Diálogos são necessários para a construção nacional, programas e propostas diferentes. Entretanto, o extremismo gera polos ativos opostos que se repelem e se enfrentam pelo predomínio da razão e pela conquista do poder. É preciso pesquisar, pensar, conversar e nunca nos esquecermos da fragilidade humana diante dos imponderáveis da natureza. Ou seremos todos juntos, com nossas diferenças que nos une, em prol do desenvolvimento ou continuaremos sendo as ilhas polarizadas da discordância sem críticas construtivas. Por meio do diálogo é possível criar uma terceira via que vai além do "eucentrismo" de ambos os lados. Não precisa todos concordarem em tudo, apenas capacidade de discernimento e respeito.

Anderson, Marielle, Maria, João, Ana, Pedro, Paula, Francisco e tantos outros, presentes em memória, em meio ao caos brasileiro!

terça-feira, 13 de março de 2018

Reflexão sobre o marketing político

A cada dois anos é a mesma cena: interrompemos a programação para a transmissão do horário eleitoral gratuito reservado aos partidos políticos. Nos deparamos com santinhos, outdoors e propagandas constantes nos mais diversos meios de comunicação. Espaço para diálogo entre candidatos e eleitores ou simplesmente demagogia sobre mais do mesmo; seja qual for a estratégia, o meio é o instrumento fundamental para se atingir o fim que é ser eleito. Neste caso, para o bem ou para o mal, lá estará o marketing político como reflexo de uma sociedade pautada em um sistema mercadológico e consumista. Ciente da diferença entre marketing político e marketing eleitoral, aqui será tratado o assunto de modo geral e abrangente. 

O marketing político é uma maneira de gerenciar a comunicação do candidato por meio de um conjunto de técnicas e métodos, com o intuito de evidenciar as virtudes e mitigar os vícios. Esta pode ser: (a) verbal - por meio da fala ou escrita; (b) não verbal - por meio de símbolos; (c) corporal - oriundo da gesticulação e postura. A interpretação e compreensão da mensagem fica subordinada ao repertório (crenças, vivência, comportamento) do receptor, assim como todo processo comunicacional sofre interferência de ruídos (sobretudo em tempos digitais). Mesmo não sendo a mesma coisa, é possível traçar um comparativo entre o marketing mercadológico e o político.

Fonte: http://oraculus.mx/2018/02/09/intercampanas-que-se-puede-hacer-y-que-no/

Ao invés de produtos na prateleira tem-se o candidato e o partido. A lógica é a mesma: busca-se diferenciar o produto (candidato) dos demais de um modo positivo, construindo a imagem de uma mercadoria (partido) útil e necessária, chamando a atenção do consumidor (eleitor) com o intuito da venda (voto) e da fidelização (filiação partidária). A ferramenta SWOT é muito utilizada tanto no âmbito empresarial quanto no âmbito eleitoral; a mesma serve para uma avaliação de pontos fortes e fracos para a construção de um planejamento contendo riscos e oportunidades.

Desse modo, busca-se o ciclo representado pela sigla AIDAS: A - chamar a Atenção; I - despertar o Interesse; D - acender o Desejo; A - levar à Ação; S - obter a Satisfação do cliente (eleitor). Assim tem-se as fases da campanha: (a) introdução - gerar credibilidade da marca (partido e/ou candidato); (b) crescimento - ressaltar as qualidades do produto diante da competição com os adversários; (c) maturidade - consolidação da marca; (d) declínio - reposicionamento (reinvenção, renovação). Importante destacar aqui o papel das redes sociais. A internet derruba fronteiras e a cada ano que passa atinge um público cada vez maior. 

Fonte: http://ventas3e.blogspot.com.br/2015/10/segmentacion-mercados-meta-y.html

Não adianta deixar tudo para a última hora. Tanto o partido quanto os candidatos devem ter um planejamento de pelo menos um ano de antecedência. Obviamente que isso não deve ser configurado como campanha antecipada, mas sim na definição de estratégias, esclarecimento do objetivo, formas de ação, indicadores, equipe e distribuição do orçamento. Uma forma de facilitar o desenho de determinada campanha é utilizando-se dos níveis de planejamento: (a) estratégico - desenvolve uma missão clara, objetivos pontuais e estratégias factíveis de longo prazo; (b) tático - estabelece o "onde" e o "como" cujos gestores planejam as ações em médio prazo; (c) operacional - estabelece "o que" deve ser feito e "quem" o fará em um curto espaço de tempo.

Um dos fatores determinantes para o sucesso (ou fracasso) de uma campanha eleitoral é a questão do orçamento. Este é a ponte entre planejamento e execução aonde nem sempre a campanha mais cara é sinônimo de qualidade e bom desempenho. É preciso saber como utilizar os recursos disponíveis, sejam eles vastos ou escassos. No Brasil criou-se o mal hábito de campanhas extremamente caras em que os marqueteiros saem milionários, muitas vezes com recursos obscuros e ilícitos, envolvendo candidatos, empresários, partidos e marqueteiros em escândalos de corrupção. 

estratégias de marketing político
Fonte: http://www.dosedemarketing.com.br/marketing-politico/

O acompanhamento deve ser realizado de perto, tendo-se em mente que os primeiros 25% dos recursos são os mais difíceis de se obter. As variáveis relacionam-se com o desempenho apontado, sobretudo, por meio de pesquisas de intenção de votos. O intuito do marketing eleitoral é converter o esforço da campanha em votos. Vale aqui destacar a diferença entre cabos eleitorais e militantes, sendo que os primeiros são remunerados (vendedores) e os últimos são voluntários. Ainda sobre as principais áreas entre as funções da mercadologia é possível citar: (a) gerência de produto - campanha eleitoral; (b) definição do preço - aceitação das ideias centrais do candidato; (c) distribuição - logística de material, reuniões e alianças; (d) publicidade - divulgação da marca com o intuito de atingir o público-alvo; (e) venda - dia da eleição, votos.

Como dito no post anterior sobre políticas públicas, é preciso ter como base uma plataforma de governo sólida, sustentável e factível. O marketing faz parte do jogo político e por isso deve ser pautado por ética e transparência, seguindo as regras do jogo. As pesquisas qualitativas são fundamentais para a compreensão da composição e interesse da sociedade. Já as pesquisas quantitativas servem para a análise do cenário e avaliação de desempenho. É preciso ter cautelada nas propagandas e campanhas publicitárias, pois sempre há um interesse (seja implícito ou explícito). Do mesmo modo que não se deve comprar um produto apenas pela aparência ou pelo papo do vendedor, o mesmo aplica-se na política. É preciso pensar e refletir durante o processo de escolha.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Reflexão sobre políticas públicas

Em ano eleitoral não são raros os casos de eleitores cristalizados no vazio. Ou seja, são cidadãos que possuem uma opinião consolidada sobre determinado partido ou candidato mesmo sem se aprofundar na agenda do mesmo. Desse modo, o voto é construído por influência de terceiros, carisma ou ideologia, esquecendo-se muitas vezes de analisar as propostas de cada um. Políticas públicas dependem de escolhas políticas; logo, está intimamente ligada ao período eleitoral, pois será o resultado daquilo que fora proposto e de quem fora eleito para governar.

Não basta conhecer o candidato ou o partido somente. É necessário se aprofundar nos temas defendidos, nas prioridades, argumentos, opiniões de especialistas e dados de modo a viabilizar tal proposta. Para a concretização efetiva de uma promessa é necessário muito mais do que palavras: precisa-se de planejamento estratégico para apontar de onde virão os recursos, qual metodologia será usada, quem fará tal projeto, quem será o responsável por fiscalizar, qual a necessidade social do projeto final, quais são as normas que tratam determinado programa e qual o prazo. Nesse contexto estão inclusos tanto o legislativo quanto o executivo.

Fonte: http://blogdotear.blogspot.com.br/2017/05/politicas-publicas-e-acesso-aos.html

Há uma tradição histórica brasileira no modelo presidencialista populista patriarcal e nesse sentido a sociedade precisa estar alerta. Tal fator não se restringe às terras tupiniquins, sendo um fenômeno mais amplo presente, de um modo geral, na América Latina. Aqui denomina-se atualmente como presidencialismo de coalizão, onde o poder concentra-se ao chefe do executivo, mas mesmo assim o mesmo precisa de alianças e apoios para construir uma maioria no Congresso para fazer com que suas propostas sejam aceitas e sigam adiante, transformando projeto em leis e leis em ação. 

Obviamente que na gestão pública também se faz necessário respeitar regras e etapas. Nesse ponto é fundamental a atuação do legislativo como agente fiscalizador, além das agências regulatórias e do cidadão. É possível citar a Lei de Responsabilidade Fiscal e o seu tripé estrutural: (a) limite às despesas; (b) responsabilização dos administradores públicos; (c) deveres informacionais relativos aos gastos públicos. Afinal, no fim das contas as finanças públicas nada mais são do que o equilíbrio entre receitas (tributos) e despesas (atividades governamentais). Pode-se comparar, de certo modo, a gestão pública com a gestão do lar: se você não se planeja e gasta mais do que deveria certamente terá problemas.

Política é o estabelecimento de um conjunto de estratégias para comandar a sociedade, visando o benefício das pessoas que integram tal comunidade. A grande questão que se discute no meio social e que de certo modo fornece subsídios para o entendimento do não cumprimento eficaz de políticas públicas nacionais deve-se ao fato do Brasil ter se tornado Estado antes da própria instauração de uma sociedade civil de fato (organizada, atuante e pensante). Desse modo, a oligarquia brasileira que se reveza no poder segue modelos fabricados e reprimindo com violência posicionamento inovadores e/ou divergentes. Assim temos, quando muito, um planejamento a curto prazo cujas vistas terminam nas próximas eleições sendo que na verdade as pessoas necessitam de políticas públicas continuadas que apresentem resultados satisfatórios.

Fonte: https://www.insper.edu.br/conhecimento/politicas-publicas/o-papel-das-politicas-publicas-no-desenvolvimento-do-pais/

Vale aqui ressaltar que tanto a lei quanto a ação devem ser uma ordenação da razão em vista do bem comum. Nesse sentido, as políticas públicas devem ser justas, justificáveis, transparentes, úteis e estáveis. Um fator importante a ser lembrado são as gestões mistas por meio de parcerias público-privadas (conhecidas também por PPPs). A intervenção estatal totalitária é um erro, assim como o neoliberalismo puro e desregulado. É preciso encontrar o meio termo entre Estado e instituições particulares. Concentrar o poder em apenas um dos lados é praticamente uma tragédia anunciada.

Uma boa definição resumida para políticas públicas seria integração e inclusão. A engrenagem só trabalha bem quando Estado, sociedade e entes privados atuam conjuntamente para o bem geral. Atualmente muito se fala sobre sustentabilidade; pois bem, políticas públicas nada mais são (ou deveriam ser) do que programas sociais sustentáveis. 

Um bom modelo que serve para uma reflexão sobre o Brasil do futuro é o Estado regulador: trata-se de um modelo híbrido, entre o liberal e o social, onde os órgãos governamentais fiscalizam as ações das empresas privadas dentro do jogo do mercado e concorrência. Como exemplo é possível citar algumas agências já existentes: Anatel, Ancine, Anvisa, ANTT, Anac, entre outras. Não se trata do modelo perfeito, mas sim de um modelo que se enquadra às demandas atuais e serve de alternativa à realidade vivida pelo país.